ACTAS  
 
9/5/2008
Obama versus McCain
 
Dep.Carlos Coelho
- Entramos no único painel oponente da nossa universidade, e como sabem a lógica do painel oponente é, não apenas discutir um tema de actualidade, como permitir a todos vós verem protagonistas de 1º plano esgrimirem argumentos num combate por ideias.

Eu agradeço muito ao sr. General Garcia Leandro e ao Prof. Armando Marques Guedes o facto de terem aceite o nosso convite.

São duas pessoas com imensa experiência e informação, não vou agora expor-vos a carreira militar do General Garcia Leandro que aliás consta das biografias que foram distribuídas, foi entre outras coisas Governador de Macau, nem o extenso currículo académico do Prof. Armando Marques Guedes que até há poucas semanas foi o Presidente do Instituto Diplomático português.

São duas pessoas muito respeitadas e credenciadas nestas áreas, que não apenas nos vêm trazer o seu saber mas aceitaram fazer um jogo de representação. Nas eleições americanas todos nós sabemos que há um problema, é o facto de essa eleição condicionar muita coisa no mundo, mas só os americanos é que podem votar.

O facto de condicionar muita coisa no mundo faz com que cada um de nós tenha a sua opinião. Muitas vezes como nós não temos que votar a nossa opinião não é de A ou B, e quer o sr. General, quer o Prof. Marques Guedes têm relativamente aos candidatos em presença aspectos que acham mais positivos ou que acham mais negativos.

Para o sucesso deste debate aceitaram representar um papel de terem já feito a sua escolha, o Prof. Armando Marques Guedes à minha esquerda representará a candidatura de Barack Obama, e o general Garcia Leandro à minha direita representará a candidatura do senador McCain.

O hobhy à minha esquerda é a paleontologia, à minha direita a escrita; a comida preferida do prof. é bife com ovo a cavalo, do general é linguado grelhado, vemos que o sr. general é muito mais frugal de que o prof. Marques Guedes; o animal preferido à esquerda é o elefante para além das trilobites extintas claro está, o animal preferido à direita é o cavalo e o golfinho; o livro que nos sugere o Prof. Marques Guedes são vários a Bataille Civil da Mistical Missaia, The transformation of polítical community, Ligações Perigosas - conectividade, coordenação e aprendizagem em redes terroristas, e como romance The soft weed factor. O livro que nos sugere o general Garcia Leandro como histórico “O Império Marítimo Português 1415-1825”, e como romance “O Leopardo”, filme que sugere “Blad runner”, à esquerda o “Clube dos Poetas Mortos”; à direita principal qualidade que mais aprecia o Prof. Marques Guedes lealdade, principal qualidade que mais aprecia o Senhor General carácter, sublinhando a honestidade.

Até nas escolhas do retrato falado não há nenhuma coincidência, portanto começamos bem um debate entre duas pessoas que vão representar posições diferentes.

Como é que vamos organizar o debate, vamos primeiro antes de entrarmos na fase de debate fazer um enquadramento rápido sobre questões geoestratégicas que devem estar subjacentes ao nosso debate. O general Garcia Leandro vai fazer o favor de apresentar, é pura informação, ainda não é fase de debate. O Prof. Marques Guedes fará um comentário, espero que já a beliscar o Sr. General. A seguir a isso vamos ver um vídeo que foi construído pelo Rui Sousa com ajuda do Nuno Ribeiro e com a colaboração do Jorge Fonseca Dias e do Nelson Faria, vossos colegas de Universidades de Verão anteriores, filme curto 2m cada, sobre as principais linhas de discurso de Obama e McCain. Ao mesmo tempo estará a ser incluído na intranet a qualquer momento um Powerpoint feito pela Joana Barata Lopes, sobre as diferenças de discurso entre Obama e McCain e também as coincidências.

A seguir a esses filmes vamos entrar na fase de debate que será conduzida da seguinte maneira: os nossos convidados farão intervenções de 15m iniciais, primeiro Obama depois McCain, e a seguir entramos na fase de debate. Na fase de debate, primeiro, há as perguntas obrigatórias e depois as perguntas livres, faremos todas em blocos de duas. Duas perguntas de cada vez dirigidas a ambos os contendores e vamos alternando nas perguntas a ordem, isto é, no primeiro bloco de respostas começará o sr. general e depois o prof. Armando Marques Guedes para compensar a ordem das intervenções iniciais e será sempre alternado, ora começa um, ora começa outro.

E sendo assim, reiterando os nossos agradecimentos aos dois, tenho o privilégio de dar a palavra ao sr. general para o briefing sobre as questões de natureza geoestratégica.

 
Gen.Garcia Leandro
- Em primeiro lugar boa tarde a todos. Quero agradecer ao PSD, na pessoa do Dep. Carlos Coelho, o convite para estar aqui convosco, quero cumprimentar a mesa e o meu opositor conjuntural, o Prof. Marques Guedes, somos muito amigos há muitos anos, e quero felicitá-los a vós, os auditores neste curso, porque estão eventualmente a ser preparados para ser quadros de responsabilidade a nível nacional daqui a uns anos, quer em governos, quer em empresas, quer na vida académica, quer nas autarquias. E é muito importante que conheçam bem os assuntos do mundo, e este curso, esta semana é uma semana importante, e portanto o que nós vamos aqui fazer também é importante, os Estados Unidos são muito importantes para o mundo e para nós. Mas uma nota que eu gostava de deixar aqui é que não há bom especialista, qualquer que seja a área, por melhor que seja a sua competência se não tiver uma ética de serviço público e de liderança. Nós, e eu já o escrevi, mais do que uma vez, a Terceira República de Portugal tem vivido determinadas dificuldades e poderíamos estar noutra situação, que não a actual, se tivéssemos tido outro tipo de líderes e de pessoas que em todos os níveis de chefia tivessem um comportamento ético irrepreensível. E hoje chegamos à conclusão que isso é necessário, já vemos por algumas eleições nalguns sítios como é absolutamente necessário, não chega a competência, não chega a cultura, é preciso ter uma ética de comportamento e de serviço público.

O Dep. Carlos Coelho já disse o que nós vamos fazer, que é algum teatro. Eu diria que estou muito à vontade porque nenhum dos candidatos era a minha escolha. Era na sra. Hillary Clinton que eu votaria se fosse americano. E antes de entrarmos na parte propriamente, eu iria aqui apresentar parte duma aula que eu dou e num estudo escrito que eu fiz, que tem a ver com aquilo que eu chamei “20 sinais premonitórios da mudança da história”. E julgo que nunca estivemos numa época com tantos sinais daquilo que vai acontecer no mundo, é necessário que os líderes e os opinion makers percebam aquilo que se está a passar.

Portanto, eu tenho aqui uns sinais, temos pela primeira vez o mundo em rede, temos como única ideologia a sacralização do mercado, houve a morte das ideologias, hoje só o mercado está sacralizado, não é resposta para tudo, o mercado.

Depois, drásticas alterações climatéricas, a falta de recursos hídricos e energéticos, o terrorismo transnacional e as armas de destruição maciça que juntos é completamente assustador. A emergência brusca ou foi em crescendo novas grandes potencias. A crença que o ser humano tem, que nunca teve antes, que não há limites para a expansão da ciência. O homem admite que pode ser Deus, e que tudo é resolúvel por ele.

Por outro lado, os grandes poderes do passado tinham a capacidade como o Reino Unido quando foi grande império de controlar três factores que lhes dava poder: a tecnologia, a informação e o comércio global. Hoje a tecnologia, a informação e o comércio global estão espalhados pelo mundo. O que quer dizer que cada vez há menos capacidade de uma única potência poder controlar isto.

Depois temos aquilo que é algo que surgiu pós a implosão do império soviético, o desaparecer da guerra-fria, que é o poder das igrejas. As igrejas, na minha perspectiva, todas as crenças fundamentalistas são más, seja o islamismo, seja o judaísmo, seja o cristianismo. Impede um fundamentalismo religioso, impede de se viver em democracia. Porquê? Porque um líder religioso, quem acredita muito em religião é detentor da verdade, é detentor da verdade não pode falar com os outros. Portanto, não é só o islamismo, são os judeus e a parte mais à direita - que não é Roma, não é a igreja católica - do cristianismo.

Depois temos, hoje, - quando eu tinha a vossa idade ou era um bocadinho mais velho li um livro dum homem francês de origem russa, chamado Sergei Tchakotine que falava na manipulação das massas pela propaganda política -, hoje não há ninguém, não há nenhuma organização, nenhuma empresa, nada que não faça propaganda. Nós quando lemos uma notícia temos que perceber que estamos a ser manipulados, o que é que está por detrás daquela notícia.

Depois temos na continuação dos sinais - a demografia. Está a alterar tudo e novas correntes migratórias quer dentro dos países, quer fora. Por exemplo, hoje na China, eu vivi quatro anos e tal em Macau, na altura a China controlava os movimentos migratórios internos, hoje não controla, não controla mais, na Europa não se controlam os movimentos migratórios. Isto altera tudo. Bem como o aumento da concentração urbana. O mundo tende cada vez mais a se fixar em grandes cidades, e grandes cidades. Cidades de um volume muito grande, com grande população, são grandes problemas económicos, mas grandes problemas de inclusão social e grandes problemas de segurança.

Depois os poderes tradicionais da História, alguns dos quais são europeus, estão com muitas dificuldades económicas, dificuldades sociais e isso significa que têm problemas internos. Hoje na Europa estamos com grandes problemas internos.

Temos a nível mundial o alargamento do fosso entre os mais ricos e os mais pobres - que é muito mau. É estranho como é que no século XXI estamos a passar por esta altura.

 Temos aquilo a que eu chamo o “extremismo do desespero”, que são aqueles grupos de pessoas que não tendo nada a perder, não têm nada, são facilmente manipulados por qualquer grupo de extremistas, e estão dispostos a morrer ou a mater por causa disso.

Os Estados falhados, são hoje das maiores ameaças que é uma estrutura de um país que é teoricamente independente, mas não tem massa crítica para ser Estado, não tem organização para ser Estado, não tem quadros, não tem economia. Os Estados falhados são facilmente conquistados por uma organização de terrorismo, ou uma organização de malfeitores. Então são extremamente perigosos. Podia aqui apontar vários que não vale a pena, alguns dos quais são antigas colónias portuguesas.

O confronto entre as grandes potências não acabou. Quando se fala na globalização parece que agora é tudo igual, não. Continua, há aqui um renascer da geopolítica que nós iremos falar, o confronto entre as grandes potências continua a existir. As guerras assimétricas que é um dos problemas que hoje se põe, que países com uma estrutura de forças armadas e o equipamento muito desenvolvido como são os Estados Unidos e Israel têm grandes dificuldades em vencer as batalhas onde estão envolvidos. Porquê?

Porque eles estão preparados para uma guerra de Estado contra Estado, com as armas mais sofisticadas, e vão encontrar pessoas que utilizam explosivos e que auto-suicidam facilmente, e portanto não há comparação entre este tipo de situação.

Depois o relacionamento internacional. As regras quebraram-se. Praticamente há buracos por todo o lado à capacidade de intervenção, bem como nas grandes alterações dos comportamentos individuais. Portanto, o interesse colectivo verso interesse individual. Hoje um de nós, um de vocês pode estar a trabalhar numa empresa no Japão, ou nos Estados Unidos, ou em França, isto passa-se com qualquer país, e depois se o país tiver problemas o interesse colectivo qual é? É o seu? É o da autarquia? É o da empresa do Japão. Portanto, o que se pensa é essencialmente no seu interesse individual.

Portanto, isto tudo em conjunto, vai alterar o funcionamento do mundo Eu creio que a resolução deste problema vai passar por uma redistribuição de poder mundial que foi uma das razões para a intervenção no Iraque. Isso vai acabar de duas maneiras: ou há, como eu tenho à direita, cooperação global com a ONU e organizações regionais; ou não há alternativa e temos uma confrontação com guerras.

Portanto, queria fazer esta introdução para vermos a importância do papel americano neste processo, porque os próprios americanos são actores e também sofrem destas consequências.

(APLAUSOS)

 
Dep.Carlos Coelho
- Prof. Armando Marques Guedes 5m para reagir.
 
Prof.Armando Marques Guedes
- É com alegria que agradeço ao Dep. Carlos Coelho e ao Pedro Rodrigues, aos vários amigos, o Duarte e o Tomás que aqui tenho de há muitos anos e a Maria, e que estou aqui como irmão mais velho do Secretário Geral do vosso partido, com o maior gosto e a maior honra devo dizer. Faço minhas as palavras do meu querido amigo general Garcia Leandro da importância que atribuo à formação de quadros das novas gerações para liderar um partido que, quer queira quer não, está condenado na oscilação democrática normal a liderar Portugal, e eu espero que muito mais tempo do que estes que lá estão neste momento.

Notei com algum sentido de humor, o possível, que o candidato McCain teve oportunidade aqui de apresentar sob a guisa de um quadro geoestratégico o seu programa eleitoral, é natural que o tenha feito aqui, não o fez, não o tem feito durante a campanha de maneira que fê-lo agora aqui. (Risos) E gostava de recuando para a persona ou da persona que estou aqui a assumir de dizer o seguinte: fazer uma confissão, uma profissão de fé. Da mesma maneira que o sr. general Garcia Leandro afirmou aqui, eu sabia-o há muito tempo, ele é presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo do que eu sou um dos vice-presidentes, temos reuniões periódicas conjuntas e como o Sr. general disse, somos amigos há muito tempo, e tenho o prazer, a honra, o gosto de colaborar com ele há muito tempo. Da mesma maneira que ele confessou ser, o que eu já sabia, apoiante desde o primeiro minuto da Hillary Clinton; eu devo dizer que desde o primeiro minuto que vivo uma ambiguidade. Tenho a maior simpatia pelo trajecto pessoal, pelas ideias políticas, pelas características de Maverick, como ele chama a ele próprio, pelo John McCain, e pelas mesmas razões tenho um orgulho enorme no Obama. É difícil explicar como é que eu sinto o orgulho pelo Obama, mas sinto orgulho pela postura, pela multi-culturalidade dele, pela mulher, pelos filhos, pela coragem que ele tem de se expor numa posição que não é fácil.

Devo dizer que a minha posição tem sofrido oscilações. Por exemplo, comprei, não tivesse eu o respeito que tenho pelo McCain, a ideia do McCain e do Partido Republicano de que o Obama talvez não tivesse a experiência suficiente na área internacional, que é a área de eleição pela intervenção dos Estados Unidos e vai ser cada vez mais no futuro, - voltaremos a esse ponto durante a discussão - fiquei muito contente naturalmente e, portanto, subiu a minha opinião sobre o Obama quando o John Biden, que é o equivalente lateral do presidente da comissão parlamentar de negócios estrangeiros portuguesa no senado norte americano, quando entrou o John Biden trouxe uma valência para a campanha do Obama que ele antes não tinha. Tive opinião oposta quando aquela senhora de voz esganiçada chamada Sarah Palin foi escolhida pelo McCain. Por ela ter voz esganiçada, por ela ser uma defensora dos valores da família, e dos valores da moral conservadora evangélica, protestante, fundamentalista, com uma filha grávida de 17 anos.

Tive a maior das dúvidas, o McCain como sabem é casado duas vezes ambas com senhoras divorciadas. Isto com certeza ao partido democrático não faz confusão e com certeza que ao partido republicano protestante nos Estados Unidos também não, se eles fossem católicos certamente far-lhes-ia confusão. Há aqui uma incongruência interna, no discurso, na retórica política por um lado, e na postura pessoal pelo outro que tenho alguma dificuldade em compreender. Estranho muito e queria acabar aqui a descida da Sarah Palin, moral, ética, deontológica do meu ponto de vista ao ela ser da National Rifle Association por um lado e, por outro lado, defender como ela defende a exploração de gás e petróleo em reservas naturais do Alasca, pontos a que regressarei.

