ACTAS  
 
9/3/2008
Falar Claro
 
Dr.Pedro Rodrigues

 - (...) O livro que sugere: “Diálogos no Inferno entre Maquiavel e Montesquieu”; o filme que nos sugere: é “Henrique V”; e a principal qualidade que mais aprecia: é a sagacidade.

O nosso Caro Reitor Carlos Coelho diz que o hobby: é ler, nadar, equitação e BTT, comida preferida: Bacalhau à Narcisa; o animal preferido: talvez pelo exercício de narcisismo, é o Coelho; a música que prefere: é a Clássica; sugere o livro: “Ética para um Jovem” de Fernando Savater; sugere o filme: “O dia depois de amanhã”; a personagem história: é o Gandhi.

Vêm os dois, hoje, dar-nos uma apresentação sobre “Falar claro”, técnicas de comunicação, e eu sem mais delongas dava a palavra ao Carlos Coelho.

 
Dep.Carlos Coelho
- Bom dia. Nós chamámos a esta apresentação “Falar Claro”.

E há um truque semântico, “falar, claro”, porque não é possível fazer política sem falar, mas “falar claro” porque é necessário fazê-lo de forma clara, de forma eficaz.

Esta nossa apresentação “Falar claro”, será dividida em cinco pontos: - Comunicar bem; - Escrever claro; - Contactos com a Comunicação Social; - Os novos meios; e, finalmente, 15 conselhos para falar em público.

E o “Falar claro” que vocês vão ter hoje, é também uma produção desta Universidade. Ele foi produzido a primeira vez em 2004, e graças aos comentários dos vossos colegas, e espero que, a partir de hoje, graças aos vossos comentários, nós vamos melhorando o “Falar Claro”, de edição para edição.

E, disto isto, vamos começar nos finalmentes, como se costuma dizer, com a primeira parte – Comunicar bem.

Deixem-me começar com coisas óbvias que vocês sabem. Fazer política é Comunicar, nós podemos ser os melhores, mas se ninguém souber que somos, sob o ponto de vista político isto não funciona.

Porquê? Porque no nosso sistema, graças a Deus, há quem decida, e quem decide é o Povo. É o Povo que através do voto faz as suas escolhas, diz quem são os melhores, e precisam de informação para o poderem fazer de forma responsável.

Comunicar é saber o que é que está a acontecer, o que é que se está a fazer, quais são os anseios e os problemas das pessoas. Se eu não Comunicar, não estou em condições de ler a realidade, não estou em condições de interagir, não estou em condições de responder.

Isto porque, e é a única parte teórica que achamos pôr aqui em cima da mesa, logo na abertura, há três elementos em qualquer comunicação. Os três elementos são: o emissor, e são o receptor, e aquilo que liga o emissor e o receptor é a mensagem. É por isso que falamos que tem que haver sintonia de onda. As pessoas têm de estar “sintonizadas”. Se esta ligação não se estabelece, entre emissor, mensagem e receptor, não há comunicação.

Imaginem o melhor comunicador do mundo, a pessoa que vem aqui e vocês dizem “Nunca ouvi ninguém comunicar tão bem”, que vos põe a chorar, que vos põe a rir, que vos transporta emoções; mas imaginem que essa pessoa, que é o melhor orador do mundo, é um chinês. Ele vem aqui ou ela vem aqui, fala-vos em chinês e não há click. Vocês não choram, vocês não riem, vocês não percebem - presumo eu, que não haja ninguém na sala que perceba chinês.

Porquê? Porque não houve sintonia, não houve comunicação. Isto é um exemplo extremo, mas há exemplos mais próximos de nós.

Se vocês vão falar para uma audiência de jovens, não podem falar com tiques, com linguagem, com exemplos, com metáforas de uma assembleia mais idosa. Se vocês vão falar para uma assembleia do Partido cheia de pessoas com mais idade, não podem usar o tipo de linguagem, o tipo de exemplos, o tipo de metáfora que utilizariam se estivessem só com malta nova.

Se vocês foram fazer um discurso numa cidade, não podem usar o tipo de linguagem que usariam numa aldeia; e vice-versa, se foram para uma aldeia convencidos que estão a falar para uma audiência universitária, muito sofisticada, com palavras muito exageradas, provavelmente as pessoas acharão, ou não perceberão algumas, outras dirão “Olha, este vem aqui armar-se, mostrar-se”. O discurso no litoral não é necessariamente um discurso do interior. Um discurso no Norte, no centro , no sul ou nas regiões autónomas, tem que ser adaptado ao interlocutor,

E esta coisa de Emissor/Mensagem/Receptor, tem o reverso, porque o receptor também reage, ele passa a emissor. E isso é o ciclo da comunicação, vamos falar disso mais à frente, mas, ao fim e ao cabo, a questão aqui é saber com quem estamos a falar.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Bom, e esta é a pergunta decisiva em comunicação, não é?

É quem é que está do outro lado, quem é que nos está a ouvir, quem é o receptor.

Eu trouxe aqui um pequeno amigo, chama-se Albano, é um peixinho Dourado, é a coisa mais comum que existe nas casas dos portugueses, aliás, no mundo inteiro, e o coitado do pobre infeliz tem um cérebro pequeniníssimo, e tem uma memória de 3 segundos. Portanto, se ele anda sempre às voltas é porque não se lembra que já passou por lá. É uma coisa horrível, é uma vida trágica. E este, o Albano, é o nosso eleitor típico, - 3 segundos de memória, não tem mais, 3 segundos de memória.

E isto é pior, é o nosso comportamento eleitoral, é o rebanho.

Bom, o que não seria mau, se não fosse a quantidade de cães pastores, que não obedecem todos ao mesmo dono, que são os partidos políticos. Ganha o cão pastor melhor, aquele que consegue juntar o maior número de ovelhas.

E esta é à cabeça típica de um Português. Reparem: crime, sexo, Benfica (Graças a Deus!), telenovelas.

Esse tem estado à frente da televisão, evidentemente, e o cérebro dos 3 segundos. Não é muito diferente do nosso Albano, para dizer a verdade.

O que temos na cabeça? Vamos falar um bocadinho de neurociências mas de uma maneira menos chata.

Este senhor, se calhar vocês conhecem, chama-se António Damásio, é um dos melhores neurocientistas do mundo e escreveu um livro chamado “O erro de Descartes”, já lá vamos.

Nós sabemos que o cérebro funciona por compartimentos, esta parte pensa em emoções, a outra pensa, pensa, a outra armazena informação, tal e qual como um computador, com swatch à série, em que cada componente funcionava para uma determinada coisa. E hoje em dia não só é possível identificar para que é que serve cada um dos compartimentos como conseguimos medir a actividade de casa um desses compartimentos.

O que é que o nosso amigo, António Damásio, diz? Ele chegou a uma conclusão extraordinária, que o estímulo visual demora meio segundo a chegar à parte da emoção e só depois chega ao processamento racional. Por isso é que ele tem aquela frase famosa do “erro de Descartes”, o Descartes dizia “penso, logo existo”, o homem é todo ele racionalidade, e Damásio chega e diz “não, mas esperem aí, o meu estímulo visual chega primeiro à parte da emoção e só depois chega à racionalidade”, ou seja, eu sinto primeiro e só depois é que penso.

O que é que isto quer dizer para nós políticos, ou para nós que gostamos de fazer política, ou para nós que gostamos de ver política? Quer dizer que vocês olham para mim, ou gostam de mim e em consequência gostam daquilo que eu oiço; ou não gostam de mim e não gostam daquilo que eu oiço.

Isto é horrível. É pior ainda se nós pensarmos que, estávamos a falar há bocado a fazer a gracinha dos 3 segundos, mas eles também chegaram à conclusão de que a informação é armazenada aqui, nesta zona do cérebro, entra aqui, e das duas uma: ou é definitivamente armazenado ou então é esquecido ao fim de 45 segundos. Borrifamo-nos, não nos lembramos do nome da pessoa, da cara, não nos lembramos de nada daquilo que ela disse.

Portanto, há aqui um processamento qualquer que nos faz gravar a informação ou não. E isto em política é quase tudo, em comunicação política é quase tudo.

Bom, a que é que reage o cérebro? Portanto, eles conseguem medir a actividade em cada uma das partes do cérebro e chegaram a uma conclusão muito engraçada. O cérebro reage a dois tipos de estímulos principalmente: dor e prazer. Isto é básico. O homem adora, aproxima-se de tudo aquilo que seja prazer, do gelado, não vou dizer mais para não me entalar, foge de tudo aquilo que lhe possa provocar dor ou que tenha a imagem de provocar dor. Foge de tudo aquilo que sejam essas imagens.

Isto quer dizer o seguinte, com aquilo que nós vimos anteriormente. Quer dizer que as nossas decisões racionais, aquelas que nós temos por decisões racionais, não são obrigatoriamente, totalmente racionais, são emocionais. O que não nos faz muito diferentes do homem primitivo ou do nosso Albano. Somos pessoas de instintos, somos animais de instintos, basicamente.

Como é que nós vamos resolver então este problema do Albano e dos 3 segundos, e do cérebro que funciona à maneira antiga? Com três mecanismos: kiss, buzzs e soundbytes. Vamos ver um por um estes três mecanismos de comunicação.

Kiss. - Keep it simples and stupid. Tudo isto é muito linguajar de publicidade americano que adoram inventar estas expressões. E como é que se kiss. Temos que responder a estas três perguntas:

< o que é que isso quer dizer?

< Qual é a mensagem afinal? A quem queremos dizer, qual é o target, quem é que está do outro lado, o que é que ele pensa, o que é que ele sente, o que é que lhe interessa saber?

< E o que queremos que seja lembrado. Porque sabemos, vamos fazer as contas outras vez ao Albano e ao Homer Simpson sentado num sofá, eles não vão guardar a informação toda. Vocês não vão guardar a informação toda desta aula, portanto, eu tenho que escolher de tudo aquilo que vou dizer, aquilo que quero que vocês guardam – o mais importante.

Portanto, isto é o kiss. Sobretudo quando fazemos kiss, temos que ter a noção de uma coisa muito simples, que tempo é dinheiro, tempo é dinheiro, o Albano nos três segundos, não se esqueçam nunca dos 3 segundos, isto quer dizer que não podemos, quando fazemos perder o tempo dos outros estamos-lhe a fazer perder dinheiro.

Vamos ver aqui um pequeno vídeo para ver se eu consigo explicar-me:

- “Efectivamente, hoje poderia ter sido um dia histórico, e digo poderia porque foi sonegado um direito de cidadania a cidadões, a cidadães militares das forças armadas, que isso não passa de demagajó.., demajójico e (…)”

Na Assembleia da República isso então é muito frequente, vocês vêem o deputado do Bloco de Esquerda a querer impressionar o deputado do PP; e o deputado do PP a querer impressionar o Bloco de Esquerda. No meio daquilo tudo estão a perder o tempo do eleitor e do contribuinte, não é, porque nem o tipo do Bloco de Esquerda vai votar no tipo do PP, nem o tipo do PP vai votar no Bloco de Esquerda. Portanto, não vale a pena estar a tentar convencer os outros.

Utilizam um jargão absolutamente extraordinário, um vocabulário riquíssimo de facto e a pessoa lá em casa mudou de canal, já está a ver a telenovela. Tipo, 3 segundos, pá, por amor de Deus! Que chatos! Não sejam chatos!

Escolher o meio, pois temos a mensagem, temos o receptor, temos o emissor, temos aquela coisa, temos também o meio. Comunicar muda consoante o meio que estamos a utilizar. Imaginemos um blogue, por acaso está aqui a imagem do grupo que não devia estar, devia estar aqui do meu por eu ser um bocado narcísico, um blogue tem uma linguagem própria, uma frase, duas frases, um parágrafo, para a pessoa enquanto está a trabalhar ler e passar à frente. A Rádio Renascença, se vamos para Rádio Renascença dizem mal da Igreja Católica, se calhar os resultados são maus. Se vamos para a SIC dizer mal de televisão, também corre mal, se formos para o DN dizer mal do Partido Socialistas, corre mal de certeza.

Portanto, cada meio corresponde a um target, as pessoas que lêem o meu blogue são diferentes daquelas que lêem o blogue do Dr. Pacheco Pereira, de certeza.

As pessoas que lêem as Rádio Renascença são de certeza das que ouvem a rádio Capital.

Portanto, temos meio, escolhemos o meio, temos um target para esse meio, e adaptamos fundamentalmente a mensagem a esse meio. Temos que adaptar, não é mentir, não é disfarçar sequer, é adaptar. Tão simples quanto isto.

Buzz. - O que é o buzz?

O buzz é uma expressão também muito americana “word of mouth”, o que é que dizem por aí. Há uma história que explica bem o que é que é o buzz. Há uma empresa americana, chamada Half.com, foi lançada na altura da bolha da Internet, quando a maior parte das empresas de Internet foram quase à falência.

Eles tinham um problema que era: tinham uma empresa para lançar, tinham um budget publicitário enorme, muita televisão, muitos outdoors, e de repente as empresas foram todas à falência e ficaram sem dinheiro para publicitar o lançamento da empresa. Como é que eles resolveram isto? Temos que ter aqui uma ideia criativa que faça com que as pessoas falem sobre a nossa empresas sem precisarmos de outdoors ou de anúncios de televisão.

Foram à lista telefónica, procuraram cidades americanas com o nome de Half, encontraram uma, no Oregon, e foram lá e compraram o nome da cidade. Compraram o nome da cidade e fizeram esta coisa extraordinária americafirst.comcity, titulo genial, isto dá número, dá número, é uma coisa ira, engraçada, a imprensa foi lá toda ter com eles, as pessoas começaram a discutir “mas eles deviam ter vendido, não deviam ter vendido, isto é uma humilhação, agora uma cidade vende o nome a uma empresa, etc., etc.“.

A verdade é que de repente toda a gente estava a falar sobre o caso. Conseguiram a publicidade para a qual não tinham dinheiro. Tinham um título bom, esta coisa do americafirst.comcity, pensem sempre em títulos de jornais, assim uma coisa, resumir tudo a um título de jornal. Fizeram um grande número, de comprar o nome da cidade, e conseguiram aquilo que queriam, conversa na rua. Atrás da conversa na rua, vem a exposição mediática, como as pessoas falavam os jornais tinham que falar sobre o assunto. E tudo isto a um custo muito reduzido, não era preciso outdores, não era preciso anúncios de televisão. Coisa fantástica, isto é base.

