António Borges, economista e Vice-Presidente da Comissão   Política Nacional do PSD, iniciou a sua aula às 10h00, com todos os alunos   presentes na sala. A pontualidade marcou uma vez mais a Universidade de Verão. O   economista explicou aos cem alunos da sexta edição da Universidade de Verão do   PSD aqueles que considera serem os problemas fundamentais da economia portuguesa   e os fundamentos para uma nova política económica.
A performance insatisfatória da economia portuguesa e os seus problemas   crónicos foi um dos temas abordados na aula. Para o reputado e experiente   economista, o crescimento económico do nosso país, quando “comparado com o de   qualquer outro país concorrente, é muito mais fraco. E é assim desde há dez   anos”.
António Borges afirmou que os trabalhadores portugueses têm uma evolução   salarial extremamente triste e deprimente”, e acrescentou que “Não pode haver   uma sociedade desenvolvida sem pleno emprego”.
O orador alertou os jovens, que seguiam atentamente a aula, para o fosso que   existe hoje entre as maiores empresas nacionais e a situação dos pequenos e   médios empresários. O Vice-Presidente do PSD defende que enquanto a política   economia for direccionada somente para as grandes empresas não teremos um   crescimento económico sustentado.
António Borges denunciou a política económica profundamente errada que está a   ser seguida em Portugal e alertou para o problema do endividamento externo do   país, considerando que “essa tem que ser uma questão central do debate, porque   está em causa o nosso futuro colectivo”. Por fim, defendeu a adopção de uma   política económica radicalmente diferente.
António Borges abordou ainda a situação difícil que as famílias portuguesas,   bem diferente da realidade de há vinte anos, quando a poupança representava   cerca de 20% do rendimento.
Sobre as prioridades do investimento público, o economista referiu que “para   recorrermos ao financiamento externo temos que aplicar o dinheiro em   investimentos que devolvam um retorno superior ao custo do financiamento externo   (…) e não é isso que temos feito”, disse, ilustrando com o exemplo da construção   de demasiados estádios de futebol, por ocasião do campeonato europeu de   futebol.
Para António Borges, “o mau investimento é um enorme handicap para a economia   e um travão brutal ao crescimento económico”. Urge por isso fazer uma “selecção   criteriosa dos investimentos a fazer”.
O Vice-Presidente do PSD deixou uma mensagem de confiança no futuro das novas   gerações, referindo que geralmente a “inovação rápida vem de gente nova, não dos   que já estão instalados.” Acrescentou ainda que “Portugal nunca teve falta de   empresários. Quando as condições são favoráveis, os novos empresários aparecem   (…) Em Portugal, em quase todos os sectores económicos, há bons empresários e   bons trabalhadores. O problema é fazer com que sejam esses a ter a oportunidade,   rematou.
No final da exposição, o porta-voz de cada um dos dez grupos de trabalho em   que os alunos da Universidade estão organizados teve oportunidade de colocar uma   questão específica ao orador.
No painel da tarde, a aula foi leccionada por Tiago Pitta e   Cunha, membro do gabinete do Comissário Europeu para os Assuntos   Marítimos e as Pescas e responsável pela nova Política Marítima Integrada da   U.E, foi subordinada ao tema “Mar: Um MAR de oportunidades”.
O especialista em assuntos marítimos sensibilizou os alunos para as   oportunidades que a geografia oferece a Portugal, concretamente devido à   dimensão da Zona Económica Exclusiva do nosso país, que é cerca de dezoito vezes   a área continental.
Tiago Pitta e Cunha lamentou que atendendo aos “défices estruturais muito   difíceis de ultrapassar”, o país não tenha uma estratégia adequada para o mar,   apesar de ser essa “a nossa maior riqueza”.
  O orador do painel da tarde   cativou a atenção dos alunos, chamando-os para uma “viagem por um país que se   chama Portugal mas que aqueles que nele vivem não conhecem”.
Tiago Pitta e Cunha afirmou que “as características únicas que nos poderiam   conferir uma diferenciação face a todos os outros países não são aproveitadas   por Portugal.” O orador referiu que “Portugal foi durante muitos anos uma porta   de acesso por mar”. 
Contudo, com o reenquadramento estratégico do país, agora orientado para a   Europa, pela EFTA e mais tarde pela CEE, o mar acabou por ser visto como “um   obstáculo.”