Quero acabar a comentar muito rapidamente o que o gen. Garcia Leandro ou senador McCain aqui apresentou: a nova era. Eu tive o gosto, na Revista Oficial Ministério dos Negócios Estrangeiros, de publicar com o maior gosto e agrado este trabalho do general Garcia Leandro.

Concordo com quase tudo, mas como verão no fim, tenho uma visão porventura mais catastrofista que a dele sobre os imperativos sobre os Estados Unidos, sobre a eminência, já toda a gente terá reparado que a coisa não está a correr bem nem no Afeganistão, nem no Iraque, nem na Geórgia, nem na Ucrânia hoje, chegou ontem à noite o Dick Cheney, o vice-presidente norte americano à Ucrânia, sendo que não há governo na Ucrânia parece-me que estamos num caminho quase inevitável de guerra, que vai aumentar o protagonismo dos Estados Unidos, que vai aumentar as dificuldades e ambivalências em que a Europa tem vivido, relativamente à Aliança Atlântica, o que tenho para mim é gravíssimo e que pode alterar muitos destes factores essenciais que o sr. General ou o candidato MacCain aqui apresentou.

Muito obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho
- Muito obrigado vamos agora ver então os dois filmes que vos referi há pouco produzidos pelos vossos colegas e por membros da organização.

 

(Filme)

 

- Foram 2m com registos de intervenções públicas durante a campanha de Barak Obama e John McCain, e vamos então agora entrar na fase de debate com as características que vos referi e vamos começar com o candidato Barak Obama.

Sr. Prof. Marques Guedes tem a palavra.

 
Prof.Armando Marques Guedes
- Muito obrigado. Fico muito contente sendo Obama, neste momento, o primeiro classificado no processo eleitoral norte americano, ser o primeiro a falar, tenho alguma dúvida que não fosse boa ideia ser o John McCain a falar, com a idade que tem ou é agora ou provavelmente não poderia falar durante a campanha.

Presumindo que todos têm alguma ideia de quais é que são as posições relativas dos respectivos candidatos, e sabendo do sr. general, de resto isto resultou duma série de conversas que tivemos e de uma troca de emails que tivemos, uma listagem que foi feita pelo sr. general nas semelhanças e diferenças entre as várias candidaturas, eu não queria estar a cansar-vos desnecessariamente, o que depois ou esvaziava-se conteúdo do que o sr. general, ou então o obrigava a não dizer uma série de coisas relativamente às posições de um e de outro, dos dois candidatos.

Queria começar eu por fazer em termos não descritivos mas mais analíticos, uma diferença que me parece muito mais interessante, uma diferença de fundo entre as duas posições aparentemente opostas dos dois candidatos, o republicano e democrático nas eleições norte americanas, e os quadros políticos habituais em que nos movemos em Portugal. A tentação seria pensar que há um partido republicano que está mais à direita, um partido democrático que está mais à esquerda e portanto o partido republicano é uma espécie de PSD, enquanto que o PS seria o equivalente lateral dos democratas. Isto não é verdade. Pura e simplesmente não é verdade que seja assim.

Muito mais interessante que isto, é pensar que num dos casos está uma ideologia individualista em causa a dos republicanos, por outro lado uma ideologia comunitarista em causa dos democráticos. Nesse sentido, todos os quadros políticos portugueses estariam ora nalguma oscilação do lado dos democratas, ora mais raramente do lado dos republicanos. E digo mais raramente por uma razão muito simples, sendo Portugal um propenso, desde pelo menos o século XIX ou finais do século XVIII, a golpes militares, todas as mudanças políticas foram levadas a cabo pelos militares. Em Portugal, nomeadamente, o 28 de Maio, nomeadamente, o 25 de Abril de 1974.

Naturalmente, em Portugal, com estas oscilações “latino-americanas” se quiserem seria incompreensível haver, por um lado, um nacionalismo semelhante, patriótico, ao norte-americano; e, por outro lado, uma glorificação das forças armadas semelhantes àquela que existe nos Estados Unidos. Sendo que esta diferença, o apoio directo e a articulação directa com as forças armadas é a diferença e a crítica que em grande parte separa o partido republicano do partido democrático nos Estados Unidos.

Vários candidatos presidenciais, vários dos presidentes norte-americanos provieram das forças armadas. É verdade que todos os presidentes portugueses até ao dr. Mário Soares, também provieram das forças armadas e a mudança não foi fantástica. Quando nos Estados Unidos há um regime presidencialista em Portugal não, é esta a diferença, mostra a diferença qualitativa dos dois casos.

E portanto, queria fazer este comentário prévio e queria fazer um segundo comentário quanto ao arredar à esquerda ou à direita, todos terão notado que o espectro político em Portugal está curiosamente arredado à esquerda. Quem diz que é o centro é de direita, quem diz que é o centro-esquerda é bastante à esquerda, quem diz que é a esquerda clássica é a esquerda dura, e quem diz que é a direita muitas vezes vem ou devia estar no centro. Ou aqueles a quem é imputada a característica de direita, este arredar à esquerda é compreensível como reacção ao 25 de Abril, também é enganador.

No caso norte-americano a situação é muito mais complicada, e a complicação da situação provém do resultado muito imediato, como dizia o sr. general com toda a razão, o McCain o candidato republicano neste momento ser muito mais ao centro, e desacreditado por isso, do que é o presidente George W. Bush por um lado; e, por outro lado, o candidato democrático Barak Obama estar muito mais ao centro e ser muito menos de esquerda do que a Hillary Clinton ou de que o Bill Clinton, o presidente incumbente anterior da administração norte americana.

E portanto há centralização e uma sobreposição nas duas posições políticas que faz com que esta escolha seja, vamos ver que não é só isso, mas que seja em grande parte, pelo menos, uma escolha entre duas alternativas muito semelhantes umas às outras, em que as diferenças são diferenças finas. Que só numa análise de pormenor é que elas aparecem.

Queria, em todo o caso, dizer que esta divisão básica que comecei por notar entre um individualismo por um lado, e o comunitarismo pelo outro. O individualismo que se correlaciona mais com Free Entreprise e ideologia neoliberal se quiserem do partido republicano, contrasta muito com o Community Service, por exemplo, advogado literalmente (foi o que ele fez quando saiu da Universidade de Harvard) pelo Barak Obama.

Notem, aliás, esta diferença de background entre ambos. O Barak Obama estudou direito em Harvard, a Michele Obama conheceu-o porque era aluna na faculdade de direito em Harvard e o Barak Obama foi para a faculdade de direito em Harvard, porque o pai dele, Barak Obama Senior, como os americanos lhe chamariam, veio do Quénia para ser estudante de direito em Harvard. Curiosamente todas as classes altas e certamente as classes educadas apoiam o Barak Obama. O que é completamente contra intuitivo se pensarem um segundo, pensaríamos o contrário. Aplicando aquela transposição de direita e esquerda, as classes altas e os grupos mais educados apoiariam o PSD norte-americano ou o partido republicano. Não é assim, apoiam o Obama.

Quem é que apoiava a Hillary Clinton? Os blue color Workers e Rednecks como eles chamam dos Evangelical Belt dos Estados Unidos, e portanto o que o partido republicano é, é uma direita populista. O que partido democrático é, é um partido civilizado, estou a exagerar as características mas deixem desexagerá-las muito rapidamente. O partido republicano foi criado em meados do século XIX para lutar contra a expansão da escravatura para o Oeste dos Estados Unidos. Foi criado como o partido da esquerda americana, o do elefante. Enquanto que o partido democrático foi curiosamente um partido inicialmente posicionado muito mais à direita.

Sem entrar em mais pormenores relativamente a isto, queria rematar esta introdução inicial genérica, este quadro analítico, se quiserem, mutatis mutandis semelhante aquele que o sr. general do ponto vista geopolítico apresentou, e antes de entrar nos pormenores com um tiro de precisão de ataque à campanha do McCain, a persona que aqui estou a assumir, queria rematar isto, regressando às várias escolhas que foram feitas para Vice-Presidente.

Pela primeira vez nas eleições americanas, é diacrítica essencial, é fundamental saber quem é - porque isto credibiliza ou descrediliza as campanhas - o Vice-Presidente. O Vice-Presidente como sabem é um senhor, sempre um senhor, a única vez foi em 1984 que uma senhora foi proposta pelo partido democrático como candidata à Vice-Presidente do Walter Mondale, Geraldine Ferraro, não teve hipótese nenhuma, perderam ambos liminarmente.

Ora bem, pela primeira vez temos coisas atípicas nestas eleições, temos um afro-americano, um preto como candidato de um lado; e temos uma mulher como candidata alternativa desse mesmo lado, Hillary Clinton, que depois perdeu, e agora outra como Vice-Presidente a Sarah Palin. Por sinal uma bonita mulher que ficou em número dois no concurso de miss Alasca. Por mim podia ficar em nº 10, ela vale o ter ficado e o ter concorrido, é um mulherão do meu ponto de vista, devo dizer. (Risos)

Devo dizer, também, que não ouvi e aconselho-vos a fazerem isto, tiram no Youtube o discurso feito em meados de Agosto, julgo que dia 12 ou 13 de Agosto em Berlim pelo Obama, são 28 minutos que vocês fazem download Youtube, em Berlim que foi, não estou a exagerar o melhor discurso que eu ouvi na vida, seja por quem for. Com mais conteúdo, todo sobre política externa e o valor da liberdade, e o lugar de placa giratória nodal, central que tem, que teve, que tem tido e que está a tornar a ter a Alemanha nos quadros internacionais contemporâneos. Nunca vi nada de equivalente do partido republicano. O que esvazia mais uma vez de conteúdo, de que aquilo seria pura retórica extraordinariamente eloquente mas sem nenhum conteúdo, o que o Obama faz, pura e simplesmente isto não é verdade.

Mais, a vinda da John Biden, notável presidente da comissão parlamentar de negócios estrangeiros como segurança e defesa, só não é de segurança e defesa como inteligency, mas é de negócios estrangeiros, segurança e defesa do senado norte americano, trás um peso pesado extraordinariamente experiente em política internacional que é a área em que os Estados Unidos está a ter que contracenar com a Europa, e que está a ter que infelizmente, negativamente contracenar com uma Rússia ressurgente.

Por outro lado o trazer a Sarah Palin para a candidatura norte americana baixou o nível da candidatura republicana. Eu não tenho dúvida nenhuma quanto a isto, ela foi escolhida, vínhamos a falar nisto, com compasso e esquadria. Ela foi escolhida porque era mulher, para agradar à franja fundamentalista evangélica de direita do partido republicano, por alguém que não era credível, que competiu contra o George Bush, e que não era credível dentro do partido republicano, portanto aquilo é uma escolha cosmética literalmente neste caso, uma escolha cosmética já que se trata de um mulherão.

Eu queria fazer 10 pontos muito rápidos que já tive o gosto de ler ao John McCain na nossa viagem de Lisboa para Castelo de Vide, - eu devo dizer que é com muito gosto que estou em Castelo de Vido, o meu avô Vaz Serra pai da minha mãe era do Marvão, aqui ao lado e duas, três vezes por ano faço com as minhas crianças, as minhas duas filhas o meu filho e a minha mulher uma peregrinação à terra do antepassado de Marvão.

Isto são coisas que eu estranho e é um tiro de precisão, como lhe chamei, alvejando directamente o candidato McCain. Acho estranho e vou repetir uma coisa que aqui já disse, que se fale da defesa dos norte americanos da mainstreet, do Zé povinho, se quiserem, norte americano e dos seus interesses, e que depois se assegure de que isso será feito com apoio das grandes empresas, nomeadamente as grandes empresas petrolíferas. Eu devo dizer que percebo o trickle-down economics, a Escola de Chicago e a ideia de que as grandes empresas são quem cria empregos e quem garante uma subida genérica do nível de vida da população.

Tenho a maior das dúvidas que isto seja transponível, - como também tive oportunidade de dizer -, para o caso português. O chamado “choque fiscal” em Portugal tem como objectivo a criação de grupos económicos fortes para poderem competir com outros grupos económicos na Europa. A criação de grupos económicos fortes nos Estados Unidos aumenta o gap entre os ricos e os pobres dos Estados Unidos coisa que, como candidato Obama acho mal. Acho uma contradição interna.

Segundo ponto, acho estranho e repito uma coisa que já disse, que se aluda aos valores da família e depois se corra a declarar que uma filha que acabou de fazer 17 anos, a Bristol Palin, está grávida de 5 meses, ou seja engravidou aos 16 e que o facto demonstra que a candidatura republicana atribui enorme importância à família, - acho estranho para dizer o mínimo. Como acho estranho que ontem à noite na televisão o candidato McCain tenha estado ao lado da candidata Sarah Palin com Bristol Palin ao lado de mão dada com o namorado, que por acaso ontem tirou da internet o blogue que tem em que diz que não quer ter filhos, ainda está no catch do Google, ainda conseguem lá vê-lo o blogue.

Terceiro ponto, acho estranho que ela a Sarah Palin diga que a luta contra os interesses estabelecidos established interests and lobbies, diz ela, são o inimigo interno pelo menos principal, e de seguida ela defenda a exploração de petróleo e de gás natural em reservas protegidas do Alasca quando nós sabemos o degelo rapidíssimo a que o Árctico tem estado sujeito, nomeadamente o Alasca.

Este ponto do aquecimento global e das consequências que tem, é um ponto negado pelo partido republicano até à candidatura do McCain, que agora concorda, que há um degelo e que isso está a ter consequências dramáticas. Sabem que neste momento Portugal vai ter, já está a ter, caso o Carlos Coelho não saiba isto é bom saber, um competidor gigantesco na plantação de tomates, a Gronelândia. Está a plantar tomates com uma capacidade germânica ou nórdica e geográfica notável. A Gronelândia não era um país onde eles tivessem tomates, agora já têm. (Risos)

Quarto, acho estranho em quarto lugar que se queira garantir a segurança e as preocupações com o ambiente e em paralelo se seja activista da National Rifle Association e apoiante da criação de um gasoduto, que é o maior empreendimento tecnológico da história humana de 40 biliões de dólares nas montanhas e florestas de um Árctico que está em quebra.

Dizer que se protege o ambiente e que se é a favor da segurança, quando se é a favor de armas semi-automáticas na mão de seja quem for com mais de 16 anos. E se diga que se é a favor do ambiente; e em reservas naturais no Árctico em quebra, se promulgue contra a lei federal alteração da lei para permitir a exploração de reservas naturais. De maneira a garantir a independência energética dos Estados Unidos, eu compreendo o argumento e certamente lá regressaremos, - acho estranho.

Quinto, acho estranho que se queira melhorar o diálogo com o mundo e que se pense sequer em fazê-lo, como a escolha da Sarah Palin mostra que se pensa possível, de uma perspectiva evangélica fundamentalista, argumentando como ela argumentou que isto é “A mission from God” – acho estranho. Acho estranho que num plano internacional se continue a subalternizar o Afeganistão em relação ao Iraque, e se continue subalternizar a ameaça Russa, face à ameaça difusa do terrorismo; sem se pensar sequer de que muito mais importante do que proteger heranças dúbias de predecessores como o presidente George W. Bush, está o garantir os reais interesses permanentes do Estado que se serve e dos seus aliados da Aliança Atlântica.

Sétimo de dez, acho estranho que dentro como fora dos Estados Unidos se considere possível criar uma unidade de esforços através de discursos e acusações divisivas, como a campanha republicana tem feito, que só servem para atiçar atitudes adversariais.

A Sarah Palin no High School era conhecida como Sarah Barracuda, isto era o nick name que ela tinha.