O buzz funciona de duas maneiras, word of mouth: quando a coisa corre bem, maravilha; quando a coisa corre mal, temos preconceitos, formam-se preconceitos na cabeça das pessoas.

Vocês estão aqui a ver estas frases que estão a aparecer, e conseguem atribuir cada uma das frases a um político:

- Dorme três horas por dia. - Alguém já dormiu com ele aqui? Alguém sabe mesmo se é verdade.

- Um que rouba, mas faz. – Ele já foi condenado, alguma vez? Mas, quer dizer, toda a gente sabe que ele rouba, mas faz. Mas ele já foi condenado?

- Este é um corrupto. - Damos por adquirido, aquele tipo é um bandido. Ninguém lhe viu a conta bancária, mas damos por adquirido.

Tudo isto são preconceitos. Preconceitos criados pela conversa de café, pelo buzz.

Soundbytes. Esta expressão já ouviram de certeza, é uma das expressões mais comuns e populares na comunicação política. Eu vou-vos dar aqui alguns exemplos:

- Vou andar por aí. Tínhamos um Congresso do partido em que o candidato a primeiro-ministro tinha sido derrotado nas eleições, havia dois candidatos à liderança do PSD, e o discurso que fica na memória, ou a frase que fica para a história daquele congresso, é do tipo que “tinha perdido as legislativas”, uma coisa extraordinária.

- “P’ra Angola e em força” – Isto para verem como os soundbytes já têm uma carrada de anos.

- “Nunca erro e raramente tenho dúvidas

- “O país está de tanga” – E esta frase é extraordinária, porque nesta frase, neste soundbyte foi possível condensar toda a doutrina económica do Governo. Melhor ainda, foi possível explicar num única frase porque é que em vez de baixarmos os impostos, os íamos aumentar. Não foi com uma grande teoria económica, não foi com artigos no Diário Económico, não foi com a opinião dos especialistas, não, foi com “o país está de tanga”, e ficou explicado.

Vamos ver aqui um pequeno exemplo de bons soundbytes ou de históricos soundbytes:

- “As not what your country can do for you, as what you can do for your country”;

- “There is nothing wrong with America that can not be cure by what is right with America ”;

- “And a, it is a.. I think it is.. is a..”. (Risos)

Os soundbytes, os buzzs, os preconceitos funcionam para os dois lados, dá para reduzir uma doutrina inteira a 3 segundos, e dá para fazermos figuras de estúpidos e ficarmos marcados como estúpidos para o resto da vida. É óbvio, neste caso, foram muitas vezes três segundos, há aqui um efeito de grande repetição que ajuda à memorização das pessoas.

De qualquer das maneiras, queria que vocês fixassem isto: em 3 segundos nós conseguimos fixar um preconceito ou conseguimos fazer um preconceito em relação a uma determinada ideia, a uma determinada frase, a uma determinada pessoa.

Vocabulogia. - Eu nem sei se o termo existe. Vocabulogia, a importância das palavras das que nós escolhemos para comunicar. Vamos ver aqui um pequeno vídeo que eu acho que vão achar engraçado. Eu espero que todos saibam falar inglês, o sr. Blair, ex Primeiro-Ministro inglês e o sr. Cameron, candidato (http://www.youtube.com/watch?v=mYkGThMYmbk):

Blair

Cameron

(…)

-Is a tremendous honour and

 privilege

- I is a hugged privilege and an

 honour

Gesture for gesture

Every one can see it, is like single lasing, the way he use to old his hands in front of it’s teats like that

- By taking the tuff decision

- Punch and judy

- Tuff long term decision

- The punch and judy politics

You should  ???the archive on desert island discs. Cameron copied all of Tonnys choices, except the ??? values ????

- Values don’t change, but times

 Do

- That is the change that I’m talking about

- We can change public services..

- Education..

- special schools..

- China and India ..

- 8 years..

- Aspirations..

- and courage..

- millions..

- ??

- never..

- change..

- change..

- change..

- change..

- Change..

- change again..

- in terms..

- But times..

- time..

- change..

- change..

- change..

- change..

- change..

- change..

- changing

- change..

- change as much ??..

- change makers..

-Ch-ch-ch-ch-Changes

Turn and face the stranger

Ch-ch-Changes (música)

- We can change public services..

- Education..

- Special schools..

- India and China ..

- 8 years..

- Aspiration..

- courage..

- millions..

- ???

- Never..

- Change..

- Change..

- Change..

- Change..

- Change..

- Again..

- Terms..

- Time..

- Time..

- change..

- change..

- change..

- change..

- change..

- change..

- changing

- Change..

- that’s got to change..

(Risos)

É óbvio que o vídeo é muito bem apanhado, mas não acontece por acaso, a escolha das palavras não é aleatória. E não é aleatória porquê? Porque há determinadas palavras que nos provocam determinados preconceitos, determinadas emoções, nós sentimos, não racionalizamos. E o sucesso da palavra “change”, quer dizer mudança, não é só do exemplo inglês, reparem no exemplo americano.

Mas há mais. Por exemplo, os estudos de marketing todos revelam que a inserção da palavra “novo” faz aumentar as vendas até 20%. É o velho Skip, é a mesma coisa, mas se pusermos lá a palavra “novo”, e as pessoas vão comprar “Eh, pá, não, não”, “Mas usas o Skip?”, “Mas o novo”. O novo, é a mesma coisa, mas as pessoas vão lá e compram, preferem o “novo”, novo é bom, novo é mais quase 20% de vendas. Isso é uma coisa absolutamente fantástica, isto é vocabulogia no seu melhor. A emoção ou os preconceitos que determinadas palavras nos fazem sentir.

Palavras “cool”, vamos ver aqui alguns exemplos:

- Governance em vez de governação, governance é muito mais chique do que governação, governação é uma coisa antiquada, mas dizer governance, “Eh, pá, este tipo tirou um MBA lá fora”;

- Tal como accountability. Accountability, responsabilização? Responsabilização já passou de moda meus amigos, accountability é que é. Nós estamos todos pela accountability;

- Think tank em vez de grupo de reflexão ou de tertúlia. Antigamente nós tínhamos tertúlias, hoje em dia toda a gente tem um think tank;

- Ambiente, biodiversidade. Tudo aquilo que seja verde e meta passarinhos é uma coisa fantástica. Somos todos pelo ambiente e pelos passarinhos, é uma coisa absolutamente extraordinária;

- Tecnologia. Não interessa bem de quê, mas tecnologia, o choque tecnológico, reparem no poder da expressão “choque tecnológico”, isto é uma coisa poderosa;

- E jamais, não é. Jamais, jamais. (Risos)

Mas da mesma maneira que existem palavras cool, também há palavras que não são cool e que um político não deve nunca:

- Empreiteiro. Bom, um político, mesmo que diga da maneira mais inocente do mundo, a palavra empreiteiro fica mal;

- Negócio. Temos horror à expressão negócio.

- Dinheiro. Bom, nós somos maioritariamente católicos, somos uma cultura católica, dinheiro é sujo, um político não fala sobre dinheiro, fala em fundos, fala em verbas, fala em transferência, nunca diz a expressão “dinheiro”, dinheiro é sujo;

- Política. Bom, um horror. Todos os políticos são não políticos, todos eles têm vergonha daquilo que fazem, porque as pessoas sabem: bom, os políticos são uns chatos e quando não são chatos, roubam. Há uns que roubam mas fazem. 3 segundos, é o sr. Albano a ver televisão; e,

- Assessor. Bom, o assessor é o gajo mais inútil do mundo. Toda a gente sabe que um assessor não serve para nada. A pior coisa que alguém pode fazer é apresentar-se “eu sou assessor de..”, “E?!”, De quem? Da tia?

 
Dep.Carlos Coelho
- Chegamos à segunda parte do “Falar claro”, que é Escrever claro, e agora vou-vos pedir para abrirem os envelopes que receberam à entrada, que dizia para abrir só quando vos dissessem, e pegarem no primeiro documento.

O primeiro documento é um documento simples, é uma convocatória. É uma convocatória simples, a convocar os jornalistas para uma conferência de imprensa, não há aí nenhum cuidados, há dois cuidados: primeiro, primeiro ter todos os elementos – vocês vão achar isto ridículo, mas muitas vezes alguém se esquece ou de pôr o dia ou pôr a hora, ou de pôr o local, ou de pôr o número de contacto, vocês têm aí assinalado a amarelo fluorescente, os dados que são necessários numa convocatória.

Bem, o que é que se faz depois na conferência de imprensa? Geralmente faz-se uma comunicação, lê-se um documento. Esse é o segundo documento que vocês têm. É um comunicado, é uma declaração, é um statement, para utilizar uma palavra cool seguindo as indicações do Rodrigo.

Vocês hão-de reparar que o statement, que a declaração está em crescendo, isto é, começa com coisas relativamente banais, e acaba com a notícia mais importante. Nunca se faz ao contrário. Nós chamamos os jornalistas, começamos com o nosso parlapié e a coisa vai crescendo até dizer: e a grande notícia que vos queremos dar é esta.

O terceiro documento é exactamente o contrário, é um Press Release, é como a notícia é fabricada. E aí, a notícia, segundo uma técnica muito antiga da imprensa, começa com as coisas mais importantes e vai decrescendo de importância. Qual é a lógica disto? É aquilo que o Rodrigo vos dizia relativamente à capacidade de concentração ou de atenção, portanto, as pessoas começam a ler e quando desligam, já não têm interesse, aquilo que perdem são as coisas menos importantes.

Mas é também uma lógica física. Antigamente não havia computadores, os jornais eram feitos na tipografia com linotipistas que faziam as tiras com as notícias, e muitas vezes a última decisão era do Director que dizia: Já não há espaço para isto, vamos cortar parte da notícia. Ora se começarmos com as coisas mais importantes e deixarmos as menos importantes para o fim, o corte do director é sempre um corte simples, é um corte mecânico, ele não tem que ler a notícia para ver “eu vou cortar alguma coisa importante ou não”, ele parte do princípio que o jornalista fez o seu trabalho bem, e que em cima está o importante e em baixo está o menos importante.

Vocês comparam o texto do Comunicado com o texto do Press Release, a vossa folha 2 com a vossa folha 3, e chegam à conclusão de que a lógica é exactamente ao contrário.

E depois, há outra coisa muito importante que é a formatação, vamos ver isso mais à frente, mas vocês reparem que vocês têm mais facilidade em ler o Press Release , porque tem bolds, está paginado de uma forma que convida mais à leitura. A forma como um texto é apresentado é também muito importante. Nós dizemos a propósito da gastronomia que também comemos com os olhos, um prato que é melhor apresentado cria mais apetite. É exactamente a mesma coisa com um texto, um texto bem apresentado suscita mais a vontade da leitura do que um texto que está amarfanhado ou está todo da mesma forma, que não é apresentado bem.

Como é que se escreve claro? Primeiro, sejam directos; segundo, não sejam redondos, - vocês têm a última página aí no vosso envelope que é um exemplo de escrita redonda, é uma brincadeira que alguns de vocês já conhecerão, tem 4 colunas, é um texto chamado “Falar sem dizer nada”, pode-se falar sem dizer nada. Reparem, eu posso dizer, esta frase fantástica “O incentivo ou avanço tecnológico, assim como o desenvolvimento de formas distintas de actuação, assume importantes posições na definição das nossas metas financeiras e administrativas”. Isto não soou completamente disparatado, mas se começarem a pensar o que é que eu disse, chegam à conclusão “Ele não disse nada”.

É um discurso redondo, aparentemente bonito, com  algumas palavras mais complexas, e vocês podem fazer aparentemente 10 mil frases com estas 4 colunas, 10 mil frases despidas de qualquer sentido, que soam bem, mas que a pessoa que vos ouve diz “Este gajo está p’ra aqui a falar”, é o blá, blá, sem consequência.

Não utilizem vocabulário que não dominem. A coisa mais ridícula é uma pessoa usar vocabulário que não domina e /Ou utilizá-lo mal, metê-lo mal, ou pronunciá-lo mal, ou as pessoas ficarem com a ideia que: Este fulano ou esta fulana querem dar-se ares. E isso sai perfeitamente ridículo.

No texto escrito a linha não deve exceder as 15 palavras, um parágrafo não deve exceder as 5 linhas, -aqueles parágrafos enormes ninguém lê. Um texto não deve exceder os 5 parágrafos, para ser lido.

E tenham atenção à formatação. Já fiz essa referência.

Parte terceira: Contactos com a Comunicação Social. Vocês vão convocar uma conferência de imprensa ou para a secção da JSD, ou do partido, ou para a distrital, ou para a associação de estudantes, ou a autarquia, aquilo que for. Quais são os cuidados a ter numa conferência de imprensa? Primeira questão, perguntar é necessário? É necessário dar uma conferência de imprensa? Porque se vocês banalizam as conferências de imprensa, acabou. Portanto, é mesmo necessário? Há mesmo matéria? Há razão? Porque senão a próxima vez os jornalistas já não vêm.

Os jornalistas vêm, e os jornalistas vêm não apenas se vocês têm notícia, é se eles podem vir. Imaginem que no mesmo local, na mesma cidade, há um outro acontecimento mais interessante para os jornalistas. A probabilidade é os jornalistas não aparecerem. Não há nada mais ridículo, já aconteceu comigo, de estarmos numa sala, convocarmos os jornalistas, e aparecer um jornalista ou não aparecer nenhum, estamos todos à espera e depois ficamos a saber, não, eles estão na Câmara Municipal porque houve uma grande bronca e estão a querer declarações de um Vereador qualquer sobre uma coisa que aconteceu.

Terceira pergunta, fizemos ontem? Se vocês fizeram ontem uma conferência de imprensa, há grande probabilidade de ainda que tenham uma coisa muito relevante, os jornalistas acharem: já deram uma ontem, hoje deve ser para repetir a mesma coisa.

E atenção a escolher o dia a hora. A maior parte dos jornais regionais são semanais, são semanários, e a escolha do dia é muito importante. E vocês enquanto decisores políticos podem decidir muitas vezes qual é o dia em que as acções vão ter lugar. E têm que pensar nisso também em função do interesse mediático.

