Enquanto sociais democratas e portugueses, muitos de nós o tomamos como exemplo a seguir pelo seu invejável percurso e pela forma como desempenha as funções que ocupa. Que conselhos nos daria, neste início da nossa formação política, para um dia podermos atingir os nossos objectivos?
Se permitem, daria três conselhos: primeiro, diversifiquem os vossos interesses de modo a ter uma formação que vos prepare para um mundo e uma sociedade mais complexos mas também mais estimulantes. Depois, viajem e tenham experiências no estrangeiro. Formação e atitude cosmopolitas serão fundamentais para o sucesso no mundo do século XXI. Por fim, como disse Kant em “O que é o Iluminismo?”, tenham a coragem de pensar pela vossa cabeça. Não há bem mais precioso do que a liberdade de pensamento.
Conhecendo profundamento várias realidades na Europa/Mundo, qual considera ser o maior desafio e, por oposição, a melhor qualidade dos jovens portugueses face aos jovens de outros países?
O maior desafio é prepararem-se para um mundo mais exigente, mas onde um maior número de jovens tem cada vez mais oportunidades. A melhor qualidade é a capacidade de adaptação a meios e condições diversas. No século XXI, para se triunfar, a capacidade para se adaptar a novas situações será fundamental.
Qual a sua opinião sobre uma futura harmonização fiscal na União Europeia, se será possível a breve prazo e se será um factor positivo para Portugal?
Não será possível uma harmonização fiscal nos tempos mais próximos porque há posições diferenciadas entre os Estados Membros e seria necessário obter unanimidade sobre a matéria.
A Europa tem mantido uma união no que diz respeito a questões económicas. No entanto, no que a questões políticas diz respeito, têm existido algumas divergências. É possível que questões como a independência do Kosovo ou da Ossétia do Sul ponham em causa a união política da Comunidade Europeia?
Não são estas questões que provocam a divisão da Europa. As divisões já existiam. Aliás, é natural que 27 países tenham divergências em algumas questões externas. Porém, passa-se precisamente o contrário. A multiplicação de crises como as que mencionou reforça a unidade da UE. Vejam a crise na Geórgia. Nunca, na história europeia moderna, os outros países europeus tiveram uma posição comum em relação à Rússia, e isso aconteceu no Conselho Europeu, com os 27 países. Numa perspectiva histórica, vejo isto como um progresso e não como uma divisão.
Segundo os analistas e estatísticas, Portugal infelizmente aparece no quadro pior em vários níveis na UE. No entanto, o sucesso dos portugueses no estrangeiro é altamente reconhecido e valorizado. Porque é que os portugueses não conseguem de todo alcançar o êxito no seu país?
Há muitos portugueses com sucesso em todo o mundo, o que nos deve orgulhar. No entanto, não devemos ser injustos para aqueles que tudo fazem, em Portugal, para o país evoluir. Há muita gente com valor e êxito a trabalhar em Portugal. Se por um lado o País enfrenta problemas difíceis, também é verdade que nunca Portugal se desenvolveu tanto como nas últimas duas décadas.
A Europa está a atravessar uma crise sem precedentes, devido aos insucessos da constituição europeia, ou do Tratado de Lisboa. Na sua perspectiva qual a solução? Qual o caminho que temos de seguir para ultrapassar esta crise?
Costumo dizer que um novo Tratado não resolve todos os problemas europeus, a vontade política é sempre indispensável. Pela mesma razão, discordo daqueles que dizem que há uma crise devido ao impasse institucional. É óbvio que há um problema para resolver, mas mais uma vez a vontade e a determinação políticas serão cruciais. O próximo passo será esperar pela decisão do governo irlandês em relação ao que irá fazer, depois do referendo negativo.
Perante a grave crise do Cáucaso e a real ameaça à independência de um Estado, qual a posição que a União Europeia deve assumir?
A UE tomou decisões importantes no Conselho Europeu de 1 de Setembro. No plano imediato, suspendeu as negociações para um Acordo bilateral com a Rússia, até esta aceitar o Plano de Paz apresentado pela Presidência francesa, e enviou ajuda humanitária para as vítimas do conflito. A médio prazo, foi decidido intensificar as relações bilaterais com a Geórgia. A um nível mais estratégico e de longo prazo, todos os Estados Membros reconheceram a oportunidade aberta pela crise para reforçar a ‘dimensão de leste’ da política de vizinhança e uma política europeia de energia.
Os políticos europeus têm medo dos seus concidadãos?
Pergunto isto pois creio que desde o processo falhado da chamada Constituição Europeia, e agora com o "não" irlandês ao Tratado de Lisboa, políticos europeus e cidadãos andam de costas voltadas, parece que os políticos não são capazes de dizer porque é que a Europa unida continua a valer a pena, e porque precisamos de mudar o seu modo de funcionamento?
Quais lhe parecem ser as grandes alterações que a União Europeia provocou (e provoca) nos países membros, que justifiquem a grande vontade de construção contínua deste projecto? (ex: Tratado de Lisboa).
Numa Europa que se encontra em redefinição das suas áreas, estratégias e trunfos no mercado global, quais deveriam ser as melhores apostas das PME's portuguesas num futuro próximo?
Com todo o seu envolvimento na economia a nível internacional, e com uma globalização impiedosa e galvanizante, gostaria de saber como uma globalização tão divergente é ou não um problema actual muito por si, que também o vê de fora para dentro.