Oitavo de dez, acho estranho que se insinue que o facto de se ser um Maverick e um outsider relativamente a Washington, permite levar a cabo mudanças na politics as usual. Mas que em paralelo se queira proteger e escorar as políticas da administração norte americana cessante, essas é que são as politics as usual.

Acho extraordinário, penúltimo ponto que um ticket liderado por um homem de 72 anos e com 25 anos de Washington se possa apresentar como uma força de mudança, não me convence.

Último ponto, acho fascinante que se insista num tom vitorioso e triunfalista que o lugar autárquico de Mayor de 8.000 pessoas, e um lugar largamente simbólico do governador de um pequeno Estado com 5 milhões de pessoas, seja uma espécie, como disse a Sarah Palin, community service with responsibility; quando comparado com o lugar de legislador e senador que o presidente Obama tem tido, responsável - e são eleitos por ser círculos uninominais, como sabe -, é responsável perante 305 milhões de habitantes dos Estados Unidos. Acho uma fraude eleitoral, uma manipulação da opinião pública dizer isto.

Acho estranho que se compare a experiência, - porque eu tenho o maior respeito de um prisioneiro de guerra 6 anos, em Hanoi, como foi o senador John McCain, com a do presidente da comissão parlamentar dos negócios estrangeiros, que o John Biden é há uma boa quinzena de anos que ele oscila em torno de posições destas, acho curioso.

Eu ouvi ontem, e acabo com esta frase, na convenção republicana, uma senhora dona de casa pelo aspecto, a dizer “claro, que a Sarah Palin tem imensa experiência internacional, no Alasca de um lado tem o Canadá do outro lado tem a Rússia, how does she not have an international experience”. É o non-sequitur dos non-sequiturs, não é verdade?

Sr. Senador.

(APLAUSOS)

 
Gen.Garcia Leandro
- Eu vou fazer a minha intervenção em três partes. Uma, para explicar que há uma clara separação das propostas de governo do senador McCain em relação à administração Bush, contrariamente aquilo que aquele sr. que está ali à esquerda disse. Segundo, que há muitos pontos iguais do senador Obama e do senador McCaim. E terceiro, concluir que a combinação que eu tinha feito com o senador Obama, que não havia ataques pessoais, foi completamente desacreditada aqui por este senhor que se sentou ali ao lado esquerdo. (Risos)

Portanto, eu só no final irei responder a isso, que acho de muito baixo nível.

Portanto, o que é que nos separa da administração Bush? Não direi tudo. Mas não é verdade o que o representante de Obama disse, que estamos a dar ou iremos dar continuidade às políticas de Bush, rigorosamente nada.

Verdadeiramente Bush, a administração George W. Bush é uma excepção na história do partido republicano, não é a minha candidatura ou a candidatura do senador McCain, é a administração republicana que sempre foi conservadora e se voltarmos só depois da II Grande Guerra, o presidente Eisenhower, depois o presidente Nixon, depois o presidente Reagan, depois o presidente Bush pai, não tem nada a ver com isto. Isto é uma excepção na história do partido republicano, isto é influência da direita evangélica, dos neo-conservadores que não têm rigorosamente a ver com o mundo (...)

 

(Um minuto inaudível)

 

(...) o que inventaram um mundo próprio.

Depois eu fui candidato, o senador McCain, fui candidato em 1990 contra o presidente Bush nas primárias e tentaram destruir a minha personalidade com o tipo de ataques baixos, e eu pelo senador MaCain se tem alguma coisa importante é o seu registo, o seu record, de serviço público nos Estados Unidos.

A dada altura, o senador McCain andou muito tempo afastado da sua terra natal e quando apareceu para se candidatar a senador, foi muito atacado porque não tinha lá estado, tinha estado pouco tempo lá. Ele disse: “pois o sítio onde passei mais tempo da minha vida foi na prisão de Hanói, e portanto acabaram os ataques.

Agora, a diferença de posições à administração Bush, temos: segurança social, é diferente; Guantanamo é completamente diferente, queremos fechar Guantanamo; estratégia para o Iraque, John McCain apoiou a intervenção americana ou de uma coligação liderada pelos americanos no Iraque no pressuposto de duas coisas: pós os ataques terroristas de 11 de Setembro e assumindo pelas informações que existiam de que o regime do Iraque, de Saddam Hussein era um regime que tinha armas de destruições maciça e estava ligado aos grupos do terrorismo transnacional do Bin Laden. Veio-se a provar que não era verdade, mas de tal modo isto foi feito que o próprio Secretário de Estado da altura, Collin Powel, foi enganado pela própria administração, portanto houve aqui uma manipulação grande. Critiquei, tomei a decisão ou tomou-se a decisão de apoiar a intervenção no Iraque mas foi-se completamente contra a gestão da guerra.

Depois, os direitos dos prisioneiros, os direitos dos prisioneiros, a posição da candidatura McCain é que todos os prisioneiros em situação de combate e situação de guerra têm direitos que têm que ser respeitados e não podem ser sujeitos a tortura. Porque essa experiência de tortura teve o senador McCain nos anos que passou no Vietname, e uma das conclusões a que chegou é que o indivíduo sobre tortura confessa tudo quanto quiserem, diz o que o torturador quer ouvir. Não resulta além de ser completamente desumano.

Depois, uma posição completamente diferente, e que foi salientada aqui pelo meu opositor, é que do tempo do presidente Bill Clinton tinha sido em 1998 assinado o Acordo de Quioto, que depois não foi ratificado pela administração Bush. Não sei se se lembram que o vice-presidente Al Gore foi presidente mundial da Globe, portanto era um homem já com interesses ecologistas e conhecia-o bem, só que a administração Bush sempre recusou acreditar nos estudos científicos que diziam que ia haver o aumento da temperatura e toda esta alteração climática que está a ocorrer. A nossa candidatura prevê a ratificação imediata do Acordo de Quioto e a limitação dos gases CO2.

Por outro lado, é um ponto muito importante desta candidatura fazer a reforma do governo. E isso não tira credibilidade com os 72 anos que o senador McCain tem, porque não se combatem aqui cores nem idades, combatem-se ideias. E as ideias é que, o que se passa, esta administração americana, a organização do governo americano foi feita pós guerra-fria, em 1950 toda a estrutura da administração americana está feita nessa altura, ela não está preparada, e o senador McCain já o disse em público, para se confrontar com os desafios da época da globalização. Portanto, reformar o governo é outra questão importante.

 E outra que nunca nenhum candidato apresentou. É a primeira vez que se apresenta, é uma posição contrária a que os juízes dos grandes tribunais americanos tomem posições de carácter legislativo. O senador McCain já o disse publicamente, está no seu programa, é contra o caso dos juízes que procuram fazer legislação por via das decisões dos tribunais. É a primeira vez na História dos Estados Unidos que isto acontece, porque os Estados Unidos têm por legislação o que foi acontecendo ao longo dos anos em função das decisões dos tribunais. Portanto, isso separam-nos bastante da administração Bush.

Relativamente à candidatura do senador Obama, nós, o prof. Marques Guedes e eu fizemos uma lista de assuntos, não os vou massacrar com isto tudo, de 34 pontos onde fazem o que é igual e o que é diferente. E há muitos pontos iguais, há muitos pontos iguais porque tal como foi dito esta direita representada pelo senador McCain é muito mais ao centro, como a esquerda representada pelo senador Obama é muito mais ao centro, e portanto os assuntos concretos da vida real, do Mundo, e dos Estados Unidos, leva a que as posições de gestão sejam parecidas.

No entanto há posições diferentes:

a candidatura do senador McCain considera que a China pode ser uma ameaça militar; a candidatura do senador Obama só é uma ameaça económica.

Relativamente ao Irão a nossa posição é que há uma enorme ingenuidade da parte da candidatura do senador Obama, porque acredita que com relações directas com o Irão pode resolver o problema, o Irão é uma ameaça militar e é um perigo que pode ser junto, perigo nuclear mais o terrorismo.

No que diz respeito ao Iraque também há diferenças. É completamente irrealista a posição do senador Obama, isto vai ser completamente desmentido se ele for eleito presidente, o que espero que não aconteça, quando diz que retira as tropas já. Não é possível, é irrealista, nunca foi possível. E fez estas declarações em Março de 2008, diz retirar as tropas já.

Portanto, a posição da candidatura McCain é que só se pode retirar as tropas independentemente da data, quando o país estiver estabilizado, quando a guerra tiver ganha e quando a própria segurança do Iraque puder ser garantida por eles próprias.

Eu lembro que, contrariamente aquilo que o meu opositor quis fazer passar, os republicanos historicamente resolveram guerras, os democráticos inventaram guerras.

Bem, eu iria lembrar que a invasão da Baía dos Porcos em 1962 ou 63, foi o presidente Kennedy, que foi um desastre; o afundamento no Vietname foi com o presidente Lyndon Johnson, que quando saiu em 1968 derrotado pelo presidente Nixon, tinha 550 mil homens não havia mulheres, 550 mil homens no Vietname, quem resolveu o problema do Vietname foi o presidente Nixon, com o ajuda do Kissinger, mas resolveu o problema. E ao lado disto há uma aproximação do tal republicano de direita que era Nixon e que era do grupo da caça às bruxas completamente à direita, a aproximação da China comunista, é o que o presidente Nixon faz; o primeiro embaixador na China é o pai Bush em 1972, e há a resolução da aproximação da União da União Soviética e os acordos para os Tratados Nucleares; depois, é também o presidente Reagan que acaba por resolver juntamente com o Papa João Paulo II, o problema da guerra-fria com a União Soviética.

Portanto, nós estamos aqui numa situação, que queria chamar a atenção de que esta administração Bush é bocadinho atípica em relação à nossa história.

Por outro lado, e bem, nessa altura, o presidente Clinton fez uma intervenção sem qualquer apoio das Nações Unidas no Kosovo em 1999.

Portanto, o que significa é que em termos de política externa há muitas semelhanças entre as posições de quem está na administração.

Depois, relativamente à Coreia do Norte estamos de acordo, não há diferença em relação à Coreia do Norte.

Relativamente à Rússia, o senador Obama ainda não pronunciou nada relativamente à grande ameaça que pode acontecer, apenas diz que tem que se trabalhar na redução das armas nucleares. Ora, a Rússia neste momento é uma grande ameaça como o senador McCain já teve oportunidade  de o dizer, está a reviver os seus tempos imperiais, quer seja do tempo do Império, do Czar ou da União Soviética, e é uma ameaça aos estados vizinhos, como é uma ameaça à Europa. Deve sair do G8, foi a minha proposta ou a proposta do senador McCain, sair do G8 já. E a proposta era entrar o Brasil.

No que diz respeito ao homeland security, o Patriot Act foi definido pelo presidente Bush, a nossa posição é a favor, a posição do senador Obama é contra. No entanto estamos de acordo em duas questões: têm que ser controladas todas as áreas de alto risco para os Estados Unidos, e qualquer combatente tem direito a que os seus direitos devam ser respeitados. Portanto, há aqui mais uma diferença na gestão do que nos objectivos.

Controle das armas pessoais. É a posição tradicional da Constituição Americana e da história americana que cada um possa usar a sua arma. Qualquer controle sob o sistema das armas individuais vai contra os Direitos, Liberdades e Garantias que são dados ao cidadão americano, essa é a nossa posição; a posição do senador Obama é muito mais parecida com as posições europeias. A nossa, jogamos liberdade com responsabilidade e aqueles que se portam mal devem ser julgados pelos tribunais, e como sabem os tribunais americanos são os melhores tribunais do mundo, e realmente não se resolve este problema dos crimes, nem o problema das armas.

No que diz respeito às forças armadas, deve ser alterada a dimensão para mais das forças armadas, nomeadamente do exército.

No que diz respeito ao controle de armas nucleares no Mundo, as duas candidaturas são praticamente iguais, e mesmo no que diz respeito ao controle das armas nucleares nos Estados Unidos, diminuição das reservas de armas nucleares, devem ser controladas, desde que não ponham em causa a segurança dos Estados Unidos.

No que diz respeito a este sistema do missile defense que os Estados Unidos estão a colocar na Europa, ambas as candidaturas concordam com isto. Com o pormenor de dizer que contrariamente à administração Bush ambas deviam consultar a NATO.

No que diz respeito à política de energia nuclear, ele tem que fazer parte de um conjunto de novas medidas da política de energia, em que o senador McCain em 2002 trabalhou com um senador democrata, o senador Lieberman, que foi candidato à vice-presidência aqui há uns anos atrás, no sentido de apresentar um menu de trabalho de várias energias renováveis. Ée qualquer modo é de apoiar a construção até 2030 de 45 novos reactores nucleares.

No caso da candidatura do Obama é sim, também tem umas grandes preocupações no caso das energias renováveis, mas evitar energia, que é a nossa opinião também, que aumente o efeito de estufa com consequências no clima.

Direitos e liberdades civis. Direitos e liberdades civis que têm a ver com algumas medidas que foram tomadas pela administração Bush, o senador Obama apoia todas as medidas de carácter activo, programas afirmativos que levem à igualdade de direitos e garantias. Julgo que é preciso ter algum cuidado com essas medidas assumidas pelo Estado, agora o que não estamos de acordo também é com a facilidade que foi dada ao FBI para fazer escutas.

A nossa candidatura apoia essas escutas em termos da segurança dos Estados Unidos; a candidatura de Obama é contra as escutas.

No que diz respeito à economia, a nossa posição não é a tradicional republicana, é verdade que apoiamos que os impostos para as grandes empresas sejam diminuídos no sentido de, nesta situação de crise a capacidade de investimento seja aumentada e os postos de trabalho.

Só ia dizer que também nos preocupa o problema das famílias, das famílias e da classe média. Portanto reduzir as taxas para o pequeno negócio. O que quer dizer que no caso da economia os objectivos são iguais quer da candidatura do Obama, quer da candidatura McCain e ambos apoiam incentivos para empresas que façam um grande esforço na área da investigação e desenvolvimento, tecnologia e novos equipamentos.

Ia dar aqui um salto, a questão do aborto a nossa posição é pro life, enquanto que a posição do Obama é pro choice.

Eu queria dizer que achei de muito mau gosto aquela intervenção contra a gravidez da rapariga. É evidente que isto é de uma grande hipocrisia, quer seja nos Estados Unidos, quer seja em Portugal. É uma grande hipocrisia porque os valores morais e culturais alteraram-se e os jovens têm relações sexuais cada vez mais novos, aqueles o que não tiveram foi cuidado. Agora, o que é defender os valores da família, é a família, a governadora e o marido apoiarem a filha, isso é que é defender os valores da família. Eu quero dizer-vos que falo com este à vontade, tenho três filhas casadas e já não tenho este risco, já estão todas…

No que diz respeito à pena de morte. É curioso que ambos os candidatos apoiam a pena de morte, ambos os candidatos. No caso do senador McCain, quer ir mais longe, e quer que os patrões da droga também estejam sujeitos à pena de morte, o senador McCain acha que devem ser feitos estudos no sentido de melhorar o sistema de cadastrado, porque o sistema é realmente estadual.

Gostaria só se me permitirem de dizer o seguinte, ambos somos a favor, ambas as candidaturas são a favor da legalização dos imigrantes ilegais, de criar um sistema que possa trazer aquilo que se chama guest workers, pessoas que possam vir trabalhar para os Estados Unidos de acordo com um determinado controle. A candidatura do Obama nesse aspecto é muito mais aberta, porque diz que devem ter todos os direitos do cidadão americano, desde que responsam ao conjunto de requisitos para adquirir a cidadania. No caso da candidatura diz primeiro a segurança das fronteiras, se a segurança das fronteiras estiver adquirida, então podem vir os guest workers.

E finalmente no que diz respeito ao clima, as duas candidaturas estão de acordo, completamente de acordo.