A convocatória da conferência de imprensa deve ser 4 ou 5 antes, devem confirmar os jornalistas na véspera, há jornalistas menos organizados e outros um bocado distraídos e, portanto, têm que avisar com alguma antecedência para eles poderem meter na agenda, se só avisarem de véspera eles podem dizer “já estou comprometido”. Mas têm que recordar na véspera para eles não estarem distraídos.

Atenção ao tamanho da sala, a sala não pode ser nem demasiado apertada, nem demasiado grande. É completamente ridículo estarem todos com os ombros encostados numa sala apinhada, mas é pior estar um salão e dois gatos pingados no meio do salão, sobretudo quando há fotografia ou a televisão, a imagem é muito importante.

 Atenção à luz. Aconteceu-me várias vezes quando eu era dirigente associativo, dar conferências de imprensa à frente de uma janela, em contra luz, para um fotógrafo de imagem ou para uma câmara de vídeo é fatal. As pessoas não se vêem, o contra luz é muito mau. E, tentem ter uma estrutura móvel com uma base, um fundo, um cenário, ou com uma palavra ou com uma imagem da instituição. Porque isso fica melhor na fotografia, pode ser um conjunto de bandeiras se quiserem, do que uma parede lisa ou uma outra coisa do género.

Na conferência de imprensa. Se for mais do que uma pessoa na mesa, se forem três como estamos aqui, geralmente três pessoas na mesa, há que dividir o jogo nas respostas: um naturalmente fará a comunicação inicial, mas é completamente ridículo estar um só a falar e dois gatos-pingados a olharem para o outro. Há que dividir o jogo, convém fazê-lo antecipadamente. Imaginem o que é o Rodrigo, o Pedro e eu estarmos ali, vocês serem jornalistas e dizerem: “então, o que é que acha da comunicação na rádio”, e nós olhamos entre nós e “então, quem é que fala, quem é que responde sobre isto? Ou então, todos queremos responder ao mesmo tempo. Convém dividir o jogo antes.

Falar para o público. O jornalista é apenas uma forma de mediação. Quando vocês vêem os jornalistas à frente, não pensem que estão a falar para eles. Não. Isso é uma ilusão. Vocês estão a falar para as pessoas que os lêem ou que os escutam. E, portanto, não têm que usar as palavras que eles considerem mais interessantes, têm que usar as palavras que eles vão reproduzir para os eleitores. Falar para os jornalistas é uma forma de chegar ao público. Se nós falamos a uns jornalistas e ficamos nos jornalistas, não vale a pena fazer conferência de imprensa.

Se estiverem numa circunstância em que houver decisões vossas, ou do vosso partido, ou da vossa estrutura estudantil, ou da vossa autarquia que sejam impopulares ou polémicas, preparem a justificação com antecedência. Se houver problemas, é isso que os jornalistas vos vão perguntar. Vocês querem falar sobre outras coisas, mas eles vão-vos falar “daquilo”. Portanto, tenham a justificação para essas medidas mais polémicas ou impopulares.

Respondam de forma directa, clara e breve. Quando mais falamos, mais nos enterramos. Quanto mais falamos, mais os jornalistas vão apanhar aquilo que nós não queremos, e aquilo que eles acharam que era mais embaraçoso. Portanto, as respostas são directas, claras e breves.

É melhor que os jornalistas pensem: olha, este fulano ou esta fulana, é atrasado mental, não sabe ter um pensamento muito elaborado, não sabe falar 5 minutos. É melhor serem claros, concisos e breves, do que quererem dar ar de que são pessoas muito fluentes e espalharem-se com considerações desnecessárias.

Respondam sem exasperação, mesmo quando se sentem atingidos. Às vezes os jornalistas fazem o jogo do adversário, às vezes é só para picar. Mesmo que eles nos estejam a magoar, nos estejam a ferir, sangue frio, é como se não fosse nada connosco. Eles reconhecem isso.

Não às respostas evasivas. Vamos supor que eu sou o Presidente da Câmara e há um escândalo de transparência de utilização de fundos públicos. Se eu começo a gaguejar e a dizer “bem, sabem, eu ainda não fiz uma investigação, vou ver o que é que se passa…” . Já estamos, a imagem da fragilidade passou. Ele está comprometido. É a leitura que os jornalistas vão fazer.

E aquilo que o Rodrigo já vos disse, qual é o soundbyte? Pensem qual é a mensagem mais simples que vocês querem que passe da vossa conferência de imprensa, e têm que trabalhar em passar esse soundbyte. Essa mensagem fundamental.

Outros cuidados a ter:

- Nas entrevistas preparem o que é que querem dizer, dar uma entrevista sem ter uma mensagem, duas mensagens, três mensagens fundamentais, é ridículo;

- Ter fotos. Sobretudo quando se fala, não se fala de órgãos nacionais, às vezes os jornalistas esquecem-se de trazer um fotógrafo ou não têm possibilidade, ou não quiseram, sobretudo em jornais regionais ou coisas de malta nova, os jornalistas não levam a mal de dizer: “Olhe, você não trouxe câmara, mas tivemos aqui duas ou três fotografias, se quiser usar, não é obrigado”, podem ser fotografias da instituição, podem ser fotografias vossas a fazer uma actividade, podem ser reportagens fotográficas de alguma coisa que fizeram com interesse, e que sirvam para ilustrar essa conferência de imprensa. Ter sempre fotos para dar.

- Na rádio. Voz firme, usem notas mas não leiam, ler um texto na rádio é trágico, porque as pessoas que estão a ouvir percebem que estão a ler um papel. Portanto, não transmite, e cuidados com as pausas na rádio. Eu aqui posso olhar para vocês e fazer uma pausa para criar um efeito, porque faço um gesto, porque a minha expressão fisionómica está em contacto convosco, e vocês acham que eu vou dizer alguma coisa muito importante. Na rádio ninguém vê, e se há um silêncio, (fechem os olhos), as pessoas pensam que a emissão interrompeu ou este fulano não sabe o que é que vai dizer, teve uma branca. Dá uma imagem de insegurança. Portanto, cuidado com as pausas na rádio.

- Na televisão. Respostas mais curtas ainda do que na rádio. Ainda mais curtas. Se forem homens, gravata vermelha sobre camisa azul, nada de riscas, nada de fatos estampados, porque isso faz mancha na televisão; as mesmas coisas para as senhoras com adaptação, fatos sem riscos nem brilhos. As senhoras cuidado com os ouros, tudo o que seja muito brilhante não é muito eficaz na televisão.

- Som. Muita atenção ao som. Um dos sucessos da Universidade de Verão é a qualidade do som, nós ouvimos tudo bem. Vocês não fazem ideia da quantidade de coisas que falham por causa do som. Eu dou sempre este exemplo que me marcou muito: o Prof. Cavaco Silva estava na pré-campanha presidencial, foi apresentar um livro do Prof. Arlindo Cunha ao Porto, no Solar do Vinho do Porto e quando se aproximou do microfone para falar apercebeu-se que o microfone era mauzinho, portanto, as pessoas do meio da sala para trás da sala não ouviam nada, e então ele aproximou-se do microfone e começou a falar assim, quando ele faz isto é um feed-back horroroso, um guincho monumental e ele voltou para trás e começou a falar aqui, a malta começava assim, ele percebeu que não conseguia falar e aproximou-se. Bem, o Prof. Cavaco Silva que tem aquele ar que nós conhecemos, tentou três vezes ir ao microfone, três vezes não funcionou, decidiu falar sem microfone, portanto, 10% da sala ouviu, e 90% fez-lhe adeus. Aquela sessão foi prejudicada por causa do som. A qualidade do som é muito importante.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Bom, e uma das questões que mais vezes me fazem é, principalmente a nível local, como é que se chama a atenção da imprensa, como é que conseguimos que uma notícia seja publicada. Se vimos que as conferências de imprensa são cada vez mais complicadas, se vimos que a publicação dos Press releases é uma coisa que simplesmente não existe, como é que se chama a atenção da imprensa? E já vimos isso com aquele exemplo que eu vos dei do buzz - com números. Números, fazendo números, criando palcos, criando títulos, criando artefactos.

Vou vos dar aqui alguns exemplos:

- Marcelo Rebelo de Sousa, para a Campanha de Lisboa. Isto já foi há long, long time ago. Mas o mergulho no Tejo, toda a gente sabe da história do mergulho no Tejo. Na altura não correu muito bem, mas a verdade é que se falou como nunca se tinha falado da candidatura do Marcelo Rebelo de Sousa. Toda a gente falou, disse porque ele fez um número, deu um mergulho do Tejo para explicar que a cidade se devia reorientar para o rio, etc., etc. Fez o número do mergulho no Tejo para explicar uma determinada doutrina.

Mas há mais, e mais chocantes:

- Por exemplo, no Governo de Durão Barroso, chegou-se à conclusão: não se vai mexer na questão do Aborto. E o assunto parecia morto, enterrado. Até que umas associações ligadas ao Bloco de Esquerda se lembraram de: Não, nós vamos fazer aqui um número daqueles grandões, vamos trazer um barco que faz abortos. Bom, aquilo não ia resolver o problema a nenhuma mulher em concreto, era para as pessoas falarem e a comunicação social falar sobre o assunto. A verdade é que resultou, o tema foi relançado, por inabilidade do Governo depois na reacção, ou não inabilidade, a verdade é que se falou, que se falou e a primeira coisa que o José Sócrates fez a seguir, quando assumiu as rédeas do Governo foi fazer um novo referendo, o Aborto estava outra vez em alta.

Mas há mais exemplos ainda e bastante mais próximos. Na margem sul só conhecemos este camelo. É um número extraordinário, quase todos vocês viram, aposto, o número do camelo lá estar mesmo. Aquilo é uma coisa extraordinária, dar televisão, um outdoor de Setúbal deu televisão, os telejornais todos a rir, os jornalistas todos a rir, toda a gente, e o país a perceber, e chegava-se a um café e história do camelo passou, o camelo da JSD – não nesse sentido pejorativo. Desculpem! O camelo do ministro, o camelo do ministro, a graçola passou.

Mas se é verdade que os números servem para aumentar a notoriedade, portanto, a nossa exposição mediática, isso não significa maiores sucessos. Vamos ver aqui um pequeno caso. Este foi há muito, muito, muito tempo atrás, o José Cid tinha desaparecido completamente, e resolveu dar esta belíssima entrevista à Revista Nova Gente, inesquecível entrevista, e reparem como o LP é grandalhão, o disco é enorme. E a verdade é que relançou a carreira toda à conta de um número, talvez exagerado, não significou vendas superiores, mas a verdade é que reapareceu.

Mas há um outro caso ainda melhor e bastante mais próximo. Este é o nadador olímpico, este senhor não sei quem é, mas consta que se enfiou na piscina para tirar uma fotografia. E o melhor disto tudo, é que a notícia dava conta que o Ministro Manuel Pinho tinha encontrado um nadador olímpico vencedor de oito medalhas de ouro, numa piscina no Algarve e acidentalmente estava lá o fotógrafo do DN. São uma série de coincidências! Mas é um número, é um número. O Ministro disse: eu quero aparecer à força, vou-me atirar para a piscina com o Phelps. Coitadinho do americano estava a passar férias descansado e de repente tem que levar com o Ministro.

Novos meios. A nossa conversa vai ter quase sempre aqui: a política já não se faz nos parlamentos, nem nas assembleias municipais nem nas assembleias de freguesia; a política faz-se, cada vez mais, fora; e faz-se cada vez menos também nos media tradicionais.

Porquê? Bom, pensem como um director de programas, Cada minuto de televisão tem um custo que os anunciantes pagam, 5 mil contos, 15 mil contos, 20 mil contos, portanto, quantos mais minutos eu der à política mais dinheiro eu estou a perder, porque a política é de facto um assunto chato. E portanto, prefiro ter o crime, as bombas de gasolina foram assaltas, o ministro Pinho com o Phelps, porque isso tem graça, mas a política em si, saiu, não há tempo para grandes debates políticos nem para grandes doutrinas. Cada vez há menos tempo de antena para política. Portanto, a política faz-se cada mais cá fora.

E faz-se onde? Vamos ver. Um exemplo, esta imagem é Beirute durante a guerra do Líbano. Estava a ser bombardeada por tropas israelitas, com a comunidade internacional toda aos berros a dizer “Os israelitas, aqueles brutos, matam centenas de libaneses”, e esta mesma fotografia foi capa de quase todos os jornais, incluindo os americanos, uma escandaleira, de facto Beirute está desastradamente desfeita, o fumo negro, tudo isto é horrível. Até que há um bloguer que se lembra de ver a fotografia com atenção e descobre isto – não sei se vocês conseguem ver bem -, este prédio é igual a este. E isto não parece que é a Infante Santo, em que os prédios são todos iguais. Parece duplicado. Vai daí, começou a desmanchar a fotografia. E chegou a esta conclusão, limpou a fotografia dos efeitos, e agora, tenho impressão que está aí comparada, onde vocês podem ver as duas comparadas. Estão a ver, aqui Beirute a fotografia original, aqui a fotografia como tinha aparecido nos jornais.

O que é que tinha acontecido? A fotografia tinha sido manipulada. Uma fotografia da Reuters, uma das mais importantes agências noticiosas do mundo. O escândalo foi de tal ordem que a Reuters teve que pedir desculpa, pela primeira vez na sua vida, teve que admitir que havia manipulação de imagens – imaginem o escândalo! E a verdade é que o discurso contra Israel teve que baixar, porque as pessoas deixaram de saber o que é que era verdade e o que é que não era verdade.

Aliás, há outro exemplo também dum outro blogue, - um bocadinho mais à frente – é muito exemplificativo, são aquelas coisas, nas redacções ninguém tempo para reparar nisto. Mas num blogue há mais tempo, há mais tempo dedicado a estas coisas. Se vocês repararem esta fotografia chocante, também de Beirute, o peluche, o prédio destruído. Mas reparem, neste caso é chocante, o peluche é branco, está no meio de um prédio destruído, não é?  Portanto o prédio ficou todo arrasado, o peluche está óptimo e limpinho. Para além de estar vivo, está limpinho. Obviamente que foi colocado.

O que é que isto causou? Causou o condicionamento do discurso completo em relação a Israel , já não se sabia o que é que era verdade e o que é que não era verdade. Chegou-se à conclusão que de facto havia manipulação. Havia uns senhores a manipular imagens, a aumentar o discurso. E toda a comunidade internacional teve que acalmar um bocadinho mais no discurso.