O orador referiu os passos dados pelo Presidente da Comissão Europeia, Durão   Barroso, para que a Europa passe a estar dotada de uma estratégia marítima   integrada, onde Portugal poderá ter um papel preponderante. Na sessão foi   relembrada a insistência de Durão Barroso, enquanto Primeiro Ministro de   Portugal, para que a Agência Europeia da Segurança Marítima se viesse a instalar   em Lisboa, ambição que se concretizou.
Tiago Pitta e Cunha acredita que também “devido às novas tecnologias, à   biodiversidade, às energias renováveis no mar, há cada vez mais uma corrida aos   oceanos”. O orador defende que “Portugal não pode perder tempo e tem que entrar   cedo nesta corrida.” De resto, considera que a geografia é um facto   indesmentível para o nosso país e que, em coerência, a ideia do investimento no   mar, será inevitável.
Depois da usual sessão de perguntas colocadas pelos alunos, Tiago Pitta e   Cunha disse “raramente encontro uma plateia tão entusiasmada e com perguntas tão   pertinentes como aquelas que colocaram. Estão de parabéns por isso.”
O segundo dia da Universidade de Verão teve Leonor Beleza, Presidente da Fundação Champalimaud, como convidada para o jantar   conferência.
Os alunos da Universidade de Verão brindaram à sua distinta convidada e o   Director da UV2008, Carlos Coelho, lançou a conferência instando Leonor Beleza a   transmitir aos jovens o seu ponto de vista sobre o afastamento dos cidadãos da   actividade política, questionando a conferencista sobre qual o papel que um   partido moderno deve desempenhar para que os concidadãos se sintam mais próximos   da política.
    
  Leonor Beleza confessou que embora afastada da actividade   política, continua a ser uma “laranjinha convicta, a sofrer, e também a ter   alegrias pelo PSD.
A oradora dissertou sobre o tema proposto e explicou detalhadamente a   evolução da participação política dos portugueses desde 1974. Apesar de existir   um alheamento de muitos portugueses face à vida política, a ex-presidente do   Instituto Sá Carneiro classificou como positivos os sinais que chegam dos   Estados Unidos da América, onde é evidente a reaproximação de muitas pessoas à   política.
Leonor Beleza usou o tempo da sua intervenção para introduzir as questões   sociais no debate. “Entendo que é importante levar a temática que foi   despoletada pela Dra. Manuela Ferreira Leite para as diversas estruturas do PSD   e da JSD”. Desde a fundação do partido, há causas que estão acima do PSD, e esta   é uma das causas em que todos nos devemos envolver”. A oradora realçou que   “existem muitas questões que todos exigimos e atribuímos à Administração”, mas   que existem muitas formas de chamar à sociedade algumas responsabilidades”.
Numa intervenção multidisciplinar, Leonor Beleza disse esperar dos jovens do   PSD não só a renovação geracional do partido, mas também do ponto de vista   ideológico, “num tempo em que o Estado não pode resolver todas as problemáticas   que se colocam à sociedade”.
Um assunto incontornável da conferência foi a participação das mulheres na   política. A ex-ministra considerou “uma vergonha” que o Governo português só   tenha duas ministras na sua composição. 
  Sobre a Lei da Paridade, Leonor   Beleza admite que “não é o sistema que as mulheres desejam”, mas considerou que   se esse é um ponto de partida, então deve ser aceite.
Sobre o acesso aos serviços de saúde, Leonor Beleza afirmou que, face ao   conhecimento disponível, existe hoje uma diferença real na forma como um cidadão   com capacidade financeira pode sobreviver, e como um cidadão que não tenha as   mesmas possibilidades, pode não conseguir sobreviver. 
Leonor Beleza deu ainda a conhecer aos alunos a missão que abraça como   presidente da Fundação Champalimaud. O objectivo primordial da fundação é fazer   investigação de excelência em Portugal, criando condições para que os melhores   cientistas portugueses e estrangeiros possam investigar na área da saúde,   colocando as novas descobertas ao serviço daqueles que mais precisam. “Na   ciência não existem fronteiras”, disse.
Os alunos dos dez grupos da UV colocaram um conjunto de questões relacionadas   com a investigação científica, com o direito, com o funcionamento e gestão das   unidades de saúde e sobre o acesso aos serviços de saúde.