O comércio livre. Há concordância em termos gerais porém, o senador McCain é contra a NAFTA, a NAFTA tem sido prejudicial, que é a Associações comercial Canadá-México, é contra a CAFTA, o CAFTA é uma tentativa de fazer a mesma coisa para a América Central, não concordo rigorosamente, o senador McCain é mais a favor disto. O senador Obama, sendo a favor do comércio livre, tem uma coisa que me parece muito honesta e que corresponde à origem dele, que é dizer o comércio livre sim com nuances, desde que não beneficie só as grandes empresas ou empresas mas beneficie o trabalhador americano.

Por outro lado, o senador Obama quer penalizar fiscalmente as empresas americanas que estão no estrangeiro, e não fazem a transferência dos lucros para os Estados Unidos.

E eu com a falta de tempo que tenho vou acabar aqui, mas realmente acho que esses ataques à senhora Sarah Palin muito maus, de baixo nível. No entanto, de acordo com as suas palavras eu acho que ela foi uma boa escolha, porque falou dos aspectos negativos, mas a dada altura teve uns adjectivos que demonstram que as pessoas vão votar nela.

 
Prof.Armando Marques Guedes
- Estou-me a tentar lembrar de um.
 
Gen.Garcia Leandro
- Não. Mas tem. Porque falou nele, no seu aspecto físico.

Realmente, eu e o prof. Marques Guedes, tínhamos vindo a falar no carro, e estas duas candidaturas dos vice-presidentes foram cientificamente escolhidas para acertar com as fragilidades de cada um dos candidatos presidenciais, e no caso de McCain é o problema da direita do Partido Republicano que era difícil de agarrar e que não tem confiança sobre o senador McCain porque é muito ao centro para eles.

Muito obrigado.

(APLAUSOS)

 
Dep.Carlos Coelho
- Muito obrigado sr. General.

Terminámos a fase de apresentação com o respeito pelos tempos, ligeira derrapagem de ambos os contendores, vamos agora entrar na fase de debate que o Pedro vai gerir como sempre, são blocos de dois vou pedir perguntas muito, muito claras e concisas, uma pergunta por interveniente e vou pedir aos nossos dois convidados para tanto quanto possível responderem por 4 minutos a cada bloco de 2 perguntas.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Muito obrigado Carlos, eu sublinho a advertência que o Carlos fez de uma pergunta porque já de manhã tinha feito essa advertência e não verificámos que assim tenha sido.

Primeira pergunta Nuno Bastos do Grupo Azul.

 
Nuno Bastos
- Obrigado Pedro, General Garcia Leandro, Prof. Marques Guedes, caríssimos amigos desta Universidade de Verão. Estamos aqui neste debate perante duas figuras ilustres, antes de mais achámos curioso que o animal preferido do prof. Armando Marques Guedes seja o elefante, exactamente a mascote do Partido Republicano, e também dizer ao general Garcia Leandro que foi escolhido para representar McCain, não só pelo seu penteado mas também por ser um veterano de guerra português que prestou honrosos serviços à nossa Pátria e a quem devemos muito.
 
Gen.Garcia Leandro
- Muito obrigado, mas eu não sou aqui candidato eleitoral a nada.
 
Nuno Bastos
- Bom, 60% dos americanos e a grande maioria dos europeus do ocidente, reprovam o desempenho de Bush na presidência americana, é um dos presidentes mais impopulares de sempre senão o mais impopular. Portanto o clima político é propício à mudança, mudança essa que é encarnada pela candidatura de Barack Obama. Contudo quando a campanha se centra nas questões de segurança interna, no combate ao terrorismo, na imigração ilegal isso beneficia o campo republicano. Assim perguntamos se a situação na Geórgia, no Iraque ou no Irão se agravar, ou se soar um novo alerta terrorista na América, pensam que McCain conquistará a maioria dos 20% de indecisos que neste momento restam, e ganhará as eleições? Concordam que McCain é o candidato mais habilitado a lidar com o mundo perigoso que tanto tem atormentado os americanos desde 11 de Setembro de 2001? E já agora pergunto qual dos dois candidatos vai apanhar Bin Laden?
 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Nuno, Diogo Açafrão do Grupo Laranja.
 
Diogo Açafrão
- Olá, boa tarde. General Garcia Leandro e dr. Armando Marques Guedes é um grande prazer os receber aqui.

A minha questão debruça-se sobre dois pontos: o primeiro ponto foi referido pelo grupo anterior que é, eu estive analisar aqui o Blueprint for change, do Obama, e ele tem aqui pontos sobre ética, mulheres, emigração, direitos civis, mas não tem um ponto exclusivamente para a segurança, que considero uma grande falha e o Grupo Laranja também.

A outra questão está a ser criada por este tipo de discursos como vimos no vídeo, não existe uma América preta, branca, de latinos, existe apenas os Estados Unidos da América. O tal discurso do “Yes, We can”, que é muito parecido ao “I have dream”, e a verdade é essa está a ser criada uma grande expectativa por parte de certos grupos sociais. Será que essa expectativa não pode sair trocada no caso de Barack Obama ganhar estas eleições? Se falhar, não criará um tumulto que já não vê há algum tempo?

É só essa a nossa questão, obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho
- Muito obrigado sr. general tem a palavra, 4m.
 
Gen.Garcia Leandro
- Em primeiro lugar, é evidente que o senador McCain tem melhores condições para gerir qualquer conflito que se ponha a nível mundial ou dentro das fronteiras, acho que sobre isso nem vale a pena gastar muito tempo.

No que diz respeito ao Bin Laden, eu gostaria de lembrar que eventualmente podem não saber, que em 1998 o presidente Clinton tinha dado ordens para se apanhar o Bin Laden, e o ataque às Torres Gémeas é só em Setembro de 2001, e todo o sistema de informações executivo dos Estados Unidos não o conseguiram apanhar, tenho muitas dúvidas que alguém consiga apanhar o Bin Laden. E se houver o Bin Laden, há clones do Bin Laden, hoje aquilo não é uma organização hierarquizada, é uma organização de células espalhadas pelo mundo que actuam realmente de uma maneira muito sofisticada, não é especialmente importante que o Bin Laden esteja vivo, é mais um símbolo.

No que diz respeito, eu também reparei e é um bocado frágil da parte da candidatura do senador Obama, não ter um ponto relacionado com a segurança. Embora os elementos que eu aqui tenha são um bocadinho diferentes, tenho mais coisas sobre a visão da segurança, fundamentalmente o homeland security, menos na área da política externa.

A expectativa falhada, penso que não. Eu, e aqui é a minha opinião pessoal e julgo que é confirmada pelo prof. Marques Guedes, nós consideramos que são duas boas candidaturas. E esta madrugada ouvi o discurso de aceitação de John McCain, e John McCain faz o mesmo tipo de discurso, nós somos América, faz uma grande homenagem ao senador Obama, à família do senador Obama, tal e tal e tal, somos América, América, América, não somos separados.

É uma grande vitória para os Estados Unidos perante o seu percurso histórico, perante os traumas que têm, toda a humilhação que as raças não brancas sofreram ao longo da história, se puder haver um presidente de raça negra ou mestiço, isso é de facto uma grande vitória. Se não for eleito já é uma grande vitória ter-se chagado a este ponto. Porque em termos históricos, os senhores e as senhoras, são todos muito novos, mas nos anos 50, os anos 50 foram ontem, foi há 50 anos atrás, grandes problemas de integração dos estudantes pretos nas universidades americanas. É com o presidente Eisenhower e depois com o presidente Kennedy, que tem como Secretário de Justiça o seu irmão Robert Kennedy, que se faz a integração forçada, imposta pela administração Eisenhower e pela administração Kennedy, portanto, isto é uma evolução brutal na história dos Estados Unidos ter chegado aqui.

Martin Luther King foi morto, foi tudo por aí adiante, Robert Kennedy foi assassinado e hoje chega-se, é que mesmo que não ganhe as eleições é um grande salto qualitativo.

 
Dep.Carlos Coelho
- Sr. Prof. 4 minutos.
 
Prof.Armando Marques Guedes
- Muito obrigado, muito rapidamente, queria em primeiro lugar saudar o General Garcia Leandro e o candidato McCain nisto, e este ponto parece-me da maior importância, o grande recado que há aqui na Universidade de Verão - agora para vocês jovens, em futuros quadros do PSD e muitos das JOTA -, o que há de boas notícias nisto tudo é que pela primeira vez, na minha memória pessoal, há dois excelentes candidatos nos Estados Unidos, o resto é secundário relativamente a isto. Seja qual for o resultado vai ser sempre bom.

Eu sou de opinião e tive oportunidade de o dizer antes de isto começar que, se o Obama ganhar, o Obama vai convidar o McCain para Embaixador em Moscovo ou seja o que for, e vice-versa, eles não são só parecidos, eles entender-se-ão, e isto parece-me uma notícia óptima.

Segundo ponto que eu queria fazer, que decorre um bocadinho daquela introdução que fiz, antes de responder às perguntas concretas que farei muito rapidamente, é o seguinte: ao contrário do que possa linearmente parecer, o que é bom para os Estados Unidos não é necessariamente bom para Portugal. Eu acho, em minha opinião, que do ponto de vista de implantação externa dos Estados Unidos é possível que o McCain possa ser melhor do que o Obama, como verão tenho algumas dúvidas, mas isso não decorre daqui que isso seja bom para Portugal. O Nixon foi magnífico do ponto de vista externo, reconquistou a China como eles dizem para os Estados Unidos, foi péssimo para a Europa. O Kennedy que foi um desastre para os Estados Unidos até em Paris têm Boulevard John F. Kennedy, é uma espécie de herói. E, portanto, vocês são portugueses, vocês votam nas eleições portuguesas não nas americanos, vocês candidatar-se-ão às eleições portuguesas, o que vos interessa é o que é melhor para Portugal e, olhem, que não é linear que o que seja melhor para os Estados Unidos, seja o que é melhor para Portugal, ou seja não há uma confluência total de interesses. Quanto às perguntas claro.

 
Gen.Garcia Leandro
- Relativamente à presidência Kennedy e nós não sabemos se o presidente Kennedy continuasse a viver como é que seria. Porque aquilo é uma imagem, ele era muito bonito, a senhora era muito bonita,
 
Prof.Armando Marques Guedes
- E se o Nixon continuasse o que aconteceria?
 
Gen.Garcia Leandro
- Pois, mas o Nixon com o Watergate é assim um disparate absoluto. Mas o que eu queria dizer aqui é que a política externa norte-americana até à presidência Eisenhower, que vai de 52 a 60 é eurocentrada, a política externa americana estava de acordo com o s interesses da Europa, com o Kennedy aí muda-se completamente, e portanto quando diz isso, realmente com o presidente Kennedy alterou-se, se naquela altura quando foi a candidatura Kennedy contra Nixon, o Nixon tivesse ganho a Europa talvez tivesse ficado mais beneficiada nessa eleição.
 
Prof.Armando Marques Guedes
- Para ir então responder às perguntas. Eu vou agrupar a primeira pergunta com a primeira pergunta do grupo Laranja, a segurança.

A primeira pergunta sua foi: o que acontecerá se agravar a situação no Irão e na Geórgia, foram os dois exemplos, não será melhor o McCain ganhar para essa eventualidade. Este, claro, é o discurso do partido republicano como saberá. O argumento do outro lado, do Grupo Laranja foi, eu acho que é um erro de facto.

Que falta a segurança ao Obama. Devo dizer que não concordo com isto, e digo em dois tiros porque é que isto não é verdade.

Primeiro, foi o presidente da comissão do congresso de segurança e defesa e negócios estrangeiros, Joe Biden, que foi feito vice-presidente da candidatura Obama, não é certamente por acaso, não vai certamente faltar a segurança e defesa e a política externa.

Em segundo lugar, no discurso de que falei há bocado, que reputo como o melhor discurso do Obama, programaticamente o melhor discurso, em Berlim em meados de Agosto, o Obama diz taxativamente e passou 5 minutos, tive com um doutorando meu norueguês a ouvir pela terceira vez a ouvir o discurso, 5 minutos a dizer, primeiro a esbater aquela ideia inicial que é absurda de saída de repente do Iraque, eu devo dizer aqui uma confissão de facto, o gen. Garcia Leandro teve a maior das renitências relativamente à invasão do Iraque em 2003 pela administração Bush, eu apoiei publicamente a invasão do Iraque e portanto estamos a representar..

 
Gen.Garcia Leandro
- Aconteceu-me o mesmo que ao senador McCain e ao dr. Barroso, fomos enganados pela política americana.
 
Prof.Armando Marques Guedes
- Ah, mas isso fomos todos.
 
Gen.Garcia Leandro
- Porque há de facto argumentação no sentido de se houvesse armas de destruição maciça mais ligação ao terrorismo de se invadia o Iraque, depois veio-se a provar que era tudo mentira.
 
Prof.Armando Marques Guedes
- Não se vai provar, acabaram por ser destruídas pelos israelitas no princípio de Dezembro passado, na Síria, onde estavam e sabia-se que estavam desde antes, não tinha sido era desclassificada a informação, e portanto mesmo isso não é verdade.

O segundo ponto além do Joe Biden para responder à primeira pergunta, é obviamente que neste discurso 5 minutos são passados pelo Obama a dizer “sair do Iraque mal seja possível, sem que isso signifique perder a guerra”, e depois passa 5 minutos a dizer “há um sítio onde nós temos que aumentar o dispositivo militar, e é por isso que eu quero mobilizar forças do Iraque para lá, que é no Afeganistão onde está a Aliança Atlântica, não podemos sair do Afeganistão de maneira nenhuma”, isto é 5 minutos sólidos, oiçam no Youtube do Obama a dizer, do Afeganistão a Nato não pode sair. A pressão que tem havido da campanha do Obama para que os polacos, os portugueses, há uma semana forma 46 militares portugueses novos para o Afeganistão, é um contributo simbólico mas é um contributo.

Segundo ponto, quem apanha o Bin Laden. Eu publiquei um livro que lancei na Academia Militar, há uns meses chamado “Ligações Perigosas” da Almedina, sobre a Al-Qaeda em que digo em que é irrelevante apanhar o Bin Laden ou não, o Bin Laden é um símbolo. O que o Bin Laden está a fazer é irrelevante.

O último ponto: “Yes, We can”, “I have a dream”. Balelas na interpretação do grupo Laranja. “Yes, We can” é a frase do Obama e o “Yes, We can” é teoria política profunda, “What are we waiting for?” we waiting for ourselves”, isto é um apelo à participação política cívica, da sociedade civil. “I have a dream”, Martin Luther King na mobilização pelos direitos cívicos na One Million Men March recapitulando que em final do séc. XIX como sub-secretário de Estado of the Navy, o Teddy Roosevelt, depois presidente dos Estados Unidos pelo Partido Republicano tinha defendido que era: “I have a dream, our little brown brothers in jungles of the Philippines need us”, na guerra contra os espanhóis pela invasão das Filipinas. Nos dois casos: um foi a expansão americana para Cuba, para as Filipinas, para o Porto Rico na guerra contra os espanhóis; no segundo, caso foi a libertação cívica dos ex-escravos nos Estados Unidos. Como isto não tem eficácia? É que não podia ter mais eficácia. Eu sou professor, eu vendo palavras como eficácia.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Muito obrigado, Desidério dos Santos do Grupo Amarelo.
 
Desidério dos Santos
- Boa tarde, quero desde já agradecer a presença dos convidados. A minha pergunta é muito simples, assiste-se actualmente ao crescimento exponencial de algumas economias como, por exemplo, a China, a Índia, a Rússia e sem nunca esquecer o nosso velho continente. Prevê-se que o papel da maior economia mundial, da super potência dos Estados Unidos, esteja em risco, o seu controle é cada vez menor, como é que cada um dos candidatos tenciona lidar com esta situação?
 