Conhecem, não é? Pois. Uma sondagem no USA Today, que é uma espécie de Correio da Manhã à americana, dizia que 60% dos jovens americanos o único contacto com a informação que têm, é o Daily Show. Informação?! Quem já viu sabe, aquilo é tudo menos informação, é desinformação. Não há nada de objectivo criterioso, aquilo é uma graça com graça, e ainda bem. Mas 60% dos jovens americanos admite que o único contacto com a informação que têm é com o John Stewart. Portanto, pensem o que é que será esta geração a votar.

Vamos falar um bocadinho mais sobre a importância das novas tecnologias. Ainda sobre o John Stewart. Vai Pervez Musharraf, ex Presidente do Paquistão aos Estados Unidos, lançar o livro, onde é que ele vai? Vai ao Letterman, vai ao Jay Leno. Não. Prefere ir ao John Stewart, tal é a importância e o impacto que ele tem, e a influência que ele tem. O McCain pediu para ser entrevistado no John Stewart, o candidato presidencial republicano, sendo que o John Stewart é tudo menos pró-republicano, mas sentiu a necessidade de ir falar com aquele target. Aquilo é muita gente já, e eu não consigo chegar lá de outra maneira que não seja ir lá. Isto é a mesma coisa que os nossos Gatos Fedorentos, ou como por exemplo, a utilização do Youtube, que é aquilo que vamos ver a seguir. Isto é uma notícia engraçada do Diário de Notícias sobre a importância do Youtube em campanhas: temos a campanha do Obama, da Hillary, claro do McCain, da Ségolène Royal, e temos o exemplo do Marcelo Rebelo de Sousa, da campanha do aborto, que não sei se vocês estão recordados (Risos). (já estão a rir, caramba! Ainda nem mostrei o vídeo do Gato Fedorento, é impressionante)

Eu tive o privilégio de participar nessa campanha e havia um problema grande para fazer com que o “Não” ganhasse aquela campanha: um, falta de tempo de antena , falta de estrutura partidária; e, sobretudo, o voto jovem suburbano, que era uma coisa que ia votar todo “Sim”. Portanto, estávamos tramados, estávamos tramados e para além disso não tínhamos dinheiro. E escolhemos, ou fazemos um outdoor ali no Marquês de Pombal ou fazemos uns vídeos para o Youtube. E aquilo que fizemos foi uns vídeos, temos aliás bastantes mais do que um vídeo, fizemos vários, tudo isto sem comunicar nada à imprensa, os vídeos foram aparecendo e fomos divulgando os vídeos através dos blogues e os jornalistas tiveram que ir falando..

(Um minuto inaudível)

(cont.) (…) e não por causa da Internet. Exactamente ao contrário.

Vídeo www.assimnao.org

- «São agora 10 horas do dia 21 de Janeiro de 2007. Arranca o "Assim Não", um site da minha iniciativa com o apoio de dezenas de jovens. Porquê o site? Porque temos um referendo no dia 11 de Fevereiro (…)»

- Este é um dos vídeos, fizemos para email, para mms pela primeira vez, mas isto é muito barato e foi muito rápido, e estávamos em cima do target, os jovens, o Youtube, tudo muito moderno, tudo muito giro, tudo muita cool. Até que um célebre domingo saiu este vídeo:

Vídeo no Youtube – Gato Fedorento – Assim não

http://www.youtube.com/watch?v=myf5ces77PU&feature=related

- Bom, prefiro não ver isto até ao fim. A campanha foi toda feita fora dos media tradicionais, toda a gente viu directa ou indirectamente estes vídeos, toda a gente percebeu as mensagens, toda a gente percebeu o destaque, e nós no fim levámos uma tareia dos humoristas.

Condicionaram-nos completamente o discurso. O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, evidentemente, nunca mais voltou a usar a expressão “liiiberalizar”, tal como o Paulo Bento não voltou a usar a palavra “tranquilidade”, e porque aquilo marca de facto. E foi completamente em cima de um target. Foi de tal maneira, foi de tal maneira que na noite do Referendo, depois da vitória do SIM, o Vital Moreira escreve no seu blogue: “o Eng. José Sócrates que não tenha grandes peneiras, muito obrigado Ricardo Araújo Pereira”.

Novos medias.

 
Dep.Carlos Coelho
- Chegamos à parte final do “Falar claro”, quinze conselhos para falar em público:

Primeiro conselho: - Não tenham medo do medo. Eu gosto muito de contar uma história que é americana também: há muitos anos havia uma grande diva do teatro chamada Sarah Bernhard, que uma vez antes de entrar em palco se virou para uma corista e perguntou-lhe “a menina está nervosa?”, e a corista cheia de si, vira-se para a grande actriz “Eu? Eu nunca estou nervosa”, e a grande Sarah responde-lhe “Há-de estar minha querida, há-de estar um dia quando tiver algum talento”.

Ter medo é normal, vocês não tenham medo de ter medo. A primeira vez que falamos em público, a segunda vez, tem-se sempre algum medo. E é bom ter medo. É bom ter medo porque a vaidade é perigosa. Quando as pessoas estão convencidas de si próprias “isto vai ser, eu sou o maior / ou sou a maior”, algum medo ajuda a compensar, é uma espécie de antídoto. Limita a auto-confiança em excesso. Portanto , um pouco de medo é bom para evitar que façamos figuras ridículas.

Depois o que fazer com as mãos? Rodrigo, o que é que fazemos com as mãos? Ele é o especialista nesta matéria.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- O corpo humano, como o Carlos disse, o nervosismo é absolutamente normal. Há maneiras é de enganar o nervosismo, porque o nervosismo é uma reacção química. Qual é a melhor maneira de enganar o nervosismo? É criarmos um escape para o nervosismo, um escape, uma brincadeira. Se vocês repararem a maior parte dos políticos, apresentadores de telejornais, vocês vêem os apresentadores de telejornais a brincar com a caneta, vêem outros que brincam com as mãos, vêem o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa a brincar com o relógio.

Tudo isso são escapes para o nervosismo, é uma maneia do nosso corpo ficar distraído que é para deixar a nossa boca falar, que é o problema.

Aquilo que não se pode fazer com as mãos, nunca, nunca, e é um tique, às vezes não sabemos o que fazer às mãos, é enfiá-las no bolso, que é a pior coisa do mundo. Acontece-nos a todos, principalmente nos primeiros tempos. Estamos a falar em público e lá vai a mão para o bolso – é horrível. Portanto, o melhor é tentarmos criar quase um tique ou um escape para o nervosismo, algo que pareça normal. E isso pode-se treinar. Por exemplo, o Blair e o Cameron exactamente, ou então o Pedro Abrunhosa que fazia assim. Portanto, criem um escape, procurem o melhor escape para o nervosismo. Eu, por exemplo, é falar de pé, de outra maneira começo a ficar tenso, se estou sentado começo a agitar a perna por baixo da mesa, é uma maneira do nervosismo sair. Mas, o truque da caneta, normalmente resulta muito bem, e uma pessoa fica dom um ar intelectual, confesso.

 
Dep.Carlos Coelho
- Segunda mensagem, segundo conselho. – Não atrair os abutres, ser firme. Como as moscas são atraídas pelo sangue, numa assembleia a maior parte dos adversários são atraídos pela fraqueza. É fácil atacar quem aparentemente tem mais dificuldade em defender-se, portanto, torna-se a parte mais vulnerável da manada. É assim na vida animal, é assim na vida política.

É necessário aparentar mais firmeza do que se sente. Se vocês vão para uma reunião muito inseguros, não deixem transpirar essa insegurança, finjam que estão seguros.

Um truque muito importante é olhar a audiência. Há muita gente que me diz: eu não consigo olhar a audiência de frente. Agora, imaginem o que é uma comunicação em que eu não olho para vocês e só olho para o papel – estou tramado!

Qual é o truque? O truque para quem não consegue olhar na cara das pessoas é, ver o mais alto da última fila, imaginar um palmo por cima da cabeça, está ali um companheiro nosso de branco, eu estou a olhar um palmo para cima da cabeça. Quando vocês me vêem têm a ilusão de que estou a olhar, eu não estou a olhar para nenhum de vocês, estou a olhar para o suporte da câmara que está atrás dele. Mas vocês têm ideia que eu estou a olhar para a audiência. Este é um truque para quem não consegue olhar de frente os seus interlocutores.

Mas, o essencial é aparentar mais firmeza do que aquela que se sente.

Terceira mensagem, terceiro conselho. – Não comecem a falar sem definir o objectivo, o objecto e o intuito. Eu antes de falar aqui, hoje, convosco, estou a tentar dar-vos dicas para falar claro, mas não é apenas o objecto que interessa definir, é qual é o intuito. O meu intuito é que vocês apreendam, e portanto, estou a tentar fórmulas para vocês apreenderem aquilo que eu considero mais importante.

Ora, se eu quisesse excitar a vossa revolta num discurso políticos, eu teria que representar o discurso para exercitar essa atitude; se eu quisesse o vosso apoio, o vosso voto, estaria a representar a minha intervenção para esse objectivo; se eu quisesse outro objectivo tentaria desenhar a minha intervenção para corresponder a esse intuito.

Ou seja, temos que definir o objecto e o intuito da intervenção. Uma intervenção pode ser racional, uma intervenção académica ou pode transportar emoção.

No pedido de esclarecimento, eu posso fazer um pedido de esclarecimento porque quero saber, houve uma intervenção, quero esclarecer; ou posso usar o pedido de esclarecimento para enervar o adversário. Está ali o socialista à frente, eu vou fazer um pedido de esclarecimento só para o chatear, para o destabilizar. Portanto, utilizem o pedido de esclarecimento como um instrumento.

E até, a figura regimental mais limitada, que é a resposta ao esclarecimento, portanto, alguém me fez uma pergunta, eu tenho que responder a essa pergunta, é, no contexto da assembleia, o exemplo mais limitado, a figura mais bitolada, mais balizada, eu posso utilizar a resposta ao esclarecimento para coisas muito diferentes. Eu pedi a ajuda do Presidente da JSD que ontem veio de uma reunião muito importante de Lisboa a altas horas e mesmo assim predispôs-se a colaborar connosco gravando três situações diferentes, vamos pensar que o Primeiro-Ministro José Sócrates quer saber o que é que a JSD pensa sobre a matéria e faz uma pergunta ao líder da JSD:

Primeiro-Ministro José Sócrates: - E, afinal, o que é que a JSD propõe sobre o arrendamento jovem?

Presidente JSD: - Sr. Primeiro-Ministro, o que a JSD pretende é que se institua em Portugal um sistema que promova e incentive o acesso dos jovens ao mercado de arrendamento. Pretende-se que se altere as regras de tributação das rendas, instituindo um sistema de rendas controladas pelo Estado. Assim, permite-se que os jovens tenham a possibilidade de aceder ao mercado de arrendamento sem onerar o orçamento do Estado.

Muito bem, o que é que o Pedro Rodrigues fez? Respondeu à pergunta. O Primeiro-Ministro perguntou o que é que a JSD queria com esta medida e ele explicou. É usar a resposta ao esclarecimento para esclarecer melhor o pensamento. Em bom rigor é a razão primeira da existência da resposta ao esclarecimento, é esclarecer.

Mas o Pedro Rodrigues pode fazer outra coisa:

Primeiro-Ministro José Sócrates: - E, afinal, o que é que a JSD propõe sobre o arrendamento jovem?

Presidente JSD: - O que a JSD pretende é que os jovens portugueses tenham possibilidade de ter uma casa. Mas estamos também muito preocupados com o facto de milhares de jovens não terem emprego, não terem acesso ao ensino superior, e de não existir em Portugal um sistema de educação que prepare os jovens para as suas vidas. O governo devia ter respostas para todos estes problemas.

O que é que o Pedro Rodrigues fez? O Pedro Rodrigues aproveitou a pergunta sobre a habitação para falar de outras matérias, e diz: Ok, o senhor está-me a perguntar, um segundo para responder à sua coisa, mas não é só isso que interessa, há muitas outras questões.

E põe e outros em cima da mesa.

Reparem como a resposta ao esclarecimento serve para introduzir outros temas em debate.

Terceiro exemplo:

Primeiro-Ministro José Sócrates: - E, afinal, o que é que a JSD propõe sobre o arrendamento jovem?

Presidente JSD: - O que a JSD pretende é que os jovens portugueses tenham possibilidade de ter uma casa. Lamento que para si esta não seja uma questão relevante. O senhor tem-se revelado absolutamente insensível em relação às dificuldades dos jovens portugueses. É absolutamente escandaloso que o Sr. Primeiro-Ministro e os seus ministros vivam desafogados em palácios de luxo no centro da cidade de Lisboa, enquanto os jovens portugueses nem sequer têm condições para ter a sua própria casa.

(APLAUSOS)

É um registo um pouco demagógico, mas é um contra ataque. O Primeiro-Ministro perguntou ao Pedro Rodrigues o que é que a JSD quer sobre habitação, e o Pedro Rodrigues responde: olhe, tenha juízo, você vive num palácio, resolva os problemas e não ande para aqui a chatear.

É um contra ataque um bocadinho demagógico, mas mudou completamente o tema da conversa. A notícia de um jornalista provavelmente seria: Pedro Rodrigues denuncia palácio em que vive José Sócrates.

Antes de falar, definam as ideias chave, ordenem as ideias e os argumentos, nunca se esqueçam: definam o objecto e o intuito.

Quarto conselho. - Não ignorem a audiência. Discursar não é falar para a parede, discursar é comunicar. Discursar é falar com. Eu estou a falar convosco. Não ignorem a assembleia, vejam como é que as pessoas reagem, se aplaudem, se discordam, se estão atentas, se estão a dormir.

A Executive Digest deste mês trás uma reportagem sobre a comunicação em Inglaterra, e fala da Margaret Thatcher que aparentemente nesta altura não estará com a melhor saúde, estará demente. Thatcher alterou a forma de comunicação dos políticos. Em Inglaterra os políticos eram muito americanos, falavam muito entre eles, tinham um registo popular. Margaret Thatcher achou que para a sua eficácia, para chegar aos eleitores, tinha que dar um ar mais sério, mais formal, mais autoritário, mais professoral. E, ganhou. Funcionou naquela altura com esta personagem.