Até que ponto a cimeira G8, realizada do Japão, é inovadora? Por outras palavras, esta cimeira acrescenta algo de concreto às anteriores cimeiras? Será assim, tão ambiciosa a esse nível?
Como português como se sente quando pode incentivar iniciativas favoráveis a Portugal mas a bem da democracia comunitária, à igualdade entre países e à independência do seu cargo, não o pode fazer? Já favoreceu a posição portuguesa de forma ciente, ou não, por receio de ser acusado de imparcialidade? Já está habituado a críticas do género?
Recentemente a Comissão Europeia tomou a posição política de se juntar ao grupo G8 no que respeita ao apoio ao controlo de emissão de gases com efeito de estufa, afirmando em paralelo que as iniciativas da UE, e em especial o seu pacote de medidas no domínio da energia, fazendo diminuir drasticamente a dependência de combustíveis fósseis e diversificação do uso de energias alternativas. Que medidas são essas em concreto que refere, e para quando estima que tenham efeitos práticos?
Um dos temas em voga na actualidade europeia é a entrada da Turquia na União Europeia. Gostava de saber qual a sua opinião em relação a este tema, visto que ocupa um dos cargos mais importantes a nível europeu.
Tendo em conta o actual panorama político e económico, quais são os objectivos e os planos que a Comunidade Europeia tem preparados para competir com as novas potências emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China?
Não seria benéfico para a União Europeia que de uma vez por todas se definisse uma única figura como representante da União perante o Mundo, uma vez que após o Tratado de Lisboa essa representação poderá ser feita pelo nosso presidente do Conselho Europeu, pelo presidente da Comissão Europeia ou pelo alto representante para os assuntos externos da União?
Exige-se há muito tempo uma reforma da política agrícola comum, dado a enorme quantidade de recursos que conseme (50% do orçamento comunitário). Considera que com a actual crise alimentar se poderá proceder a essa reforma?
Num mundo globalizado em que a UE proclama a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais como é possível existirem diferenças de preços de automóveis tão acentuadas entre Portugal e Espanha? Como é possível existir um IA que o Governo defende com "unhas e dentes"?
O conflito do Caúcaso esta a causar uma chama de grande instabilidade Mundial falando-se já numa nova Guerra Fria. Atendendo a este facto acha que a Rússia, com o apoio tem dado aos sectaristas internos de diversos países que faziam parte do antigo Bloco de Leste, pretende reatar a política do Pacto de Varsóvia por oposição ao poderio da Nato.
Aproveitando o ambiente social-democrata, que se vive nesta excelente Universidade de Verão, e estando por isso todos em família, pergunto-lhe se pudesse repensar, e de certa forma, voltar atrás no tempo, tomaria a mesma decisão, em relação ao aceitar o cargo de Presidente da Comissão Europeia, na altura em que o aceitou?
Não seria fulcral investir mais e melhor nos jovens empresários com iniciativas empresariais em vez de continuar a investir em empresas de ramos já existentes que, indubitavelmente, não irão ter sucesso? Não é necessária uma mudança de mentalidade? Não é necessário estimular a capacidade intelectual e empresarial dos jovens empreendedores?
No actual contexto da "cosntrução europeia", com a alegada crise institucional decorrente da rejeição do Tratado Constitucional, a opinião pública tem a sensação de que a União Europeia está paralisada, o que é falso. Quais são os principais projectos legislativos e políticos que estão em curso nas instituições de União Europeia?
Considera que o actual conflito no Cáucaso pode criar atritos no seio da União Europeia? Que estratégia propõe para que a União Europeia consiga dar mais um passo na sua evolução e aprove um novo tratado?
Considerando o recente conflito na Cáucaso e a recente tomada de posição da Rússia, qual a forma mais diplomática de agir?
E considerando isso, qual neste momento a relevância e o poderio político-económico que a Europa ou os países europeus detêm?
Estamos a passar por uma crise económica internacional, subidas da taxas de juro, etc.
Quais são os procedimentos que a Comissão Europeia está a colocar em prática para inverter a situação económica no espaço europeu?
O caminho para uma "Europa-potência" terá que passar necessáriamente por um elevado grau de convergência, contudo, o impasse em torno da ratificação do Tratado de Lisboa mantém-se. Que desafios e respostas se exigem a Portugal e à UE numa conjuntura marcada pela crise política no Cáucaso, em simultâneo com a crise económica global?
Sr. Doutor Durão Barroso, brevemente gostaria de lhe perguntar como pode a UE trabalhar no sentido de tornar o acesso a projectos Europeus, nomeadamente os projectos de Investigação Científica menos burocráticos e inacessíveis, uma vez que pertencendo à comunidade Científica temos necessidade de ter investigadores direccionados só para se focarem neste tipo de financiamento, no sentido de minimizar o tempo dispendido por todos em prol da necessidade comum. Obrigada.
O Povo irlandês rejeitou em referendo o Tratado Europeu. O caminho indicado pelo "resto" da UE vai no sentido de voltar a colocar a mesma questão àqueles que a rejeitaram. Não é este um comportamento anti-democrático da UE, de desrespeito à soberania do povo irlandês que não quis o Tratado?
10.00 - Avaliação da UNIV 2008
12.00 Sessão de Encerramento da UNIV
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