Dr.Pedro Rodrigues
- Maria Filomena Ferreira do Grupo Rosa
 
Maria Filomena Ferreira
- Boa tarde a todos, uma saudação especial ao general Garcia Leandro e ao prof. Armando Marques Guedes, que brindaram esta Universidade de Verão com a sua presença aqui.

A pergunta que o nosso Grupo Rosa queria colocar é a seguinte: na perspectiva da teoria do jogo, qual o impacto que pode causar a escolha do vice-presidente de cada candidato no âmbito das relações internacionais, ou seja, pensam que a escolha do senador McCain pode significar um xeque mate relativamente à grande aposta do senador de Illinois?

 
Dep.Carlos Coelho
- Muito obrigado Prof. Marques Guedes 4 minutos.
 
Prof.Armando Marques Guedes
- A diminuição do controle da economia internacional pelos Estados Unidos na ordem internacional, o que é que isso significa para a Europa? São péssimas notícias para a Europa porque a aliança estratégica do ponto de vista económico entre os Estados Unidos e a Europa, seria uma grande salvaguarda da Europa, nomeadamente ao controle dos mercados energéticos pela Rússia. A Rússia neste momento, terão observado, tive oportunidade de discutir isto à hora do almoço, fez duas coisas para além deste gigantesco fogo de vista que foi a intervenção na Ossétia do Sul, na Geórgia e na Abecásia também na Geórgia, para lá disto fez duas grandes coisas. Há uma extensão do blue stream, ou gasoduto em baixo, que pára na Turquia e cuja extensão para a Europa onde terá uma placa giratória de distribuição europeia, ainda está em discussão. A Europa quer construir o seu próprio pipeline, os russos querem ser eles a fazer uma extensão do blue stream para reter o monopólio. A Europa construiu com capitais e tecnologia norte-americana uma extensão que vai até à Turquia, recebeu 15 tiros de aviso, vejam na CNN eles mostram as imagens, a 15m de distância dos russos, no dia 7 de Agosto, dia da invasão da Geórgia. A seguir os russos puseram 9.000 homens no Porto de Poti, bombardearam com Migs e Sukhois o porto de Poti, e mandaram de Sebastopol vinda a frota russa do Mar Negro, que bloqueou e ainda está a bloquear o porto de Poti, que é o porto de escoamento energético.

Ou seja, os russos têm o monopólio da distribuição de 35% do petróleo e 45% do gás natural consumidos na Europa. Os Estados Unidos querem diversificar isto, o Obama e o McCain têm insistido nisto, se se perde o controle pelo ocidente, leia-se NATO, União Europeia mais os Estados Unidos, dos recursos energéticos, ficamos na mão dos russos. A situação é de profunda assimetria, acho altamente preocupante.

Segunda resposta ao Grupo Rosa, a teoria dos jogos. O Xeque mate, acho que isto não é um xeque mate isto é a teoria do jogo, se aplicar a teoria dos jogos a situação é como eu comecei por dizer em resposta ao primeiro grupo de perguntas, aquilo a que os chineses, já repararam quando a gente fala com os chineses há uma frase que eles dizem sempre win-win, é tudo win-win do ponto de vista dos chineses, que é uma situação de um jogo que soma zero em que ambos ganham. Win-win, em que o jogo de soma zero se deixa transformar num jogo de soma zero.

A nossa relação com os Estados Unidos - e isto, as eleições, as candidaturas auguram bem - parece-me vir a tornar-se possivelmente a win-win situation, porque quer o McCain ganhe, quer o Obama ganha para a Europa vai ser melhor do que com o Bush com a administração que lá está neste momento.

 
Dep.Carlos Coelho
- Sr. General.
 
Gen.Garcia Leandro
- Em primeiro lugar, confirmando aqui as palavras do prof. Marques Guedes, de facto é uma situação muito, muito complicada. É uma situação muito complicada como eu tinha ali naqueles 20 sinais premonitores de uma mudança histórica, porque de facto hoje há uma perda do comércio global por aquilo que foi o mundo ocidental, leia-se Europa mais Estados Unidos, da tecnologia e da parte de informação. Portanto, isso está divulgado. Por outro lado, eu iria lembrar o Livro Branco Jacques Delors, quando o Jacques Delors saiu de Presidente da Comissão Europeia não me lembro em que ano foi, mas nesse livro branco houve um dado que não esqueci, era quanto é que custava um produto, qual era a influência das taxas e dos impostos num produto feito na Europa, nos Estados Unidos ou noutras partes do Mundo. Uma garrafa, por exemplo, ou uma caneta.

Na Europa, quando o Jacques Delors saiu, aqui neste produto havia 40% de taxas e de impostos de carácter social, taxas para os governos e imposto social; nos Estados Unidos, 30%; no resto do mundo não havia, à excepção do Japão onde eram 20%. É muito difícil competir nestas condições.

Portanto, qual é a posição da candidatura McCain? A única posição do mundo ocidental é levar a que este mundo onde não há respeito pelos direitos dos trabalhadores, possam aumentar os seus compromissos e as suas responsabilidades, nomeadamente a China e a Índia, porque a China põe produtos na Europa ou noutro sítio qualquer muito baratos. Somos a favor do comércio livre. Mas mais, esta questão da hegemonia ou da grande importância de que há 500 anos a esta parte ou mais, o mundo de origem ocidental tem primeiro Europa, mais Estados Unidos, Europa-Estados Unidos, depois Europa mais Estados Unidos tem, pode-se estar a perder. É uma das conclusões que podia tirar dali.

Vamos passar por um mundo, onde o mundo ocidental perdeu poder face ao que vem aí. Daí que se defenda um apoio às empresas, melhor formação profissional dos trabalhadores e as empresas que empregam mais tecnologia, é por aí que nós, tecnologia mais avançada, podemos chegar. E a candidatura McCain propõe um acordo de comércio livre entre os Estados Unidos e a União Europeia. Porque já hoje, independentemente dos problemas que houve durante a administração Bush, entre a Europa e os Estados Unidos, a rede de interesses económicos é tão grande, estão tão ligados que é muito difícil separar os interesses económicos de um lado e de outro, dos Estados Unidos da Europa. Portanto, um acordo de comércio livre entre a União Europeia e os Estados Unidos beneficiaria muito e protegeria contra esses novos poderes em ascensão.

No que diz respeito à escolha do vice-presidente. É evidente que elas foram escolhidos do modo, a régua e esquadro, ou científico, mas eu não tenho capacidade, apesar de representar aqui o senador McCain, de me colocar na posição dos americanos. Porque a escolha da Sra. Palin foi feita para agradar à direita norte-americana. Direita norte americana que estava a fugir da candidatura McCain ou que o McCain não iria conquistar.

 
Prof.Armando Marques Guedes
- E para ir apanhar os que estão a fugir da candidatura do Obama.
 
Gen.Garcia Leandro
- Sim, sim. Havia muito gente que diz votamos na Hillary Clinton não votamos no Obama, salvo erro 20% da candidatura dos democratas, e há aqui um jogo de tentar acertar. Mas isto não pode ser posto na perspectiva da visão global dos Estados Unidos, é dos republicanos que vão votar. Há uns que já votariam no McCain e outros vão ser apanhados por este discurso que tem que ser considerado apenas como um discursos, é só palavras, que é lip service. Portanto, o que a senhora diz é para aguardar aos outros, depois quem manda vai ser de modo diferente.
 
Dr.Pedro Rodrigues
- Vamos passar para o terceiro bloco de questões, Henrique Regalado do Grupo Roxo.
 
Henrique Regalado
- Caro senador Obama, caro senador McCain, o tema sobre o qual vos vou questionar passa pela saúde, como surgiu nas notícias uma das medidas que Barack propõe passa pelo fornecimento de seguros de saúde aos que mais dificuldades passam. Sabendo que o sistema de saúde norte-americano é um dos que têm um maior elevado custo, considera esta medida concretizável?

 

 

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Henrique, de facto esta universidade é muito especial nem os candidatos americanos quiseram ficar à margem da Universidade de Verão.

Dou a palavra ao João Francisco do Grupo Vermelho.

 
João Francisco
- Caros companheiros, excelentíssimos candidatos presidenciais, a nossa questão é a seguinte: não consideram que a proposta do senador Obama, de retirar as tropas do Iraque no prazo de dois anos, deixaria no país um vácuo de poder que seria trágico para a região?
 
Dep.Carlos Coelho
- Sr. General.
 
Gen.Garcia Leandro
- Relativamente à última pergunta eu já respondi isso anteriormente, é de facto um erro grande, eu julgo que não se pode marcar uma data e a posição da candidatura McCain é muito mais realista, na medida em que ele diz que só se pode retirar quando houver condições de estabilidade e houver um Estado que tenha capacidade de dar segurança. Porque depois há ali um equilíbrio geopolítico que entra o Iraque, entra o Irão, entra a Síria, entra a Turquia etc., que quando foi a primeira guerra do Golfo que foi dirigida pelo presidente Bush pai mais o Collin Powel, eles não quiseram destruir o regime de Saddam Hussein, isto em 91, precisamente pelo vazio geopolítico que se iria criar podia ser ocupado pelo Irão. Aí há uma precipitação e algum irrealismo da candidatura Obama.

No que diz respeito à saúde, de facto, a posição republicana é contra o sistema nacional de saúde. Sistema nacional de saúde porque é muito caro, porque tem muito burocracia, tudo o que seja o Estado a tomar conta leva muito dinheiro na burocracia e não vai direito ao cidadão. No entanto, também se reconhece que os seguros de saúde são muito caros. E, portanto, há que arranjar um mecanismo que leve a que os seguros de saúde possam ser (…)

 

(Um minuto inaudível)

 

(…) médica no mundo, não só nos Estados unidos, mas no mundo. E a outra, tenho aqui da posição do senador Obama, mas deixaria isso para o prof. Marques Guedes. Uma coisa que se pode fazer é, há um sistema de saúde empresarial a nível de Estado, de cada Estado. A nossa posição é que esse sistema de segurança pode ser a nível nacional e não estadual. Portanto, em termos de saúde eu acho que o que está aqui em causa é que ambas as candidaturas concordam como melhorar o sistema de saúde que é muito mau. E há agora mais um filme daquele realizador muito gordo, o Michael Moore, que fala sobre o sistema de saúde americano. Mas o que está aqui em causa é, digamos, o que é a gestão.

Melhorar a saúde, mais apoio ao cidadão de modo mais barato, e que os seguros de saúde sejam mais baratos. É isso que se pretende atingir.

 
Prof.Armando Marques Guedes
- Responder muito rapidamente, começo como o candidato McCain começou, com a segunda pergunta em resposta à pergunta do Grupo Vermelho, Encarnado. Obama, retirada em dois anos, também já respondi, acho absurda a ideia da retirada em dois anos. Devo dizer, acho - para usar as palavras do sr. General - precipitação e irrealismo nos dois casos, acho as duas coisas. Acho que em todo o caso: um, a posição da candidatura do Obama já se alterou face aos novos desenvolvimentos underground; dois, que a posição do Obama, repito, é sair do Iraque sim mas reforçando o dispositivo norte-americano e da NATO no Afeganistão.

O que interessa do ponto vista geopolítico aos norte- americanos não é o Iraque, é a foothold naquela zona do mundo, na Whider middle East. Seja no Iraque, seja no Afeganistão assim como assim já que o Iraque está meio controlado agora preferimos ir para o Afeganistão o que não é tão mau como isso.

Segunda resposta à primeira pergunta, a do Grupo Roxo, relativamente ao que o sr. general usou o termo europeu sem querer, sistema nacional de saúde que é o termo inglês National Health Service, que é Universal Coverage como eles usam nos Estados Unidos, não querem estatizar a ponto de lhe chamar um sistema nacional de saúde.

Eu acho que isto é um exemplo da divergência dada à lógica política-jurídica-administrativa típica dos Estados Unidos, e a diferença entre essa lógica e a lógica jurídica-politico-administrativa da Europa ser muito grande, é um exemplo como os interesses americanos e os interesses europeus podem não convergir.

Eu vou agarrar num exemplo do sr. general, algum de vocês serão Savvy in economics como dizem os americanos, perceberá um bocadinho de economia, eu queria-vos dar uma ideia de porque é que isto tem 40% de valor acrescentado embutido, ou de impostos embutidos, e só 20% no Japão e nos Estados Unidos 30%, muito mais baixo.

Cada vez que preencho os papéis de impostos, (eu sou professor universitário) tenho retenção na fonte, como Presidente do Instituto Diplomático era funcionário público tinha retenção da fonte em acumulação, portanto nem sequer vejo isso faço com a minha mulher os impostos, ela trata da família não tem emprego neste momento, a razão é muito simples, cada vez que eu preencho um papel de impostos, custa-me os olhos da cara como é evidente, acho que estou a ser roubado pelo Estado. E depois mitigo esta sensação com a seguinte convicção, quase todos vocês só entram no mercado de trabalho quando têm para aí 25 anos por causa das universidades, agora acabou a tropa, portanto nos primeiros 25 anos vocês estão à boleia do resto dos contribuintes, reformam-se aos 65 a idade média de vida é 80, os últimos 15 anos vocês estão à boleia do Estado. 25-15 é 40, dos 80 que vocês vivem 50% do vosso tempo de vida vocês não estar a pagar impostos e estão a ser recipientes líquidos. Ora, nos Estados Unidos vocês não são recipientes líquidos nem do ensino que não é gratuito, nem da saúde que também não é gratuita, nem da segurança social porque as vossas empresas fazem tal como no Japão apólices de seguro, um seguro para a vossa velhice. Ou seja, o Estado Norte-Americano não precisa de receber tantos impostos como o Estado europeu, porque o Estado europeu é um Estado assistencial e o norte-americano não. O Europeu tem que pagar 50% da nossa vida e o americano não tem. O que é que isto faz? Se se estabelecer um acordo de comércio livre, tipo NAFTA, entre os Estados Unidos e a União Europeia, nós somos comidos vivos pela assimetria entre os produtos americanos que são colocáveis no mercado de muito melhor qualidade e muito mais baratos, por não terem que pagar ao Estado, do que os europeus. Ou seja, a única maneira de isto ser justo e equitativamente distribuível é convergindo, ou eles ficam igual a nós ou nós ficamos igual a eles. Os ingleses querem que nós ficamos igual a eles, deixemos de ter o Serviço Nacional de Saúde, educação paga pelo Estado, todas as conquistas do Bismark no século XIX.

O Obama quer fazer dos Estados Unidos um sistema igual à Europa, cobertura universal, serviço nacional de saúde, educação universal. As duas soluções são boas para a Europa a alternativa é que não, que é eles manterem um sistema com menos top heavy em termos de segurança social e impostos porque isso, eu não sou só fã da integração económica entre a Europa e a União Europeia, eu cá para mim os Estados Unidos deviam ser o próximo candidato a Estado-membro da União Europeia, era a grande vitória, isto pode parecer uma boutade, não é. Os Estados Unidos estão na NATO.

A última frase, como saberão eu disse isto ao Tomás Almeida Ribeiro hoje, há dois candidatos informais mais uma vez a ser ventilados como próximos Estados-membros da NATO: a Coreia do Sul e o Japão. Obviamente países do Atlântico Norte como nós todos sabemos, não é. Agora se a Coreia e o Japão entrarem na NATO, qual é que é a vantagem? Triangulamos a Rússia e a China. Portanto, é uma grande ideia. Da mesma maneira que os Estados Unidos entrarem para a União Europeia ou fazerem um acordo com a União Europeia, era bom desde que haja uma convergência de sistemas político-juridico-administrativos, que neste momento não há.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigada sr. Prof. Sara Oliveira do Grupo Cinzento.
 