Ponto quinto. – Não esquecer que os outros vêem. Excepto na rádio, as pessoas não ouvem um discurso, as pessoas vêem um discurso: vêem quem fala, como fala, qual é a expressão corporal. Isso significa que, vocês têm que representar o discurso.

Como vos disse na abertura, a comunicação política não é apenas transmitir argumentos, é também transmitir emoção, fala-se com o corpo, fala-se com o corpo, mas não apalhaçar, tudo o que é exagerado é mau. Portanto, nada de apalhaçar. Já todos vimos várias vezes pessoas que com a gesticulação batem no microfone, ou entornam o copo de água, ou esbofeteiam a pessoa que está ao lado. Cuidado com isso. Nada de excessos, tudo com conta, peso e medida.

E cuidado com os tiques. Cada um de nós tem tiques e há tiques mais visíveis do que outros, e há tiques que acabam por centrar as atenções. Este senhor foi Primeiro-Ministro do PS e tinha um tique, a determinada altura toda a gente estava mais fixado em ver quando é que ele ia ajeitar a melena do que em ouvir aquilo que ele tinha para dizer. Não há nenhuma reportagem televisiva do António Guterres em que ele não apareça a fazer este gesto.

Há muitos anos, para não ser só o Rodrigo a citar o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa era líder do PSD e, tinha aparecido uma reportagem a dizer que ele escrevia com as duas mãos, portanto, um homem genialmente inteligente e escrevia com as duas mãos. Ele está a ser entrevistado pelo Miguel Sousa Tavares e pela Margarida Marante, e começa a brincar com a caneta e a mão, talvez como escape, talvez para provar que aquilo que o jornal tinha dito era verdade e que ele escrevia mesmo com as duas mãos. A determinada altura já ninguém ouvia aquilo que ele dizia, estavam todos os espectadores fixados no jogo das mãos, a caneta passava da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, ele fazia desenhos que ninguém via em casa, isto é uma coisa completamente absurda na televisão a menos que haja uma câmara em cima para mostrar o que ele está a desenhar, ninguém viu os desenhos, nem sequer os seus entrevistadores.

E, isto acabou por concentrar as atenções e as leituras mediáticas do dia seguinte.

Não esqueçam: os outros vêem, um gesto vale mil palavras, e nós sabemos isso bem com a cultura tradicional portuguesa. Tenham atenção à vossa imagem.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Bom, isto parece básico, mas às vezes esquecemo-nos de coisas tão simples como estas. Temos que ter cuidados com a maneira como nos vestimos, como nos arranjamos. Tal como não vamos votar num estacionador de carros, nós reconhecemos um estacionador de carros à distância, certo, vemos pela maneira que ele está vestido, pelo ar que põe. Não votamos nele de certeza.

Tal como isso é verdade, também é verdade que personagens como António Pires de Lima ou o Tony Blair têm outro apport. Em Inglaterra, por exemplo, a mulher mais odiada, durante anos, não foi a Camilla Parker Bowles, era a Cherie Blair, a mulher do Tony, porque o tipo era sexy, é um político sexy, as mulheres gostavam dele, e depois fazia aquele ar de paizinho de família.

E para vocês verem como isto é verdade, não sei se vocês reconhecem esta extraordinária figura. Reparem na barbinha e no ar proletário do verdadeiro operário. O senhor candidatou-se quatro vezes às eleições brasileiras e perdeu sempre. Quatro vezes! Olhem para a barba, não é difícil perceber porquê, as pessoas não confiavam, há uma classe média enorme no Brasil, não todos operários, não é? Portanto, as pessoas não confiam numa pessoa assim. E reparem agora na pessoa que ganhou as eleições. Olhem bem para este tique, olhem para isto: o cabelo arranjadinho, a barba finalmente aparada, um fatinho, a gravata monocolor, até o pinzinho à presidente americano. Aquilo sim é um homem que inspira confiança, aquilo sim é um homem a quem eu não me importo de entregar o meu voto e os destinos do meu país, o outro já nem tanto.

 
Dep.Carlos Coelho
- Sétimo conselho. – Não falem sem sentir aquilo que vocês dizem. As pessoas sentem quando se fala sem alma e sentem quando se fala com alma. Ilustrem os argumentos com situações da vida real e quotidiana, falem a verdade, falem os vossos pensamentos, as vossas ideias, as vossas convicções, as vossas experiências. É totalmente diferente e as pessoas sentem quando vocês falam aquilo que sentem.

Oitavo conselho. – Ganhem a simpatia do público. Na primeira intervenção, não é muito importante a substância do que se diz é mais a imagem que se deixa. Para o primeiro “Falar claro”, pedimos ao Rodrigo Moita de Deus para dar um exemplo, que simulasse uma primeira intervenção, alguém que está um bocado nervoso, que tropece um bocadinho na palavra, mas que deixa uma imagem simpática. Ele na altura era um bocadinho mais novo, ainda não tinha barba, a barba apareceu-lhe mais tarde, foi um adolescente tardio. (Risos)

«Sr. Presidente , Srs. Deputados, como todos sabem é a primeira vez que tenho a honra de me dirigir a esta assembleia. Eu gostaria de aproveitar a ocasião para cumprimentar todos os partidos sem qualquer tipo de excepção. Eu gostaria de dizer que todos fomos eleitos legitimamente e que é uma, e que existe uma legitimidade para respeitar. Gostaria também de dizer que nem sempre estaremos de acordo, mas espero muito honestamente que o debate decorra de forma civilizada, tal como a nossa democracia atingiu um grande grau de maturidade.

Muito obrigado»

É um sinal de simpatia. É mais importante a primeira imagem que vocês deixam do que propriamente a grande substância. Portanto, atenção a isso, sobretudo na primeira vez que falam num órgão. Sejam modestos sem serem humildes ou simplórios.

Nono conselho. – Não sejam, chatos. E aí o Rodrigo e eu já pedimos desculpa porque estamos a fazer o contrário daquilo que vos queremos dizer. Sejam breves e concisos, nunca falem mais de 20 minutos, portanto, nós já merecemos uma nota negativa por estarmos a falar há mais de 20 minutos. Não falem depressa, não falem demais. Cuidado quando se fala sem papel. Geralmente o discurso oral tende a prolongar-se, nós não temos a noção do tempo quando falamos sem papel. E quando se fala com papel tentem não falar depressa demais, a coisa mais ridícula, já vi um deputado, uma pessoa, aliás, muito conhecida, na Assembleia da República, tinha um discurso para 20 minutos, em 10 minutos, e portanto, em vez de cortar o discurso começou a falar a correr. Imaginem o que é isto: se as pessoas só memorizam três segundos, cuidado com os três segundos,....” Ninguém percebe nada. É completamente ridículo. Quando vocês têm menos tempo, têm que cortar o discurso, não tentem meter, como se diz, o Rossio na Rua da Betesga.

Recusem o discurso redondo. O narcisismo literário não funciona na oralidade, um texto muito bonito, muito poético, é bom para se ler não é bom para se discursar. O discurso oral é mais cru, pode ser menos trabalhado, menos rendilhado, mas é mais eficaz.

Dois exemplos. O Gonçalo Capitão foi deputado da JDS e gravou um exemplo de um discurso redondo, bonito:

«Houve quem, decerto sem intenção, colocasse em dúvida a legitimidade da nossa posição que aqui quisemos defender, esquecendo-se porventura de que na composição da nossa pirâmide etária demográfica, perto de 40% da população se encontrar abaixo da linha demarcadora dos 30 anos.»

Ok. Nós ouvimos isto, é bonito, é elegante, mas perguntamos: o que é que o gajo disse? Ele afinal o que disse é uma coisa muito simples, podia ter dito de forma mais clara, e a forma mais clara seria esta:

«E para quem queira colocar em causa a legitimidade da nossa posição, basta recordar uma frase simples que toda a gente entende: que metade da nossa população tem menos de 30 anos.»

Era isto que ele queria dizer, era isto que ele deveria ter dito.

Décimo conselho. – Nunca decorem um discurso escrito. Se têm um discurso escrito, leiam o discurso se querem falar de “improviso” façam notas. As linguagens são diferentes.

Winston Churchill foi um dos maiores oradores da história parlamentar britânica, decorou um discurso escrito, parou a meio, teve uma branca, e como teve uma branca não foi capaz de retomar. com tópicos, se saltarmos um tópico, passamos para o outro. Temos flexibilidade. Portanto, nunca decorem um discurso escrito, e nunca peçam a outro para escrever um discurso sem vocês o trabalharem, para ter a vossa linguagem. Todos os discursos que são lidos por alguém diferente da pessoa que escreveu, soa um bocadinho a falso, a pessoa percebe que houve ali um ghostwriter.

Décimo primeiro conselho. – Nunca descurem as defesas. Às vezes já não hipóteses de voltar ao discurso e portanto, temos que antecipar argumentos, e às vezes temos que semear uma intervenção com lugares comuns, que garantam pelo menos que as pessoas aderem ou que nós nos podemos defender mais tarde, dizer: Ah, não, mas eu também falei nisto.

E, portanto, às vezes vocês têm que encher um pouco de chouriços, desculpem-me a metáfora, coisas que ficam sempre bem num discurso, num discurso lido:

- “Não há solidariedade sem reduzir as diferenças gritantes entre os cidadãos”;

- “Não há progresso justo em Portugal, sem que ele se faça sentir em todas as regiões do país”;

- “Reduzir as assimetrias de desenvolvimento entre o Litoral e o interior, o Norte e o Sul, a cidade e o campo”.

São coisas que toda a gente concorda. Informação, participação dos cidadãos, qualidade de vida, ambiente. Aquelas cool words que o Rodrigo vos falava há pouco.

Décimo segundo conselho. – Nunca responder se não se sabe, nunca falar do que não se sabe suficientemente. Sejam firmes na ignorância, ninguém tem a obrigação de saber de tudo. É melhor dizer: eu não sei, do que simular o conhecimento e espetar-se. A credibilidade é o capital mais importante dum político, custa muito a conquistá-lo, é fácil delapidá-lo. Nunca simulem conhecimento.

Formas de fugir a isso:

- “Nunca tinha visto este problema sob esse ângulo”. Imaginem que eu estou com um adversário na Rádio, que ele me coloca uma questão para a qual eu não tenho resposta. “Nunca tinha pensado”, é melhor dizer: “nunca tinha visto esse problema sob esse ângulo, parece interessante, talvez perigoso ou inaplicável, mas gostaria de pensar um pouco melhor antes de me pronunciar”. Ele fica sem grande capacidade de resposta: “Mas não..”, “Não. Quero pensar melhor, nunca tinha pensado nisso, é curioso, é interessante, vamos pensar, vamos reflectir”.

É melhor do que simular e ser apertado, provando-se que eu não sei nada, ou que digo um grande disparate.

Outra forma elegante é dizer:

- “Ah, evocou argumentos novos que merecem reflexão”, “Se reagisse de imediato não lhe faria justiça, prefiro valorizar os seus argumentos, pesá-los com outras opiniões, e voltar ao assunto na próxima oportunidade”. É uma forma de dar a volta.

Simular conhecimento é a pior coisa que pode acontecer.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Falar do que não se sabe. Vamos ver este sketches do Gato Fedorento que vale a pena.

Vídeo no Youtube - Socrates na Casa Branca com Mr Bush

http://www.youtube.com/watch?v=DUIT3GWcWJk&feature=related

Não tem mal que o Primeiro-Ministro não saiba falar inglês, agora alguém consegue imaginar o Sarkozy cheio daquele orgulho francês, chegar à Casa Branca e querer falar inglês? Ninguém imagina isso. Chega lá fala francês, ponham o tradutor a traduzir que é para isso que ele serve. Especialmente se o Sarkozy tiver problemas com o inglês é isso que fará de certeza absoluta. Mas o nosso Primeiro-Ministro tinha um problema, estávamos no auge do caso da Universidade Independente e do inglês técnico, resolve ir para Washington provar a toda a gente que sabia falar inglês, correu bem, “meadle west”.

 
Dep.Carlos Coelho
- Décimo terceiro conselho. – Ataquem com firmeza protegendo a retaguarda. Nunca afirmem o que não sabem ou do que não têm provas. A frase importante, a expressão é “parece-nos que”, nunca afirmem o que não sabem ou do que não têm provas.

Vou-vos dar alguns exemplos de formas de fazer afirmação sem se comprometerem, por exemplo, eu digo o seguinte:

- “A confirmarem-se os rumores que correm, temos de apurar responsabilidades e retirar consequências jurídicas e políticas ”. Não estou a dizer nada, mas a mensagem está passada, o autarca do PS, “a confirmarem-se os rumores que correm, temos que retirar…”

Agora, vejam força da palavra em português. Se eu disser “consequências jurídicas e políticas”, tem um peso, “Consequências jurídicas e políticas”; mas se eu disser “consequências políticas e criminais”, tem mais peso ainda, a insinuação está feita, ninguém pode acusar de nada. Eu não disse nada. Não disse que ele roubou, não disse “o sr. presidente da câmara do PS tem as mãos nos bolsos”, mas a mensagem está passada.

Posso dizer numa assembleia municipal:

- “Estamos preocupados com as informações que circulam, que a confirmarem-se, a confirmarem-se, são prova da mais grave irresponsabilidade e de aproveitamento ilícito de recursos públicos”.

Ninguém me pode acusar, eu não disse nada. A frase está construída de forma a eu ter uma salvaguarda, eu protegi a minha retaguarda.

Mais outro exemplo:

- “Boatos com esta gravidade..”, imaginem isto com um ar sério, “Boatos com esta gravidade têm de ser desmentidos, sob pena de minarem a credibilidade de autarcas, que até prova em contrário devem merecer a nossa consideração”.

Portanto, são formas de atacar com firmeza, denunciar casos que as pessoas falam na terra, mas sem desprotegermos a nossa retaguarda.

Décimo quarto e penúltimo conselho. – Nunca atacar com maldade, dosear a agressividade. Evitar ataques pessoais, são desnecessários e inconvenientes. Insinuar com fundamento e com clareza. E representar a indignação.

Vocês não hesitem em atacar o adversário tentando embaraçá-lo. Isso tem que ser lido caso a caso, deixem-me dar só dois exemplos de ataques que o Gonçalo Capitão protagonizou, tentando num contexto de assembleia embaraçar os seus adversários indo àquilo que lhes tocava mais, a sua personalidade política e a sua história:

- «Não deixa de ser surpreendente que o Partido Comunista, que tanto sofreu para que pudéssemos ter hoje a nossa liberdade, incorra agora naquilo em que acusou os fautores do anterior regime: o ataque pessoal, a calúnia, a difamação e em certo aspecto a tortura psicológica. A História encarregar-se-á de remeter o Partido Comunista para a arqueologia. Para já agradecíamos apenas que fossem mais correctos.»