Sara Catarina Oliveira
- Boa tarde a todos em especial aos nossos convidados. Nos últimos tempos temos assistido a uma reafirmação da Rússia que tenta ganhar espaço no sistema internacional através das suas posições e atitudes sistematicamente contrárias às da comunidade internacional. Esta situação, apesar de latente há muito tempo, foi agravada recentemente pelos acontecimentos políticos em países da ex-Federação Soviética, tais como na Sérvia e na Geórgia. Os candidatos têm abordagens diferentes, com Obama a afirmar: “temos que trabalhar juntos em áreas de interesse comum”; e McCain a afirmar “não podemos tolerar a chantagem russa” e que a Rússia devia ser excluída do G8.

Ou seja, uma América previsivelmente mais diplomática com Obama versus uma América mais assente em hardpower/polices com McCain. Quais pensam que sejam as consequências internacionais e/ou eventuais conflitos no caso da eleição de cada um dos candidatos?

O grupo Cinzento gostaria se fosse possível que cada orador respondesse a esta pergunta referindo-se apenas ao adversário. Obrigado.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Sara. João Rodrigues do Grupo Castanho.
 
João Rodrigues
- Boa tarde excelentíssimos oradores. Quase que nos roubavam a pergunta toda. Acho que chegamos à conclusão que são dois candidatos muito parecidos e são os pormenores que vão decidir esta eleição, e há dois pormenores que o Grupo Castanho queria realçar. Que é, apesar da herança que Bush irá deixar para qualquer um dos candidatos, mas em especial para o McCain, e as luvas com que o candidato Obama usa quando fala da Rússia e quando fala do Irão. Muito obrigado.
 
Prof.Armando Marques Guedes
- Primeiro vou começar a responder à pergunta do Grupo Castanho à segunda pergunta porque me parece mais fácil de responder e a primeira decorre logicamente da segunda, a primeira pergunta, embora certamente não tenha sido artilhado dessa maneira.

A pesada herança do Bush. A pesada herança é muito pesada de facto, mas o grande peso da herança do Bush, ao contrário, em minha opinião, do que tem sido argumentado pelo partido republicano, a pesada herança e basta ver a posição dos republicanos é relativamente à política interna norte-americana. Eu acho que do ponto de vista da política externa o Bush tem no essencial, esta é a minha leitura, tido razão. Acho que o Bush tem feito - e vou ao encontro de um dos comentários que foi feitos en passant ao apresentar a pergunta, pelo Grupo Castanho -, a grande diferença é uma diferença retórica.

Ou seja, o partido republicano tem utilizado uma retórica dos neo-cons, neo conservadora, muito agressiva, desnecessariamente agressiva e por isso menos eficaz porque menos diplomática; do que o partido democrático utilizaria, e o que o Obama indicia a querer fazer.

As luvas de pelica que o Obama tem usado relativamente à Rússia têm sido, foram antes da invasão russa da Geórgia.

Segundo ponto, o Grupo Cinzento, a reafirmação da Rússia. As posições contrárias da Rússia relativamente às da comunidade internacional que têm sido absolutamente brutais.

Um, o Obama tem dito que quer trabalhar com a diplomacia, eu lembro-me sempre do governo Guterres e a ideia do diálogo, como se o diálogo resolvesse tudo o que claramente não é verdade. Eu tenho a maior das dúvidas, a maior das dúvidas que a partir do momento em que a Rússia invadiu a Ossétia e a Abecásia, passando por território não disputado na Geórgia, o Obama mantenha a mesma linha. De resto, a impressão que tenho é que, se o Obama for eleito, em Janeiro quando tomar posse vai ser testado na primeira semana pelo islão político radical e pelos russos. Como os últimos presidentes têm sido. Vão obrigá-los, lembrem-se que o Clinton na primeira semana depois de tomar posse teve que utilizar mísseis por causa de ataques que houve na África Oriental. Cheira-me que é o que vai acontecer.

O McCain “não podemos tolerar a atitude da Rússia”, é a minha posição pessoal, Armando Marques Guedes, e é a posição que eu acho que a candidatura do Obama vai assumir.

O que eu tenho dúvidas e francamente tenho dúvidas é que, ou o McCain ou a Sarah Palin tenham conhecimentos técnicos suficientes e apoio logístico num congresso que está dominado pelos democratas, para conseguir concertar uma política internacional dura, que requer o apoio do senado como sabem, do congresso, de resto, como sabem. Enquanto no caso do Obama. Um, o Obama tem mais valias técnicas, ele tem o presidente da comissão de negócios estrangeiros do congresso, Joe Biden, dentro da candidatura dele e é do partido que por acaso controla o congresso também.

Portanto, ao contrário do que tem sido o discurso dos republicanos, eu acho que a administração, o grupo, a equipe democrática tem mais valia técnica relativamente a uma crise internacional e a garantia do apoio de um congresso que está do lado deles. Os republicanos têm menos valia técnica. Ninguém me convence que a sra. Palin é uma especialista em relações internacionais ou que o McCain, por quem eu tenho o maior respeito, também o seja. E tenho a certeza que depois de uma campanha que rodou à volta da Hillary Clinton e do Obama, um congresso que acabou de ser eleito em eleições intermediadas com as eleições presidenciais, que é um congresso dominado pelos democráticos, vá apoiar aventureirismo militar, que é como vão construí-lo, da sra. Palin.

 
Gen.Garcia Leandro
- Nesta questão das relações internacionais, historicamente os dois partidos têm posições muito semelhantes, há mais diplomacia da parte do partido democrático trabalhar com os outros e mais força do partido republicano. No entanto, estas declarações que são feitas agora nas candidaturas não são para ser levadas à letra, quer dizer, porque independentemente da tal valia técnica que podem ter ou não ter, o tal apoio no senado ou no congresso, o que acontece é que a equipa do Conselho Nacional de Segurança da Casa Branca, da Secretaria de Estado, do Departamento da Defesa, todos eles é que vão fazer essa política para levar a uma solução.

Portanto, nesta questão das relações internacionais, da estratégia há uma coisa que se chama gesticulação. Gesticulação é fazer uns gestos que possam levar os outros a compreender que nós podemos vir a actuar, mas medidas militares fortes contra qualquer destes países serão tomadas com muito cuidado, até porque independentemente desta questão interna que o Prof. Marques Guedes falou, há os limites de intervenção americana no exterior.

Esses limites da intervenção americana no exterior são não só marcadas pelo orçamento, que qualquer que seja dos presidentes que seja eleito, qualquer deles vai ter muitas dificuldades, como a estrutura das forças armadas. Porque houve uma alteração na estrutura das forças armadas feitas pelo antigo Secretário de Estado, Donald Rumsfeld, que foi completamente inadequada em relação aos tempos actuais. O que é que eles pensaram? Futuras guerras que também vão beneficiar a indústria de armamentos norte-americana e alta tecnologia norte-americana, Estado contra Estado, grupo de nações contra coligação de nações. E portanto, tudo quanto são satélites, aviões, navios, submarinos, mísseis tudo isso é aumentado, o que é diminuído são os homens ou as mulheres no terreno, do exército e dos marines. Bem, o que acontece hoje é que, os Estados Unidos não têm capacidade para abrir uma terceira frente noutro lado qualquer. Portanto, tem que haver uma grande reforma das forças armadas americanas e do departamento de defesa para se poder dar resposta a isto, porque eles realmente têm os mísseis, os aviões tudo isso, se calhar é importante mas não é tudo. Têm que fazer uma reforma voltada para a parte dos efectivos humanos, que são a parte mais importante.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Muito obrigado sr. General. Vamos passar para o último bloco de questões dos grupos Rafael Remondes do Grupo Verde.
 
Gen.Garcia Leandro
- Esse é um grupo simpático, o grupo verde, eu acho.
 
Rafael Remondes
- Tenho que concordar consigo. Queria saudar os presentes, dizer que interpretaram na perfeição os candidatos americanos e a pergunta que o grupo verde tem para lhes fazer é em relação à política externa.

Que pensam os candidatos fazer em relação ao Irão e à Coreia do Norte, tratam-se de ameaças nucleares e militares, e em relação ao Médio Oriente se vão continuar a apadrinhar Israel nos seus conflitos externos?

Muito obrigado.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Rafael, a última questão dos grupos João Miguel Carvalho do Grupo Bege.
 
João Miguel Carvalho
- Boa tarde, eu estive a ler os programas eleitorais de cada candidatura para tentar encontrar algumas diferenças, a certa altura encontrando várias, decidi dar um passo atrás e ver quais as áreas que cada candidatura considerava importante o suficiente para dedicar um programa sectorial próprio. E havia várias que eram comuns normais, a educação, a saúde, a segurança interna, o Iraque; mas houve quatro que me suscitaram a atenção porque mereceram a atenção duma candidatura e doutra não. E antes de dizer quais são essas quatro, gostaria que me respondessem porque essa área é suficientemente importante para merecer uma atenção própria do candidato e que comentário lhe merece o outro candidato ter escolhido outras áreas que não essas.

E essas quatro áreas são: na parte do senador Obama tem um programa sectorial próprio para as relações externas, coisa que me surpreendeu por acaso o senador McCain não ter, e tem um plano sectorial próprio para políticas das mulheres, que tendo o senador McCain uma vice-presidente também me surpreendeu não ter. Mas por sua vez o senador McCain, tem um plano sectorial próprio para o programa espacial e tem outro próprio só para a Segunda Emenda, para o direito a possuir armas, para facilitar o direito a possuir armas. Gostaria de saber quais os comentários que fazem a isso?

 
Dep.Carlos Coelho
- Sr. General.
 
Gen.Garcia Leandro
- Em relação à primeira, a política externa no que diz respeito à Coreia do Norte é igual, é igual e vem já na lógica, ou na sequência do que tem sido feito pela administração Bush, que é eliminar as armas nucleares com o apoio de uma coligação internacional e evitar uma coligação Coreia do Norte/Irão. Isso tem feito com algum sucesso relativamente a um regime que sob o ponto de vista interno está a satisfazer que é regime da Coreia do Norte, e com a Coreia do Sul, com a Rússia, com a China, com os Estados Unidos e com o Japão, tem-se feito um cerco aí à Coreia do Norte que está a resultar sob o ponto de vista de resultados. A Coreia do Norte está a ceder, e eventualmente, até vai desfazer reactores nucleares. O aspecto mais perigoso é esta relação Irão/Coreia do Norte que tem que ser evitada a todo o custo.

No que diz respeito ao Médio Oriente é algo que é muito complicado de resolver, porque de acordo com as estatísticas não há nenhum presidente americano que seja eleito sem que tenha o apoio do lobby judeu. No entanto, hoje já se discute em algumas universidades americanas e Think Tanks, quais são as vantagens práticas que têm vindo, para os Estados Unidos darem sempre apoio a Israel. E portanto, porquê não apoiar outros países da área. O que foi tentado pelo presidente Cárter, quando deu o apoio ao Egipto, fez o acordo com o Egipto e fez com a Jordânia também. É realmente uma questão que não vai sair na agenda de política externa. Eu, pessoalmente, nalgumas aulas que dou, tenho dito que não se resolve o problema do médio oriente sem resolver o problema da Palestina, tudo o resto anda à volta disto. Resolve-se o problema da Palestina/Israel ou não.

Depois as diferenças. De facto também fiquei admirado de não haver no programa do senador Obama algo sobre o aspecto espacial, é, digamos, algo importante que McCain pôs. A Segunda Emenda aí na questão das armas, a posição do senador Obama é clara, é contra, é a favor do controle, isso às vezes aparecem, nós nos vários documentos que vemos até pela internet, acho que aquilo não está arrumado da mesma maneira, ele tem uma posição de controle das armas através dos sistemas estaduais, - portanto, existe.

No que diz respeito às relações externas, no caso do senador McCain está distribuído por muitas áreas, está distribuído por muitas áreas a actuação nestes pontos que eu tenho aqui.

Das mulheres, não me lembro, mas o facto de ele ter escolhido uma senhora, e como diz o Prof. Marques Guedes muito bonita, e até de óculos fica bonita, dá resposta a isso.

Mas talvez valha a pena, porque nem sempre consultamos os mesmos sites, ver como isso está arrumado. O que é novidade aí, ou que é novidade da parte de McCain foram dois pontos que eu falei primeiro que era, contra leis feitas pelos juízes, a reformar o governo porque o governo foi pensado para os anos 50 já não está em condições de se confrontar com o mundo actual, e a questão de voltar à conquista espacial coisa que o outro esqueceu, as outras questões estão mais ou menos tratadas.

 
Prof.Armando Marques Guedes
- Ora bem, eu vou começar pela segunda pergunta mais uma vez e depois na primeira. A segunda pergunta, a existência surpreendente dum programa sectorial próprio para a política externa, no caso do programa Obama, no caso das mulheres haver um programa claro da candidatura Obama, não haver um programa claro sobre o espaço, e não haver um programa claro sobre as mulheres no caso da candidatura do McCain.

Acho que o sr. General respondeu muito bem, isto resulta da divisão funcional que fazem entre as várias pernas que as respectivas candidaturas têm, se olharem para a candidatura do Obama de facto a candidatura não tem, eu devo dizer que eu sendo um fanático do programa espacial, acho que é o futuro da humanidade como é óbvio, parece-me evidente, parece-me uma carência gritante no programa Obama. Parece-me que a dinâmica da Nasa torna absolutamente, e os sucessos que tem tido a Nasa depois de 20 anos de insucessos, torna inevitável que isto vá para a frente.

Lembro, que no mesmo discurso que o George W. Bush anunciou à nação a decisão de invadir o Iraque caso não cumprissem aquelas datas, a segunda parte do discurso foi o Bush a dizer que até meados, até 2025 uma missão tripulada iria a Marte. No mesmo discurso em que declarou a guerra, o ultimato ao Iraque. Acho pena.

Queria relativamente à primeira pergunta sobre a política externa, do Grupo Verde, e com uma parte sobre Israel, sobre a política externa, sob as ameaças constituídas pelo Irão e pela Coreia do Norte foram os dois exemplos que escolheram, e depois a continuação do apoio a Israel. Eu queria começar com uma boutade, houve uma reunião certamente apócrifa, esta história é certamente apócrifa, foi uma reunião hipotética que houve em Nova Iorque, nas Nações Unidas, sobre a resolução dos problemas da fome no resto do mundo, este era o tema da reunião. Conta esta história, esta boutade, que a reunião falhou completamente. E falhou por três razões: primeiro, porque a delegação do Médio Oriente nas Nações Unidas não percebia o que é que a palavra Resolução queria dizer; em segundo lugar, porque o grupo europeu das Nações Unidas não percebia o alcance da palavra fome; e, em terceiro lugar, porque os norte-americanos não percebiam de todo o que é que queria dizer “What a hell does it mean “the rest of the world””. E portanto falhou completamente. (Risos)

Dito isto, a política externa norte americana tem no programa republicano dois adversários óbvios, - no programa tal como ele está escrito e aparece nos sites da internet afectos à candidatura republicana -,  Irão e a Coreia do Norte. Não tem porque foram feitos os textos e os sites foram lá postos, a Rússia, porque ainda não era uma ameaça eminente. Agora, eu parece-me que a Rússia é uma ameaça, a ausência da Rússia programática nos sites e nos programas do partido republicano, responde conjunturalmente ao facto de que a Rússia era um aparente aliado e havia uma ligação muito boa entre o Vladimir Putin e o George W. Bush até há um mês. Quase ao dia a um mês, foi no dia 7 de Agosto que a Rússia mostrou as verdadeiras cores que tinham.

Segundo ponto, Israel. Sou absoluto apoiante, eu Armando Marques Guedes e eu Barack Obama, de Israel. Não vale a pena, está completamente saturado de desinformação a questão Israelo-Árabe, não estou de todo de acordo. Quem é que acha, ponha o dedo no ar se faz favor, que se o problema palestiniano acaba a Al-Qaeda, não acredito que ninguém ache. Não é verdade pura e simplesmente, que o problema palestiniano esteja a montante de tudo. Na política não há amigos, na política há interesses, na política externa isto é claramente verdade. Se na política, como disse o Churchill, olhem para, não quero fazer do Churchill uma figura oracular, olhem para quem são os adversários e os amigos de Isarel para que verem de que lado é que vocês querem estar. Vou fazer uma asserção: um, Israel é o ocidente no médio oriente. Somos nós lá.

Segundo ponto, quem é que são os adversários os inimigos de Israel? Eu vou elencar: o Irão, a Síria, a Rússia, a Venezuela. Quem é que são os amigos de Israel, com que Israel tem Tratados? a Turquia, o Egipto, os Estados Unidos e o ocidente. De que lado é que vocês estão? De Israel, ponto final.

 
Dr.Pedro Rodrigues
 - Bom terminámos as perguntas de grupos, vamos entrar agora na fase das perguntas livres, tenho já duas inscrições, vamos fazer blocos de três questões. A primeira intervenção vai ser feita pelo Tiago Laranjeiro. Só queria sublinhar mais uma vez, sei que estou a ser repetitivo, mas como os meus apelos não têm sido cumpridos vou mais uma vez pedir-vos compreensão para serem concisos e fazerem apenas uma pergunta.
 
Tiago Laranjeiro
- Boa tarde, peço desculpa pela minha voz mas é o que dá dormir com a janela aberta. Após os atentados de 2001 ou usando-os como desculpa, criou-se o Patriot Act. Os direitos dos cidadãos foram muito falados na altura e continuam a sê-lo em especial na área da privacidade, e aqui entra em linha uma questão muito cara ao Dep. Carlos Coelho, o Echelon. São para manter estas medidas de controle dos cidadãos? Obrigado.
 
Dr.Pedro Rodrigues

- Obrigado Tiago, outro Tiago mas agora Gonçalves.

 
Tiago Gonçalves
- Muito obrigado Pedro, muito boa tarde. Antes de mais dar os parabéns aos dois oradores general Garcia Leandro e prof. Armando Marques Guedes, que souberam interpretar perfeitamente o seu papel aqui hoje de mandatários das candidaturas, e penso que nos simplificaram um bocado a compreensão destas questões.

Em primeiro lugar, gostaria de reforçar aquilo que disse o prof. Armando Marques Guedes em relação ao discurso de Barack Obama, eu também sou um grande apaixonado pela sua oratória. E além desse discurso de Berlim até digo, e até recomendava que também (se tivessem oportunidade) que visionassem o discurso que faz no fim dos primeiros caucasos do Iowa, que é um discurso também absolutamente formidável. Mas fico-me por aí, quanto ao resto, com Barack Obama tenho muitas reservas, e se tivesse dúvidas em relação a essas reservas elas ficaram semi dissipadas pela sua intervenção na apresentação. É que aquilo que apresentou aqui mais uma vez, e que tem sido a tónica da candidatura de Barck Obama vai no sentido da retórica anti Bush aplicada a McCain e depois o change, change, change, absolutamente mais nada, o resto é tudo um vazio. E portanto, é por isso também que eu tenho dúvidas em relação a Barack Obama.

Retirando desta introdução, a minha pergunta ia no sentido, do inusitado interesse que estas eleições estão a despertar na Europa, de facto Barack Obama até já veio discursar a Berlim, os europeus estão absolutamente entusiasmados e se a Europa votasse nestas eleições claramente Barack Obama já tinha ganho, escusávamos de ter feito as eleições.

Aquilo que eu quero saber é: poderá este interesse da Europa nestas eleições ter alguma influência no resultado, não poderá isto até virar-se contra Barack Obama? Não será até um próprio remoque já que John McCain está a dar com o seu lema de candidatura “Country first”, quando o Barack Obama aparece um bocado como o arauto agora da política mundial e do softpower? Era só isso.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Muito bem Tiago, obrigado. Ivan Duarte.
 
Ivan Duarte
- Senador Obama e senador McCain, a nossa pergunta vai ser muito frontal, relativamente à política externa gostaríamos que o senador McCain nos explicasse porquê a atitude radical em relação à possível exclusão da Rússia do G8, e gostaríamos de saber qual a posição do senador Obama e como é que analisa esta atitude radical por parte do senador McCain?
 
Dep.Carlos Coelho
- Prof. Marques Guedes.
 
Prof.Armando Marques Guedes
- A saída da Rússia do G8. Acho péssimo. Acho péssimo por uma razão muito simples, o G8 é um dos únicos fora internacionais onde nós podemos pelo menos tentar dialogar com a Rússia. Acho pena se isto acontecer. O G8 lembrar-se-ão os menos novos que aqui estão, que o G8 não se chamava G8 chamava-se G7, e durante muito mais tempo do que se chamou G7 e do que se tem chamado G8, chamava-se G7+1. O que me parece desejável é marcar este ponto, e chamar em vez de G8, tornar a chamar G7+1. Foi por favor geopolítico, mas favor quand même que a Rússia passou a incluir o G8 e deixou de se usar a terminologia G7+1. Simbolicamente distanciá-los, pô-los à distância de braço estendido, G7+1 mais uma vez, parece-me uma boa ideia. Não é uma ideia que desagrade aos russos, porque os russos responderam estamos nas tintas para o G7 e para o G8. Um, não acreditamos que vocês consigam, “if you want to do it, just do it”. O que me parece de uma arrogância absurda dos russos. Acho que obviamente que numa cabine de controle de tomadas de decisão estratégica que Davos não foi, mas que uma organização governamental G8 é, informal que seja enquanto organização internacional, para tomadas de decisão internacional, parece-me essencial que exista, parece-me absurdo que exista contra um rough state, como claramente a Rússia tem demonstrado ser.

Inusitado interesse do Obama na Europa e se isto não é contra as hipóteses do Obama. Não é bom para a imagem do Obama já, que o americano e o country first, o slogan, como disseram demonstra isso, põe os interesses norte americanos acima de quaisquer outros interesses, mesmo dos aliados principais que sejam dos norte-americanos. Devo-vos dizer repito: oiçam, todo o enquadramento do discurso de Berlim do Obama é dizer “nós temos aliados bestiais no mundo, há gente sensacional amigos nossos, o Japão é nosso amigo, a Coreia é nosso amigo, We have no better ally than Europe”. Ele diz isto 10 vezes, todo o discurso é enquadrado nisto, dizer que foi na Europa que começou a nossa aliança, foi na cidade de Berlim que começou com a libertação de Berlim com a ponte aérea por causa dos Russos, com a queda do muro de Berlim em implosão em 89, e implosão 91 que se seguiu rapidamente da União Soviética. Foi em Berlim que a liberdade se estabeleceu enquanto dimensão hegemónica da ordem internacional e é em Berlim que se vai resolver tudo outra vez.

Ele já está a dizer, oiçam com atenção, que a Rússia é o nosso adversário, que a Europa é o nosso aliado, e que é na ligação transatlântica, e depois em cadeia com os 5 minutos em que diz, porque é na relação transatlântica, é no Afeganistão que devemos pôr atenção. Oiçam o discurso do Obama, isto não é por via interpretativa que eu lá chego.

Patriot act e a privacidade. Completamente de acordo e completamente de acordo. Foi assim que comecei a ter admiração por ele, com o que o eurodeputado, Dep. Carlos Coelho, e meu amigo faz no seu blog, no seu site.

Eu sou de opinião há muito tempo e escrevi, e publiquei sobre isto e tenho dito isto em conferências, é uma coisa trivial dizer, que entre a liberdade e a segurança há uma antinomia dificilmente redutível. Que a grande ameaça que há e acaba com este exemplo, é, nós todos vimos a União Europeia começar, quando o dr. Salazar e os britânicos eram a favor da EFTA mas contra a União Europeia, era a dizerem integração económica só, política era só o que faltava. Quando se chamava Comunidades Económicas Europeias. A seguir, por via da lógica neofuncionalista, como os analistas lhe chamaram, começou por arrastamento e depois reificado de alguma maneira em Maastricht, e depois em Nice, e depois na ideia de Giscard de uma construção Europeia, a ideia de haver uma integração política e passou a chamar-se União Europeia, que é um termo protofederalista de alguma maneira. Veio a economia depois veio a política, quanto à integração a nível de segurança e defesa, nicles. Política externa, nicles. Nada disto conseguiu porque estão encostados à soberania como área e os Estados-membros não largam mão daquilo que está encostado à soberania.

Depois do 11 de Setembro nós temos uma coisa absolutamente estrondosa, segurança e defesa é facílimo, até já battlegroups da União Europeia há, headline goals para as polícias, para os serviços de informações é canja, a gente marca um headline goal 2010, em 2007 já tinha sido ultrapassado, 2015 para a defesa, em 2007 já tinha sido ultrapassado a nível dos battlegroups. Do ponto de vista político, vejam os tropeços sucessivos do Constituição e dos Factótum da Constituição das pseudo não-Constituições, que era uma Constituição retocada que é o Tratado de Lisboa, um tratado reformista como se chamava, tropeçou, vejam o nacionalismo económico, tropeçou.

A Europa neste momento está a nível de segurança e defesa a consolidar-se, a nível de informações a consolidar-se, a nível económico e político onde era mais fácil, a deslaçar. O grande perigo para a Europa é a criação de uma Europa securitária.

 
Gen.Garcia Leandro
- Relativamente ao Patriot Act, eu gostaria de dizer o seguinte: as medidas foram necessárias naquela altura e portanto elas têm que ser transitórias. Têm que ser transitórias e portanto há que fazer uma revisão desta decisão, deste acto, de modo a que se possa garantir a segurança dos Estados Unidos como nação e dos seus cidadãos sem pôr em causa os direitos e as liberdades individuais, coisa que nós temos exemplos na Europa. A Itália e a Espanha confrontaram-se ao longo dos últimos anos com imensos problemas de segurança contra o crime organizado, e a Itália e a Espanha têm vindo a resolver esse problema sem pôr em causa os Direitos, Liberdades e Garantias dos cidadãos. Os Estados Unidos têm que caminhar para aí.

Depois no que diz respeito ao candidato Obama, de facto a sua posição é muito tipo Hollywood, aliás, todo o establishment Hollywood e das artes e da cultura e da televisão estão normalmente ao lado dos candidatos democratas, e tudo aquilo é um grande espectáculo, uma grande encenação. O que vai acontecer não sei, mas em área de política externa, como dizia há bocadinho, as questões não vão ser geridas de um modo muito diferente.

Agora o resultado da visita a Berlim, tem esta interpretação muito correcta do prof. Marques Guedes, quer dizer aquilo não significa só ir a Berlim, tem uma ligação com a Europa, tem uma ligação com a segurança, tem uma ligação com a ameaça da Rússia. Mas, de facto, quem vai eleger são os cidadãos americanos, como é que isto resulta nas eleições americanas? Sinceramente não sei dar a resposta.

No que diz respeito à Rússia no G8 ou no G7. A proposta do senador McCain é uma proposta também tipo para meter medo. Como eu dizia há bocadinho, é de gesticulação. Não quer dizer que quando se passar à vida real, se o senador McCain for eleito isto aconteça obrigatoriamente. Ele, porque é que ele sugere a exclusão da Rússia? Ele diz que a Rússia foi integrada no G7+1 ou no G8 porque houve uma época que tinha prometido respeitar a democracia, todo o sistema de direitos, liberdades e garantias, não ameaçar os seus vizinhos, etc., etc., E agora toda aquela cultura da antiga União Soviética está a vir ao de cima, com um regime autoritário, que é gerida pelas pessoas que vêem do intelligence, e portanto eles não dão qualquer garantias de serem um estado democrático, e por isso devem estar fora do G8.

O senador McCain vai mais longe e diz que se deve tirar a Rússia e meter o Brasil. Mas o que vai acontecer depois é uma gestão deste processo, eu não acredito que a Rússia saia em qualquer das situações.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Muito obrigado sr. general. Vamos fazer um último bloco de três questões, Alexandre Veloso.
 
Alexandre Calheiros Velozo
- Muito boa tarde, prof. Armando Marques Guedes, general Garcia Leandro. O prof. Armando Marques Guedes já deu bastantes informações a propósito disto, mas eu queria pedir-lhe se podia formalizar quais as grandes linhas das políticas que Barack Obama pretende tomar.
 
Paulo Pinheiro
- Muito boa tarde, reiterando os cumprimentos já efectuados. Vou respeitar o primeiro pedido do Pedro Rodrigues, mas se possível não vou respeitar o segundo mas serei muito célere.

Em primeiro lugar, gostaria de centrar esta pergunta em relação à ONU. Actualmente estamos perante uma crise do softpower, o que significa que actualmente os Estados Unidos unilateralmente ou tentando ganhar apoios tanto da Europa como fora da Europa de liderar a diplomacia mundial, mas tanto o Conselho de Segurança tem sido ineficaz, as próprias negociações em sede das Nações Unidas têm sido ineficazes, significa que o maior financiador das Nações Unidas está a esquecer a ONU ou já não acredita na sua existência. E o que é que os candidatos têm de opinião e o que é que hão-de fazer em relação a isso?

Segundo, em termos das próprias eleições e de estratégias eleitorais, quais são os vosso principais trunfos enquanto Estados?

E, em terceiro, gostaria que fossem sinceros e não tanto políticos em apontar o vosso principal defeito.

 
Rita Batista
- Boa tarde a todos, segundo a revista de imprensa que nos foi gentilmente cedida ontem, McCain disse que se ganhasse iria apanhar Bin Laden, e que Obama não conhece como funciona o mundo. O general Garcia Leandro diz que dúvida que Bin Laden possa ser apanhado. Pergunto-lhe se estando a duvidar do que McCain disse, está a duvidar que esse candidato saiba efectivamente como funciona o mundo? Ou se, e remetendo para palavras de Sarah Palin este vai ser mais um plano e missão a resolver por Deus? Obrigada.
 
Dep.Carlos Coelho
- Muito obrigada. Sr. General.
 
Gen.Garcia Leandro
As linhas do programa do senador Obama não irei falar, o prof. Marques Guedes falará nisso, não é.

No que diz respeito às Nações Unidas é um drama terrível, os Estados Unidos foram sempre contra as Nações Unidas, e foram um dos criadores das Nações Unidas, aliás por iniciativa do presidente dos Estados Unidos na altura. Desde o momento em que começou a haver uma maioria nas Nações unidas não favorável aos Estados Unidos, os Estados Unidos passaram a pôr tudo em causa.

Eu trabalhei também nas Nações Unidas, trabalhei na NATO e Nações Unidas, comandei uma missão das Nações Unidas no Saara Ocidental em 96, ano em que foi a reeleição do presidente Clinton e que foi a eleição do Kofi Annan para Secretário Geral, e acompanhei isso em pormenor, estive lá 9 meses e a minha cadeia de televisão era a CNN e vi todas essas campanhas para Secretário Geral das Nações unidas e para presidente dos Estados Unidos. O que aconteceu é que nós que estávamos no terreno nas Nações Unidas começámos a ter menos dinheiro, menos dinheiro, menos dinheiro. Porquê? Porque havia o problema da reeleição do Secretário-Geral das Nações Unidas que era o Brutus Gali, e ele tinha os americanos contra ele e não queria mais dinheiro, estava na esperança de ser reeleito que não foi. Depois o presidente Clinton também estava debaixo de fogo e também cortou o dinheiro. E da candidatura republicana que era na altura o senador Bob Dole, atiraram coisas para dentro dos Estados Unidos como que as Nações Unidas retirariam a soberania aos Estados Unidos e podia um dia haver uma invasão das Nações unidas aos Estados Unidos, isto é uma coisa inacreditável mas é dito para aquele público.