Imaginem que o nosso ataque é com o CDS, um partido que se reclama da Democracia Cristã:

- «É de todo arrepiante ver o CDS - Partido Popular, que se sempre se reclamou da doutrina social da Igreja, que sempre se reclamou do personalismo humanista, vir agora com esta crueldade, com esta insensatez, punir os seus adversários com tamanha injustiça. Dir-se-ia, para utilizar a terminologia que tanto vos apraz, que o vosso resultado na política vai ser o Inferno.»

Representar a indignação, deixar os adversários embaraçados. Sejam simpáticos quando atacam. Nós utilizamos a expressão “ser filho da mãe educadinho”.

Dois exemplos curtos:

- «Vossa Excelência é de facto um orador interessantíssimo, dir-se-ia que tem um discurso muito agradável, um discurso light, mas de tão light emagreceu excessivamente o conteúdo e não lhe descortinámos ponta de ideia.»

Outro filho da mãe educadinho, Rodrigo Moita de Deus:

- «Ó Sr. Deputado, isso de facto é brilhante, é brilhante, eu confesso que não tenho metade das suas capacidades como orador, agora aquilo que eu sei é que o embrulho era fantástico, agora de conteúdo, zero. Zero.»

As mensagens mais simples são aquelas que ficam.

Último conselho. – Nunca admitam ser inferiorizados pela idade, sexo, cor, confissão religiosa, orientação sexual, aquilo que quiserem. Não há nenhuma razão, numa sociedade democrática e civilizada para a discriminação. Não hesitem em recorrer à defesa da honra sempre que necessário. O mais frequente é, às vezes no Partido, nas autarquias as pessoas gozarem com a idade, é novo, “ah, é novinho..” e tal.

Aqui uma defesa da honra feita pelo Gonçalo Capitão :

- «Deixe-me dizer-lhe que posso ser mais novo que o senhor mas estou aqui com a mesma legitimidade. Os votos que me elegeram são tão bons ou melhores que os seus. E não admito que me descrimine em função da idade, porque nesse caso seria obrigado a dizer-lhe que V. Exa., já prescreveu.»

Numa Universidade de Verão, não me recordo se em 2004 se em 2005, alguém de vocês disse: “Muito bem. Ok. Mas se for um cúmulo de discriminação”. Vamos supor em Portugal, que ainda é uma sociedade machista, que a pessoa não é apenas jovem, mas que é mulher e que é preta. Portanto, temos uma discriminação etária, sexual e racial. E essa pessoa, essa jovem mulher é agredida por um machista intolerante, racista, numa reunião em que a tenta humilhar. É sempre difícil pensar como é que essa pessoa deveria reagir. Eu comecei a tentar criar um cenário e acho que a forma melhor da pessoa reagir seria da miúda chegar e dizer “Vejo-o nervoso..”, olhando o machista, racista nos olhos:

- “Vejo-o nervoso, agressivo e precipitado, não sei o que o perturba mais: se o facto de ser jovem, de ser mulher ou de ser preta? Qualquer dos receios..”

Reparem na expressão dos “receios”, dizer a um machista que ele é acobardado.

“…qualquer dos receios só por si já o deveria embaraçar. Concentre-se no que eu aqui afirmei e na razão que me assiste. Tudo o mais é preconceito que o deveria envergonhar.»

Seria uma resposta possível para um caso limite.

Nunca se esqueçam porém, o sangue frio valoriza a reacção e impede o disparate. Mesmo atacados, nunca percam o sangue frio.

Muito obrigado.

(APLAUSOS)

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Carlos, obrigado Rodrigo. Vamos iniciar as perguntas que estão programadas de acordo com a distribuição que fizemos na segunda-feira à noite.

E a primeira pergunta é feita pelo Grupo Amarelo, Luís Filipe Santos.

 
Luis Filipe Santos
- Antes de mais, bom dia a todos os companheiros presentes nesta sala e, em primeiro lugar, o Grupo Amarelo gostaria de salientar a excelência organizativa da Universidade de Verão 2008, e congratular a equipa liderada pelo Magnífico Reitor Carlos Coelho , confirmado pela qualidade desta aula dada em conjunto com o Dr. Rodrigo Moita de Deus.

Em segundo lugar, como foi dito, é importante passar a mensagem, ou seja, do ponto de vista comunicacional, como é que orador pode adoptar a mensagem à comunidade que tem à frente? Será que varia os níveis de linguagem do seu discurso? E se variar os níveis de linguagem do seu discurso, como conseguirá manter a coerência da mensagem?

Obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho
- Os níveis de linguagem dependem do interlocutor. O que eu não posso é mudar níveis de linguagem com o mesmo interlocutor. Eu não posso olhar para si e tê-lo como uma pessoa inteligente, fazer um discurso relativamente estruturado, e depois numa outra oportunidade ou na mesma sessão fazer um discurso básico e desguarnecido de argumentos. Portanto, eu não posso tratá-lo de forma diferente.

Agora, se eu falar consigo e amanhã for a um quartel falar a militares sobre a mesma questão, provavelmente vou usar um tipo de linguagem diferente.

O facto de eu adaptar a minha linguagem a cada interlocutor, não perde coerência. A menos que diga uma coisa num lado e diga outra coisa noutro. Se eu a si disser “eu amo a liberdade e a democracia”, e num ambiente diferente disser “Eu abomino a liberdade e a democracia”, a malta vai dizer “este gajo é um troca tintas, diz uma coisa num dia e outra coisa no outro”.

Agora, não creio que se possa dizer que há perda de coerência se nós adaptarmos a linguagem ao interlocutor. O que tem é de haver coerência nos argumentos. Coerência naquilo que é a mensagem fundamental. Agora, eu posso dizer a mesma coisa de forma diferente.

É mais importante adaptar o discurso ao interlocutor, ainda que alguém que veja os dois discursos diga: “ah, ele tem linguagens diferentes”, mas ninguém pode dizer: “ele está a dizer coisas contrárias”, mas eu ter a sintonia da mensagem, como vos disse no início, estar a falar para cada uma das audiências, do que preocupar-me em fazer sempre o mesmo discurso para dizerem: “este gajo é coerente, diz sempre a mesma coisa”, e não adaptar a minha linguagem ao meu interlocutor.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Carlos. Dou a palavra à Maria Filomena Ferreira do Grupo Rosa.
 
Maria Filomena Ferreira
- Bom dia a todos. Uma saudação especial ao Deputado Carlos Coelho e ao Dr. Rodrigo Moita de Deus, aos quais, em nome do Grupo Rosa , gostaríamos de agradecer a clareza da exposição aqui apresentada, em nosso entender de grande utilidade no futuro.

O marketing é cada vez mais importante a nível político, na medida em que favorece a construção e desenho de imagens e realidades que podem influenciar claramente a opinião pública.

Um exemplar deste processo é, sem dúvida, a estratégia adoptada pelo nosso Primeiro-Ministro, Eng. José Sócrates. Que consegue muitas vezes projectar imagens cor-de-rosa, de cenários claramente cinzentos.

No contexto desta abordagem, pedíamos que nos explicassem quais as principais lições que podemos retirar da actuação do eng. José Sócrates nesta matéria.

Obrigado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Obrigado pela sua pergunta. Ó Maria o Eng. José Sócrates é um homem brilhante e tem com ele a trabalhar pessoas brilhantes. Como disse e bem, tem um condão para transformar situações más em coisas boas. Nós vimos agora recentemente um destes casos, foi a apresentação do computador “Magalhães”, apresentado como primeiro computador portátil construído em Portugal com tecnologia portuguesa e, aquilo na prática era um franchising da Intel.

Agora, devemos perguntar: é verdade que a comunicação social é muito permeável à mensagem do Governo?

Bom, a comunicação social tende a acreditar naquilo que os ministros dizem. Seria normal que aquilo que se diz seja verdade. A partir daí não há defeito nenhum. O resto do trabalho para desmascarar esses efeitos, porque à medida que nos vamos aproximando das eleições, os cenários e os números vão aumentando em complexidade. E às vezes até mesmo em estardalhaço, eles vão ter que aumentar o estardalhaço à volta dos seus eventos, depende de nós. Depende de nós, todos os dias nos jornais, nas nossas comunidades, nos nossos cafés, nos nossos blogues, nos nossos jornais, irmos explicando às pessoas o que é que na realidade se está a passar.

Desmontar os números. Esse é um trabalho que temos que ser nós a fazer, não podemos contar com a benevolência do Eng. José Sócrates.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Rodrigo. Ivan Duarte, Grupo Roxo.
 
Ivan Duarte
- Sr. Deputado Carlos Coelho , Dr. Rodrigo Moita e Dr. Pedro Rodrigues, Minhas senhoras e meus senhores. Queria antes de mais, em nome do Grupo Roxo , congratular pela excelente e dinâmica aula que aqui nos foi prestada.

A minha pergunta vai sobretudo basear-se também no marketing político e com a evolução que realmente se tem vindo a verificar na sociedade.

Baseado num estudo de José António Saraiva, que passo a transcrever “Vários estudos apontam para que a avaliação da presença de um político tem a ver em 80% com a imagem, 15% com a performance, o melhor ou o pior desempenho na ocasião, e apenas 5% com o conteúdo daquilo que diz”. E o que eu queria saber era, será que hoje em dia nos preocupamos mais com a imagem e com a forma como aparecemos, como nos apresentamos em detrimento, um pouco, do conteúdo político que realmente interessará?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Bom, eu sou muito fatalista e muito pragmático os políticos são muito chatos, são muito chatos. Se eu quisesse ouvir o programa todo o PSD tinha-o lido. Portanto, eu não quero que me expliquem o Programa todo do PSD, eu quero que alguém, se faz favor, me resuma bem. E depois quero ver se é alguém que eu possa confiar. Eu se quiser ler o programa, eu leio-o. Eu escuso de estar aqui a discutir consigo a doutrina. Isto é um bocadinho, acaba tudo na Miss Universo, todos queremos um mundo melhor, sim, o país mais rico e a gente mais feliz e tal, e gosto muito dos pobrezinhos, e o verde os passarinhos.

Portanto, eu sou um bocadinho pragmático, essa opinião do António José Saraiva nem sequer me surpreende. Sim, é verdade, sim, as pessoas querem sentir que alguém que está do outro lado é confiável. Depois, tudo o resto, se quiserem vão à procura da informação, a informação está disponível.

Aquilo que eu estou a dizer é quase um crime que merece prisão, mas é verdade, tudo o resto, eu quero é saber se tenho dinheiro ao final do mês para continua a ver televisão lá em casa, e ver o futebol e as telenovelas. Eu se me quisesse preocupar com o país tinha-me candidatado a político. É o princípio básico. Se alguém que o faz, é confiável não é confiável, tem as ideias certas, não tem as ideias certas, e isso vê-se não é preciso mais que 15 segundos, tudo o resto é um bocadinho Miss Universo.

Isto é um bocadinho cruel, mas estou-vos a dizer para, sintetizem a mensagem, sintetizem a mensagem, sintetizem a mensagem, a informação tem é que estar disponível, tudo o resto é floreado. Há imenso espaço para grandes debates teóricos, debates doutrinários, há imensos espaços para isso, não é preciso ser na televisão.

 
Dep.Carlos Coelho
- Eu só queria juntar o seguinte: eu não sei se concordo com os 80-15-5, mas admito que na nossa sociedade de hoje a imagem é muito importante, portanto, até admito que seja mais de 50%, sobretudo na televisão. Mas as pessoas não são estúpidas. Não tenham a tentação de pensar que as pessoas são estúpidas. E também não vão só pela imagem, pode ser 5%, pode ser 8%, pode ser 15%, eu acho que é francamente mais do que 5, mas as pessoas dão valor à substância. A pessoa pode ter muita imagem, pode ter uma excelente performance, mas se aquilo for um balão vazio, as pessoas percebem e vão dizer: este gajo ou esta fulana sai bem, mas não serve.

Outra vez: a credibilidade é um valor muito importante. A substância pode na imagem televisiva instantânea não ser o mais importante, mas não há nenhum político que se possa afirmar sem essa componente.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Desculpa Pedro. Deixem-me só acrescentar, para dar razão, muita razão àquilo que o Carlos Coelho está a dizer, há um inglês Spin doctor, um daqueles tipos que trabalharam com o Blair, considerados os génios do marketing político, chamado Paul Richards, que escreveu um livro chamado “How to win an election”, que vendeu 60 mil exemplares, o homem vende nos Estados Unidos, vai dar conferências não sei onde. Deixou de trabalhar com o Blair, resolveu candidatar-se. Escreveu um livro “How to win a election”, perdeu, perdeu. Querem melhor exemplo de que um político vazio não serve realmente de nada.

É verdade, a imagem é importante, mas o conteúdo é fundamental. Tem é que ser trabalhado.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Muito bem. Verónica Pereira do Grupo Vermelho.
 
Verónica Pereira
- Reitero o que já foi dito anteriormente e em relação às questões do Grupo Encarnado que quero colocar é, qual a importância do timing e do know-how para a exposição e clarificação de um tema fora do contexto actual?
 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Bom, a agenda mediática é de facto uma coisa tramada, é uma coisa tramada. Mas nós falámos há bocado, na apresentação, de maneiras de quebrar essa agenda mediática. O Barco do Aborto é um grande exemplo. O tema do aborto estava completamente fora da agenda mediática, ninguém falava, criou-se um número, conseguiu-se lançar a moda de se falar sobre o assunto.

E, portanto, há sempre maneira de nós relançarmos e lançarmos assuntos.

Nós não somos escravos da agenda mediática, não pensem isso, vocês não são menos do que o editor do diário de Notícias ou com o Editor do Público. Esqueçam isso. Parecem menos, mas são muito mais. Se vocês todos falaram sobre o mesmo assunto ao mesmo tempo, garanto-vos que ele vai ter de escrever sobre o assunto. Ele vai ter de escrever sobre o assunto. Há formas de quebrar a agenda mediática, nós sabemos quais são, falámos agora sobre algumas.