O que é que acontece? Ao mesmo tempo que eu estive no Saara Ocidental, estava o Prof. Freitas do Amaral como Presidente da Assembleia-Geral, e o Prof. Freitas do Amaral tem um discurso notável, um dia recebeu uma comissão, uma representação da comissão mundial das mulheres, ou da Organização Mundial das Mulheres no dia 14 de Junho de 96, eu não esqueci, esse discurso porque ele apresenta factos concretos. A sua passagem pelos Estados Unidos pôs muito em causa a bondade que ele achava que existia nos Estados Unidos, e então ele diz o seguinte: Os Estados Unidos são os maiores beneficiários das Nações Unidas, os Estados Unidos têm 25 ou 26% do PIB mundial, só pagam para as Nações Unidas, se pagam 23%, (e não pagam, na altura deviam uns biliões de dólares). Depois a estadia do quartel-general das Nações Unidas em Nova Iorque dá umas vantagens financeiras para os Estados Unidos enorme. Por outro lado, dizia-se que as Nações unidas eram muito despesistas e estas missões todas que existem pelo mundo. Ele provou com números que as missões de paz, The peace support operations, que as Nações Unidas fazem em todo o mundo tinha o orçamento menor que o Estado de Nova Iorque. Por outro lado, 47% das aquisições e equipamento que as Nações unidas faziam, eram feitas a empresas americanas. E, portanto, no meio disto não pagavam.

Portanto, o que está agora a apresentar eu vivi isso em 96 e havia mais para trás. Portanto, (falha na gravação) nomeadamente, o Conselho de Segurança, mas que vai ser muito difícil todos estes países de acordo. É claro que havia países que devem entrar no Conselho de Segurança como o Japão, eventualmente o Brasil, a própria Índia vamos ver.

 

(Um minuto inaudível)

 

(…) que a honestidade do senador McCain que tem um registo de vida de grande honestidade, depois quando isso é transformado na prática é que eu tenho as minhas dúvidas. Mas há sempre dias de sorte, eu, por exemplo, hoje espero que me saia o euromilhões. (Risos)

O meu principal defeito, o dele, ele já o disse, foi o ter-se divorciado da primeira mulher quando veio do Vietname passado uns anos. Tem uma história de casamentos um bocadinho complicada. Tanto ele como o senador Obama, confessaram com uma grande honestidade. Acho que essas questões de comportamento pessoal, elas dão alguma credibilidade ou tiram.

O que esta manhã quando vínhamos no automóvel estive a dizer ao prof. Marques Guedes, é que todos os combatentes, todas as pessoas que vêm de missões externas de combate têm uma dificuldade de adaptação ao país. Isto é mais agravado quando se esteve preso como ele cinco anos e tal no Vietname. E, portanto, tudo isso tem que ser compreendido nessa base de uma dificuldade de adaptação, uma dificuldade comportamental.

Eu senti isso também por mim, ao longo de todas essas missões que eu fiz no estrangeiro e quando era mais velho mais difícil era de me adaptar. Eu tinha 56 anos quando estive nas Nações Unidos, estive 9 meses ou 10 meses nas Nações Unidas em 96, e a dificuldade que eu tive para me adaptar depois aqui à vida de Portugal foi muito grande. Eu teria podido fazer uma carreira internacional nas Nações Unidas que não quis fazer, tinha também trabalhado na NATO, mas a diferença entre a qualidade da NATO e a União Europeia em termos de output, não tem nada a ver com as Nações Unidas, as Nações Unidas são um mundo, mas isso dava para outra conferência. Muito obrigado.

 
Prof.Armando Marques Guedes
Ora bem, muito rápido então nos meus quatro minutos.

Primeiro – a formalização das grandes linhas políticas do Barack Obama. Eu suponho que não seja só juntar aquilo que eu fui dizendo avulsamente mas dar o racional por detrás das grandes linhas do Barack Obama o que tentarei fazer.

Em segundo lugar – a pergunta sobre as Nações Unidos e o ocaso aparente das Nações Unidas.

Começo por ordem desta vez, pela formalização, ou seja, decantação, se calhar das grandes linhas da política do Barack Obama.

A todos não terá passado despercebido que no princípio do século XXI, em que estamos em 2008 que o mundo é muito diferente do mundo que era no século XIX. Não estou a falar no século XX, estou a falar no século XIX, na época vitoriana por hipótese. Vamos pensar por hipótese, sendo ainda mais preciso em 1870-1880 nesta altura, no reinado de D. Luís, cá em Portugal.

Na altura daquele rotativismo que havia com aquelas teorias regenerativas, que se centram na história portuguesa. É muito diferente a história dessa altura, a lógica dessa altura, a dinâmica política-económica dessa altura; e a lógica e a dinâmica de hoje em dia, do mundo de hoje em dia.

Quais é que são os partidos políticos que nós temos hoje em dia, as famílias políticas como na Europa são chamadas. Os socialistas, os sociais-democratas, os conservadores, os cristãos democratas, ou seja, os mesmos que no século XIX. Isto é ridículo, para dizer o mínimo, não bate a bota com a perdigota. Então se a lógica e a dinâmica são completamente diferentes, porque carga de água é que a divisão de funções e afectação de programas políticos é a mesma que no século XIX? Está na cara que vai haver uma crise de representação, e uma crise da figura dos políticos. Os políticos cada vez vão começar a dizer mais coisas que querem dizer menos para as novas gerações. Cada vez são mais irrelevantes os discursos políticos.

Imaginem o que é que é um discurso socialista ideológico, ou um liberal ideológico, ou um cristão democrata ideológico na televisão, é que as pessoas desligam a televisão zappam no minuto a seguir, porque aquilo não tem relevância nenhuma para o meu dia a dia.

Ou seja, há uma crise da política por via da crise da representação política, enquanto cristalizada nas figuras, nos monumentos políticos que são os partidos políticos enquanto incorporação, entidades que dão corpo nesse sentido de dinâmicas políticas no mundo contemporâneo.

Quando o Barcak Obama diz, e agarro aqui já no Barack Obama, que “We are waiting for ourselves, we want change”, é isto que o Obama está a dizer.

Eu lembro-me de uma fotografia notável no Palácio de Inverno em S. Petersburgo do Vladimir Illitch Olianov – Lenine, e diz por baixo da fotografia em cima duma daquelas mesas de mogno dos Czars linda, com dois telefones daqueles gigantescos de baquelite em cima, estão a ver. E está ele sentado com uma posição czarista e diz por baixo, o camarada Vladimir Illitch Olianov (Lenine), necessita de dois aparelhos telefónicos para conduzir o futuro da gloriosa revolução proletária soviética.

O que é que isto quer dizer? Em finais do século XIX princípio do século XX as tecnologias, - os militares sabem isso perfeitamente, os políticos sabem isso perfeitamente -a TSF, os rádios, os telefones promoviam a centralização política. O que é verdade é que hoje em dia os telemóveis, os sms, a internet promovem a descentralização, “in other words, they empower people”. O futuro político está em nós. Em mim e em vocês, não é no eurodeputado, é no cidadão que está a preencher funções de eurodeputado, e é isso que o McCain está a chamar para tornar normal, neutralizando o desfasamento que há entre os grandes monumentos e figuras políticas e a participação política real no mundo contemporâneo.

É daqui que vem a política do Obama, é aqui que há uma mais valia na política do Obama. É aqui que ao contrário do que diz, que a relativa inexperiência do Obama em funções executivas e nos lobbies de Washington, é uma mais valia e não uma desvalorização. Ele não tem os vícios da máquina.

Mais, dizer que a política internacional não existe no programa do Obama é absurdo, quando o número 2 do ticket do Obama é o presidente da comissão de relações internacionais do congresso norte-americano. Escolhido seja porque razão for, o que é facto é que é ele que lá está, e portanto não faz sentido dizer que não há uma lógica interna no Obama.

Quero acabar a dizer algo relativamente às Nações Unidas. Muito rápido, uma crise de softpower, os Estados Unidos querem liderar a política do mundo indubitavelmente, foi na conferência de S. Francisco, primeiro em Dumbarton Oaks à volta de Washington e depois em S. Francisco que foram criadas as Nações Unidas.

A Carta das Nações Unidas foi escrita no essencial pelo State Department Norte Americano no fim da guerra em 1945.

A Carta dos Direitos Humanos foi Eleanor Roosevelt e um senhor francês, que por acaso era amigo dela, que escreveram e depois foi acertado pelo State Department norte americano. O que é facto é que as Nações Unidos foram desenhadas para o mundo de 1945, e o mundo de 1945 acabou no ano a seguir com a União Soviética a criar um mundo bipolar, como é bem conhecido. E quando acordámos do desmaio em que as Nações Unidas teve 50 anos, duas gerações, acordámos para o mundo em que a distribuição do poder já não correspondia à lógica prevista no sistema aristocrático das Nações Unidas, que davam o poder às cinco potências que tinham vencido a 2ª Guerra Mundial, e que paradoxalmente tinham armas nucleares.

A instituição que criou a ilegalização da guerra deu um lugar de privilégio a quem tinha armas nucleares, isto é absolutamente extraordinário se pensarem. Portanto, era um desfasamento lógico para além de ser um desfasamento empírico.

Naturalmente que as Nações Unidas precisavam de reforma. Há dois anos, dois anos e meio houve uma tentativa de reforma, a tentativa de reforma implicava a entrada de quatro novos membros permanentes, era o grupo do G4 para as Nações Unidos. Eram no essencial aqueles BRIC’S que ainda não têm assento, ou seja, a Índia, o Brasil depois entravam a Alemanha e eventualmente a África do Sul, e o Japão. Como a quinta hipótese era a África do Sul, mas não era certo que a África do Sul pudesse entrar até porque estava lá o Thabo Mbeki que era do partido comunista, anteriormente e portanto era dúbio que no boom pós bipolar fosse um reajustamento digno.

Acabo a dizer isto, as Nações Unidas tornaram-se empiricamente irrelevantes para além deste desfasamento formal, por outras razões: os grandes conflitos que houve nos últimos 9 anos, eu ia dizer 10 anos mas em boa verdade são 9, foi 99 no Kosovo, em 2001 na invasão do Afeganistão, no ataque ao Afeganistão dos talibãs pelos norte americanos depois do 11 de Setembro, dois meses depois. Em 2003 a invasão do Iraque, e em 2008 no dia 7 de Agosto pela invasão da Geórgia. Em cada um dos casos houve um progressivo menor, progressivamente menor envolvimento das Nações Unidas, uma Resolução do Conselho de Segurança, mas não houve uma resolução a autorizar directamente o uso da força pela NATO, e a NATO entrou no Kosovo em 99. No Afeganistão houve o apoio tácito por silêncio das Nações Unidas, mas nenhum enquadramento. No ano de 2003, o Bush não conseguiu embora tivesse tentado perante, era ameaça de veto de quatro, ex post factum. No caso de 2003 ainda houve menos porque nem ex post factum, nem nada, a França, a Alemanha que não tem direito de veto, mas a Rússia e a China três dos membros permanentes disseram que votavam liminarmente qualquer ideia, e os Estados Unidos intervieram.

Na Geórgia os russos nem tentaram ir às organizações internacionais, entraram só.

Uma união das democracias é o que vem aí? É uma hipótese que está a ser ventilada nalguns meios internacionais. O West mais as ex-colónias versus de Oest, será uma hipótese?

 
Dep.Carlos Coelho
- Muito bem 30 segundos de mensagem final se quiserem dirigi-la aos participantes da Universidade de Verão. Sr. General.
 
Gen.Garcia Leandro
- Em primeiro lugar, muito obrigado, muito obrigado por esta tarde e pela atenção que houve da vossa parte.

Uma última é só para repetir o que disse inicialmente que, se vierem a desempenhar funções de chefia, e espero que desempenhem a nível político, do Estado, ou de autarquias, ou de empresas ou académicas que o façam com grande sentido de serviço público e de ética.

Se repararem há um grande descrédito nos partidos políticos. A razão porque a dra. Manuela Ferreira Leite foi eleita pelo PSD, é precisamente pelo seu passado. Pela sua ética, pela sua honestidade, independentemente de ter, de pôr em causa a política de comunicação ou não política de comunicação. Todas as pessoas quando chegam a uma determinada, eu com 68 anos tenho um registo do meu passado e se hoje eu sou respeitado em todo o lado, porque tanto estou aqui como no partido socialista, (aos outros nunca fui), é porque sou independente e não se encontra na minha vida nenhum acto de desonestidade, é muito o que tem a ver com esta questão da dra. Manuela Ferreira Leite.

Quero dizer que não tenho nenhuma ligação partidária, nunca tive. Porém, o meu único acto de afirmação política foi para a candidatura do prof. Cavaco Silva, fiz parte da comissão de honra do prof. Cavaco Silva, e disse na altura que o actual Primeiro-Ministro seria muito beneficiado para as suas políticas reformista se o prof. Cavaco Silva fosse eleito Presidente da República. Seria o melhor Presidente da República para este Primeiro-Ministro. Era só isto que eu queria dizer, felicidades para todos.

(APLAUSOS)

 
Prof.Armando Marques Guedes
- Eu vou fazer comentários muito breves, faço minhas as palavras todas ou quase todas as do sr. General Garcia Leandro, excepto no que diz respeito à idade como é evidente, eu tenho 27 sou muito mais novo, tenho menos de metade da idade que ele tem. (Risos)

Tal como ele não pertenço a nenhum partido político nem nunca pertenci, nunca escondi também a ninguém as minhas claras simpatias pelo PSD e as minhas claras antipatias pelos outros todos de quem me lembro do nome, devo dizer.

Não acho que o PSD seja um partido perfeito, mas acho que depende de vocês se o PSD vai ou não vai ser um partido melhor, e olhem que nós vamos precisar do PSD. Vamos precisar dos partidos políticos e nomeadamente dos partidos políticos sérios, não corruptos, transparentes, como me parece que o PSD pode vir a ser.

A economia portuguesa não está a correr bem, a inserção de Portugal na Europa não está a correr bem. A Europa não está a correr bem, o ocidente não está a correr bem, vem aí uma guerra, vem uma guerra má, vem uma guerra económica e vem uma guerra militar, vem uma guerra política gigantesca, os sinais começam-se a avolumar no horizonte e o que vai ser preciso é tomar medidas políticas. Infelizmente ou felizmente para quem está em partidos políticos, nós não temos organizações internacionais que se vejam.

Infelizmente nós não temos um direito internacional efectivo, infelizmente nós não temos uma integração económica internacional suficientemente estável, suficientemente, se quiserem, igualitária para que não haja turbulência no mundo.

Infelizmente ao contrário dos Founding fathers em S. Francisco em 1945, nem sequer sem ser a NATO, temos forças militares regionais permanente que garantam a segurança e defesa do mundo face às hostilidades que estão a emergir.

Temos a sorte de estar dentro da NATO, temos a sorte de estar dentro da Europa, temos a sorte de estar dentro da ligação transatlântica e cabe-vos a vocês reajustar a participação política às realidades do mundo contemporâneo, e tentar fazer com que os vossos filhos, meus sobrinhos certamente, porque não tenho idade para ser vosso avô ao contrário do candidato John McCain. Que os vossos filhos tenham um futuro mais sorridente e mais promissor à frente.

(APLAUSOS)

 
Dep.Carlos Coelho
- Muito obrigado, agradeço em vosso nome e em nosso nome aos nossos dois convidados. O Pedro Rodrigues e eu vamos acompanhá-los à saída, peço ao Duarte Marques e à equipa dos avaliadores para prosseguir e eu regresso aqui dentro de alguns minutos para duas comunicações.

(APLAUSOS)

 

 

 

 
10.00 - Avaliação da UNIV 2008
12.00 Sessão de Encerramento da UNIV