E quero é que vocês sigam um bocadinho esse instinto. Vocês, todos juntos, ou em separado, ou nos vossos palcos, conseguem-no fazer. Não sejam escravos, façam-na, façam a vossa própria agenda.

 
Dep.Carlos Coelho
- Eu pedi ao Rodrigo para começar, eu pensei que ele ia dizer outra coisa. Nós estivemos ontem à noite de madrugada a reduzir a apresentação porque ela já estava demasiado grande, e mesmo assim foi maior do que nós pensávamos e tivemos que tirar várias coisas. E tirámos umas coisas que o Rodrigo tinha pensado dizer-vos que tem a ver com a estratégia da gestão de informação, exactamente com a questão do timing.

O que ele chama “queimar uma notícia” – se uma notícia amanhã é nociva para nós, é melhor que ela apareça antes dada por nós próprios.

A gestão do timing é muito importante. Imaginem uma campanha eleitoral, imaginem que eu sou (...)

(Um minuto inaudível)

Carlos Coelho : - (...) Finanças, foi Governador do Banco de Portugal, foi Presidente do Banco Central Europeu, toda a gente diz isto, é o maior economista. Eu não poso deixar que os temas económicos dominem a última frase da campanha, porque aí estou em desvantagem, toda a gente vai dizer: “bem, aqui o grande craque é o socialista, não é o Coelho”. Não é o Coelho, laranja, porque há um Coelho Rosa, que agora está nas Obras Públicas. (Risos)

O que é que me interessa, na minha gestão eu começo a discutir os temas económicos na primeira metade, para depois na segunda metade ir aos temas sociais, aos outros temas, aos temas educativos, aos temas em que me sinto mais à vontade. E quando na segunda metade o socialista vier dizer: “Temos que discutir economia”, “Por amor de Deus! Já discutimos um mês a economia, agora temos que falar das pessoas, do seu bem estar, da igualdade, da educação, da aposta nos recursos humanos”.E até posso brincar como o Guterres e dizia “Isto não são só números, são as pessoas”, porque na gestão do meu timing já pus as questões económicas em primeiro lugar.

Portanto, a gestão timing pode ser estratégica. Ou para esconder fragilidades minhas ou para tirar vantagens onde eu tenho mais-valias, mas o timing não é inocente. E como dizia o Rodrigo, não se deixem arrastar pelo timing dos outros. Seja o timing dos vossos adversários, seja o timing dos jornalistas. Muitas vezes nós vamos a reboque dos jornalistas. Não, nós fixamos o nosso timing e depois é que temos que ser determinados e coerentes.

 
Dr.Pedro Rodrigues
– Obrigado Carlos. Joana Martins do Grupo Cinzento.
 
Joana Martins
- Em nome do grupo cinzento quero cumprimentar todos os companheiros presentes.

E a nossa questão é a seguinte: existem no nosso panorama político várias personalidades indiscutivelmente polémicas como são exemplo: o Dr. Alberto João Jardim, a Dra. Fátima Felgueiras ao Dr. Valentim Loureiro.

Como interpretar este sucesso, sendo estes tão controversos no seu discurso, nas suas acções e, no entanto, continuando a ser eleitos e a ter altos níveis de popularidade?

Deve adoptar-se um discurso mais polémico para captar a atenção? Ou, por outro lado, por uma postura mais austera, primando pelo rigor e racionalidade do discurso?

 
Dep.Carlos Coelho
- Joana, muito obrigado pela pergunta. Eu não colocaria os três no mesmo plano, para ser sincero. É aquilo que eu vos disse. O discurso estabelece, a comunicação estabelece uma relação entre três pólos: o emissor, a mensagem e o receptor. Tem de haver comprimento de onda. Como vocês disse, aparentemente sob o ponto de vista da comunicação política há comprimento de onda nessas situações. Entre o protagonista e o povo que o elege.

A minha opinião é que isso é capaz de não ser exportável para outros meios. Dito de outra maneira: se Fátima Felgueiras for candidata à Câmara Municipal do Porto, ela tem hipóteses de ganhar a Câmara Municipal do Porto? Se Valentim Loureiro for candidato à Câmara Municipal de Lisboa ou candidato a primeiro-ministro, ele tem hipóteses? Se Alberto João Jardim não for candidato à presidência do Governo Regional da Madeira mas for a presidente do Governo Regional dos Açores, cola?

Cada um fala para o seu povo. Independente de haver estilos que eu gosto mais ou que eu gosto menos, e não falando agora de outros rumores relativamente a algumas das pessoas que referiu, onde a questão teria que se colocar num plano ético e não no plano da eficácia, vamos ser claros que aquilo que funciona num determinado local é duvidoso que funcione noutros locais, que seja exportável para outras áreas.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Maria Costa do Grupo Castanho.
 
Maria Costa
- Ora bom dia a todos. Em nome do Grupo Castanho quero saudar, bom dia.

Durante esta conferência visualizamos apenas vídeos de gaffes masculinas, não se corre o risco da imagem de um político ficar afectada negativamente por esta razão? Será um político de sucesso por causa da sua imagem ou por causa das suas capacidades técnicas?

Outra pergunta que eu gostaria de fazer era, se a comunicação social é mais branda, neste aspecto, em relação às mulheres?

Obrigado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Há um exemplo extraordinário daquilo que eu vou tentar explicar. A certa altura, na Campanha de Lisboa, estava o Carmona Rodrigues contra o Manuel Maria Carrilho , portanto, o Manuel Maria Carrilho casado com a Bárbara Guimarães, muito Flash, muito Lux, muito Caras, muito giro e não sei quê, e o Eng. Carmona lá com as mangas arregaçadas, os outdoors assim numa lógica de trabalho.

E há uma cena no estúdio de televisão, a seguir ao debate, em que o Manuel Carrilho não aperta a mão ao Carmona e o Carmona vira-se e diz “grande ordinário”. Bom, à bruta. E aquilo começou a circular monumentalmente, e o Carrilho, é verdade, perdeu as eleições. Qual foi o efeito do vídeo na campanha, e o vídeo foi muito, muito, muito visto, aliás, passou na televisão várias vezes, e passou depois na Internet. O que é que teve. Teve a habilidade e o condão de confirmar tudo aquilo que nós já sentíamos que é: o gajo é um arrogante. Aquele estupor do Carrilho é um arrogante. Bom, temos imensas razões para termos inveja dele, ele tem um doutoramento em filosofia, sempre grandes carros, sempre grandes casas, e depois casou com um mulher muito gira. Portanto, confirmou tudo aquilo que nós já sentíamos em relação ao Carrilho.

Teve um efeito de confirmar, de provar o nosso preconceito, mas o preconceito já lá estava. Era qualquer coisa que nós já tínhamos aqui interiorizado.

Isto tudo para explicar o quê? A gaffe não faz mal, se não tiver a ver com o nosso core business, caso do António Guterres e das contas do PIB, toda a gente dizia que ele era um nabo a fazer contas. Já diziam antes, que não percebia nada de gestão económica, e ainda por cima vínhamos de um governo de Cavaco Silva, onde tínhamos um economista à frente do poder. Portanto, a gaffe do PIB veio reforçar a teoria que o homem não percebe nada de contas, que ele é um perigo, ele próprio fez esse favor, depois dizer “não, aquilo que me importa é as pessoas, e viva a educação e o meu coração está com a educação”.

Portanto, as gaffes, sim, condicionam, marcam, mas marcam de acordo com o nosso preconceito, o preconceito já existente.

Esqueci-me da segunda pergunta relativamente às mulheres. Eu trabalhei durante muito tempo com a Dra. Leonor Beleza, ela própria o referiu ontem, e portanto, fiquei bem doutrinado. Ela disse que não convenceu ninguém,  a mim convenceu-me e dei por mim um dia a defender quotas, qual feminista maluca, com o mulherio tudo do outro lado a dizer “passou-se, enlouqueceu”, (Risos), elas a dizer que não, e eu sim, não, as quotas é importante, eu preciso dar o próximo arranque.

Isso é uma das coisas que eu gostei imenso sempre na Universidade de Verão, é o reconhecimento que tem que haver uma equidade, tem que haver a tal diversidade que a Dra. Leonor Beleza referiu.

E o Carlos estava-me a passar aqui um papel, que diz que vamos começar a cumprir as quotas também relativamente aos vídeos do “Falar claro”. De facto os vídeos é só sobre homens e com gaffes só sobre homens, o que é uma coisa até lisonjeira para as mulheres, mas prometemos que na próxima edição do “Falar claro”, vamos também fazer alguns vídeos com gaffes de mulheres.

Mas tem toda a razão. A comunicação social e mesmo as pessoas são muito mais brandas com as mulheres. Muito mais perdulárias. Reparem a Maria de Belém, há uma cena, provavelmente vocês não se lembram disto, esta imagem a mim não me escapa da cabeça. Quando o deficit da saúde, há muito tempo, no governo do Guterres, começou a derrapar, ela sai dum hospital e perguntam: “Senhora Ministra, senhora ministra, o deficit da saúde é verdade que está nos 400 milhões?”, e ela virou-se e disse: “Eu não sei”.

Bom, vocês imaginem o Correia de Campos a fazer o mesmo número. Bom, tinha levado logo três pauladas dos primeiros três populares que lá passassem. E tinha manifestações à porta durante não sei quantos anos: “Eu não sei, sr. ministro, Ó imbecil, pá, vai pra casa!” E ninguém diz isto a uma mulher, é verdade.

Mas é verdade. Os portugueses são muito mais tolerantes. É horrível! É horrível! Mas é verdade. A existência de um preconceito relativamente à presença das mulheres, criou este facilitismo extraordinário que é “Eu não sei”.

Qualquer mulher que esteja na política é obrigatoriamente genial. Bom, uma coisa eu tenho que admitir, são pelo menos muito mais pacientes. Eu por exemplo não tenho paciência para fazer política. E se elas estão, pelo menos são mais pacientes, mas não são obrigatoriamente melhores por causa disso. Mas ser mulher e ser nova é uma enorme vantagem.

A minha amiga é Ministra, nova…

 
Dep.Carlos Coelho
 - O Rodrigo ainda está a pensar fazer aquela operação! (Risos)
 
Dr.Pedro Rodrigues
- Rui Gonçalves do Grupo Verde.
 
- Bom dia a todos. Antes de mais queria felicitar o Deputado Carlos Coelho e o Dr. Rodrigo Moita de Deus pela apresentação de hoje.

E a pergunta do Grupo Verde consiste no seguinte: em declarações recentes, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou acerca do silêncio do PSD nos últimos dois meses: “É mau, mas tem mais vantagens do que inconvenientes”, será que hoje em dia uma boa retórica ou uma boa estratégia de comunicação passa também por silêncios de ouro?

Obrigado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Você citou-o correctamente? “É mau, mas tem mais vantagens que inconvenientes”. Se tem mais vantagens que inconvenientes, porque é que é mau?

Você não se pode deixar seduzir por aqueles olhos. Não se pode deixar seduzir por aqueles olhos. Não.

 
Dep.Carlos Coelho
- Alguns de vocês sabem, porque já o confessei, que aquilo que gosto mais de fazer é formação, na política faço muitas coisas mas aquilo que gosto de fazer é isto.

Acho que semear para colher é o que faz sentido, e acho que a política precisa de jovens, novos protagonistas, e este é um investimento que acho que vale a pena na política.

E portanto, não quero confundir o que é uma actividade de formação com polémicas de natureza interna. Eu tenho a minha opinião sobre isso, mas não acho que seja este o quadro para confundir os planos. A Universidade de Verão não é palco de interpretações internas ou de lutas internas, ouvimos todos, discutimos, estudamos, aprofundamos, mas não fazemos propaganda.

E portanto, para tentar responder de forma séria à pergunta, tudo é estratégia. Ela pode ser bem sucedida ou mal sucedida. O silêncio na comunicação pode ser estratégico: ou para criar uma expectativa, ou para jogar com o timing, ou para ganhar tempo para alguma coisa que se pretende. Só quem está dentro do jogo é que sabe qual é a razão dessa estratégia, ela, no entanto, tem de passar de forma transparente para as pessoas quando é executada.

O silêncio não é em si negativo, pode ser mau, pode ser desastroso, pode ser positivo, pode ser excelente, depende como a estratégia for conduzida.

Se o silêncio é resultado de um acidente, é mau; se é resultado de uma estratégia bem pensada, convém que ela seja bem sucedida.

Atenção, no entanto, que o silêncio ainda que seja estratégico não pode ser prolongado, porque nós vivemos na sociedade da informação e da comunicação. E, portanto, há limites para tudo. É como eu vos disse há pouco quando estava a falar, estou a falar-vos sobre comunicação e posso fazer uma pausa, se eu fizer uma pausa e vos olhar nos olhos, crio um suspense, vocês estão a ver, a imaginar o que é que o gajo vai dizer a seguir, mas eu vou ter de dizer alguma coisa. Se eu continuar calado, vocês vão dizer: o que é que eu estou aqui a fazer. Eu vim aqui para ouvir não vim aqui para olhar para ele.

Portanto, o silêncio pode fazer parte duma estratégia, mas ela tem que ser bem pensada e tem que ser bem executada.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Muito bem. Cátia Afonso do Grupo Bege.
 
Cátia Afonso
- Magnífico Reitor, Dr. Rodrigo Moita de Deus, Caros colegas.

Tendo em conta que já assistimos a vários discursos vossos onde reconhecemos a vossa segurança, e estando perante futuros quadros, gostaríamos de saber se já se sentiram nervosos em público e em que circunstâncias.

Obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho
- Eu, ainda hoje, quando faço uma intervenção mais complicada fico nervoso. O Rodrigo e eu terminámos ontem de manhã, às tantas da manhã, a apresentação, e eu fiquei ainda angustiado com a circunstância de ter a plena consciência que a nossa intervenção estava grande de mais. E, hoje, aqui, ainda de manhã, antes de vocês chegarem, estivemos a fazer umas afinações porque estava nervoso com a sensação de que não íamos ser eficazes. A minha vida não depende da vossa opinião, neste momento, mas o sucesso da minha acção depende da vossa aceitação. O que eu quero é que esta aula do “Falar claro” passe bem, que vocês apreendam. Ora, se nós formos chatos e falarmos uma hora e meia, e falámos quase uma hora e meia na intervenção inicial, o que é péssimo sob todos os pontos de vista, nós já começamos mal.

Portanto, eu estava nervoso com esta sensação de que tínhamos uma apresentação grande de mais. Bem sei que havia vídeos, bem sei que havia imagens, bem que sei que havia powerpoint, bem sei que havia duas pessoas, e o Rodrigo é óptimo para isso porque ajuda a descomprimir e diz coisas muito inteligentes. Mas, estava nervoso. Ainda estou nervoso.

A primeira vez que eu falei em público não foi na política, eu entrei na JSD depois de ser dirigente estudantil e fui para dirigente estudantil depois de ter tido muita actividade na igreja. Sou católico, e eu tinha para aí uns 15 anos e fui convidado, (era acólito), para passar para o grupo dos leitores, e tive que falar na missa das 11h, que era a missa mais participada. Vocês não fazem ideia o que é ter que ler para uma igreja cheia, um miúdo que nunca tinha falado em público. Eu dou graças a Deus de o púlpito ser em mármore e ser largo, porque eu acho que se não fosse a vergonha, eu hoje não estava aqui, nunca mais tinha falado em público. Porque as minhas tremiam fisicamente, tremiam, mas tremiam assim. O padre depois dizia que eu parecia uma ventoinha, portanto, vocês fazem ideia.. (Risos)

Mas pronto, foi a primeira vez, quer dizer, quem me ouviu achava que eu não estava nervoso, porque aparentemente li bem, li pausadamente, li com convicção, isso saiu bem. E como o púlpito era de mármore largo, ninguém viu as minhas pernas só o Padre que estava por trás, e os outros acólitos que durante dois meses não falavam de outra coisa.

Não tenham dúvidas, alguém que vos diz que não tem medo, não tem nervoso, não tem insegurança a primeira vez que fala em público, ou é um grande fiteiro ou é uma pessoa muito especial.

Agora, como vos disse é sempre bom haver um pouco de medo, porque reduz a auto-confiança em excesso. É um bom antídoto.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Bom, eu confesso, eu fico sempre nervoso, mas adoro, adoro, é a melhor sensação do mundo! Ou seja, aquela coisa assim no estômago que nós sentimos, assim na barriga quando nos levantamos, vamos começar e a primeira palavra é muito complicada de começar a sair, a primeira frase sai sempre mal, e depois começamos a ganhar algum ritmo, e, de repente estamos a surfar, uuuhh! É muito giro! É óptimo! É a sensação mais fantástica do mundo, desde que, pronto vamos ter que fazer, vamos ter que fazer, portanto, temos é que nos habituar um bocadinho ao rush que isso provoca.

Mas é sempre complicadíssimo. Mas lá está, há técnicas para isso: primeiro, treinar muito, quanto mais experiência melhor, quanto mais vezes, pronto, já fiz isto não sei quantos anos, a Universidade de Verão, portanto, já pouco impacto me causa, a não ser aquela adrenalina de começar. Até começar fico sempre…, quero é começar, quero é começar, dizer a primeira palavra e depois aquilo sai-me melhor, sai mais fluido.

E depois começar a criar escapes para tratar do problema do nervosismo, como expliquei a história da caneta, ou a história do pé, e depois descobri este fantástico do andar, e mesmo o powerpoint ajuda-me o andar, mostrar as coisas anda para trás, anda para a frente, ajuda-me a criar ali um escape para o nervosismo.

Eu costumo contar uma história duma conferência que fui dar, talvez a mais importante que fui dar a Angola, ao parlamento angolano, sobre liberdade de imprensa, imaginem o que é que eu ia falar a Angola sobre liberdade de imprensa, é o mesmo que eu ir falar à Arábia Saudita sobre os direitos das mulheres, não é. Foi tão engraçado, tão engraçado que uns senhores do Ministério dos Negócios Estrangeiros chamaram-me para me perguntar o que é que eu ia dizer: “Sabe, é melhor se calhar, é que nós conhecemo-lo, é melhor é conter-se um bocadinho”, “é que aquilo não é bem, é um sítio diferente”. Isto já foi há alguns anos. “Está bem”. Lá vou com o powerpoint, aquelas coisas, perguntei primeiro “posso levar um powerpoint”, “com certeza, traga o powerpoint”.

Bom, parlamento angolano, deputados angolanos, liberdade de imprensa.

- “Bom, onde é que eu ligo o meu computador?”

- “Aqui ao projector”

- “Muito bem. Então, isto não está a dar nada”

- “Pois, o projector está avariado há três meses”

- “Então, mas eu perguntei se tinham?”

- “Então, mas temos. Está é avariado”

Fiquei sem powerpoint.

- “Então onde é que posso imprimir a apresentação de powerpoint?”

- “Isso agora, não sei, isso agora..”

Bom, sem papel, não é. Sem papel e sem powerpoint. Comecei a balbuciar à frente de deputados angolanos, e como vocês podem imaginar “Liberdade de imprensa em Angola”, estava cheia de jornalistas também. Uma vergonha! Uma vergonha, comecei a balbuciar, fui balbuciando, balbuciando, balbuciando, e quando eu falo muito fico com a boca seca: “Água?”, não havia água também. Já falava assim.

Isto foi o meu choque. A partir daí pensei, esta foi a pior coisa que me podia ter acontecido na vida, a partir daqui nenhuma conferência, nenhum discurso me pode correr pior.

Portanto, pensem sempre, a vossa maior asneira, será também a última, a partir dali só pode melhorar.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Muito bem. Tiago Laranjeiro do Grupo Azul.
 
Tiago Laranjeiro
- Bom dia. E antes de mais uma nota pessoal, Pedro Rodrigues, e não sei se nisto o meu grupo está comigo, Pedro Rodrigues, ainda bem que não renegas o berço e continuas a chamar os bois pelos nomes, vermelho é vermelho e não encarnado.

E agora, a questão: uma das principais causas do afastamento dos jovens e da população em geral da política é a falta de credibilidade da actividade politico-partidária. Muitos políticos e o seu discurso bonito, mas oco ou inconsequente, levam a que a generalidade da população preste uma atenção mínima ao que eles dizem, afinal é só treta.

É possível então, transmitir no nosso discurso a diferença e transportar nele a credibilidade?

E se é possível, como o fazemos?

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Bom, eu vou ser outra vez pragmático, cruel e despachar-me.

Essa história da credibilidade é a maior treta do mundo, ok? Vamos medir quantas vezes é que a palavra credibilidade foi dita na Assembleia da República? Todos dizem, todos dizem, deixou de ter significado. Não há significado nenhum para a palavra credibilidade.

Portanto, os jovens, as pessoas não se afastam da política porque os políticos são pouco credíveis. Não é por nós dizermos muitas vezes a palavra credibilidade que ela passa a ter efeito, não é isso. A política é que está chata, genuinamente chata. Está chata e trata mal as pessoas. Trata mal as pessoas, prometem umas coisas e depois fazem outras. Etc., etc.

Só depois, então chega a parte da credibilidade. Se me estiver a falar dessa credibilidade do fazer o contrário daquilo que prometemos, sim, mas não é por anunciarmos credibilidade que vamos lá chegar.

As pessoas não querem credibilidade, as pessoas querem um político que lhes faça a gestão do país, como um empresário toma conta duma empresa, enquanto eles estão a ver o jogo de futebol. Eles querem é ver a bola, querem ver o Benfica, encarnado e não vermelho.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Essa do Benfica! Angel Gutierres do Grupo Laranja.
 
Angel Gutiérrez
- Bom dia a todos. O Grupo Laranja gostaria de salientar que na procura de captar a atenção do público, há políticos que recorrem a um registo populista, sabendo que a demagogia e o excesso são uma constante do dito registo. O que é grupo questiona é se, perante as actuais exigências da democracia da sociedade, não estará o populismo a contribuir de forma importante para o descrédito da política? E se assim for, não estará o populismo, tal como o entendemos hoje, desajustado e próximo do seu fim como forma de fazer política?
 
Dep.Carlos Coelho
- Bem, isso é uma pergunta muito interessante, mais da ciência política do que da comunicação, mas é uma pergunta muito interessante.

Vamos ver, nós tentamos sempre dar respostas curtas para haver catch the eye????, e, portanto, vamos ver se eu consigo dar uma resposta que não seja propriamente idiota, em dois minutos.

Eu não sei se temos aqui o fenómeno do escorpião, que na prática está subjacente à sua pergunta, ou seja, o populismo cria um ciclo que se mata a si próprio. Acho que as sociedades são um pouco como o corpo humano, como a natureza é resistente. Há modas que vêm e vêm, umas ficam latentes, outras são expelidas. Eu acho que nunca conseguiremos expelir totalmente o populismo. Ele vai ter momentos mais altos e momentos mais baixos.

Há ciclos na vida política em que ele vai ter mais visibilidade, e outros em que terá menos visibilidade.

Admito que a lógica mediática e sobretudo a força da televisão encoraja esse tipo de discursos e esse tipo de protagonismos. Mas ainda que o Rodrigo não goste da palavra credibilidade, (eu acho que ele tem razão sobre o ponto de vista do “label”), na substância esse um valor que nós temos que pesar.

Portanto, acredito que numa primeira fase as pessoas possam ser levadas a comprar um discurso populista, mas que na fase da concretização isso tenha um refluxo.

Vai o populismo matar a política? A política não é matável, não é sacrificável, porque ela é inerente à condição humana. Mas, pode matar alguns políticos e pode obrigar a mudar a forma de fazer política.

Eu acho que aquilo que o Rodrigo acabou de dizer é muito interessante, da lógica de que os políticos são uns chatos. Eu acho que a vossa geração tem que re-inventar um pouco a forma de fazer a política, porque têm novos meios, designadamente meios de comunicação, porque as pessoas têm outra abertura à informação, e porque as exigências da sociedade moderna são outras.

Portanto, eu acho que há espaço para re-inventar a política, e provavelmente a re-invenção da política, vai, espero eu, limitar a emergência desses populismos inconsequentes.

Mas há aqui um bocado whishfullthinking, reconheço.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Carlos, terminámos as perguntas dos grupos. Vamos iniciar a fase das perguntas espontâneas. Se concordarmos fazíamos blocos de três questões.

Vou dar a palavra ao Leandro

 
Leandro Esteves
- Muito bom dia. Depois da apresentação que foi feita, eu queria saber uma coisa em termos de marketing político, em termos de substância mesmo.

Nós quando estamos, por exemplo, nós somos o governo, nós temos uma má notícia para dar, por exemplo, aumento da criminalidade, e no dia a seguir sabemos que vamos abrir um call center que vai criar um cem número de trabalhos, vai aumentar o emprego, mas ele não existe na verdade, ele tem uma perspectiva de vir a ser criado. Ou seja, o Primeiro-Ministro, as primeiras notícias que ouvem, aquilo tem tudo uma estratégia, faz a comunicação às 10h, as pessoas possivelmente ouvem pela rádio e não pela televisão que àquela hora estão a trabalhar.

A minha ideia é perguntar, e se fosse no caso inverso, nós queremos dar uma boa notícia a seguir dar má notícia, qual seria o melhor método de fazer essa transladação?

Obrigado.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Leandro. Tiago Gonçalves.
 
Tiago Gonçalves
- Muito bom dia a todos. Em primeiro lugar, endereçar os meus cumprimentos ao Magnífico Reitor, ao Dr. Rodrigo Moita de Deus e ao Presidente da JSD, bem como aos companheiros. Dar-lhes os parabéns também por esta magnífica apresentação que conseguiu acordar até os espíritos mais adormecidos que se encontravam nesta sala, com o seu dinamismo. E por esse facto, dar nota também disso.

A questão que venho aqui colocar e que venho dar nota é, tem a ver precisamente com uma coisa que é absolutamente o oposto de tudo aquilo que tivemos aqui, por assim dizer, a aprender hoje.

E tem a ver a ver com o episódio da Série West Wing, “Os homens do presidente”, da qual eu sou absoluto apaixonado. E tem a ver precisamente com um episódio, em que em determinada altura o Presidente Bartlet, vai anunciar a sua candidatura e os seus speech writers escrevem-lhe o discurso ele entretanto reescreve-o e muda uma pequena palavra, um adjectivo a determinada altura. Era um adjectivo que estava escrito de uma forma muito simples para todo o povo americano perceber, e ele quis colocar um adjectivo mais caro, uma palavra mais complicada. Todos os seus speech writers e os spin doctors, etc., toda a gente que o assessorava na campanha disse: Não faça isso. Não fala isso porque depois ninguém o vai perceber.

Ele na altura, antes de entrar toma a decisão, e diz: “Não, vou manter esta palavra. Fazendo desta forma, eu vou elevar a exigência para com o meu povo, procedendo de outra forma eu vou impor aqui a cultura do facilitismo”.

Se nós queremos mudar mentalidades, não é assim que devemos proceder? Mais: quem proceder desta forma tem alguma hipótese de vingar na política, da forma como hoje a conhecemos?

Muito obrigado.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Tiago, Frederico Saraiva.
 
Frederico Saraiva
- Ora, bom dia a todos. Vou me escusar de apresentações, como alguém disse no passado, se não ficamos aqui o resto do dia.

Muito rapidamente. Há uma questão que se prende – uma pequena introdução: como devem imaginar também nós neste caso, como alunos, também vos observamos e de alguma forma tentamos avaliá-los, é natural, é humano -, e um facto interessante que eu consegui depreender por parte do Dr. Rodrigo é que ele diz repetidamente muitas vezes a mesma palavra, aliás, até mais do que uma, e cito: “Bom, é bom”, “horrível” foram 5 vezes, o “não é”, não consigo dizer quantas foram, foram muitas.

Ora bem, como eu acho que esta aula, e devo—vos dizer que foi das melhores que tive até ao momento, porque eu não consigo prever o futuro obviamente, mas foi não só em termos políticos, mas também a título pessoal, porque eu acho que isso se pode aplicar a muitas coisas na nossa vida, e portanto, é a bagagem que eu levo daqui.

Gostaria também que nos explicassem os exemplos negativos, com as vossas próprias experiências de vida. Uma das que nos sabemos, é comum, nós sabemos, é repetir várias vezes a mesma palavra. Foi fácil para mim detectar essa pequena menos valia, digamos.

De que forma vocês nos podem ajudar dando como exemplos negativos para nós podermos melhorar a nossa postura?

Obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho
- O Rodrigo responde ao Leandro, ele é o especialista.

Tiago, a questão do adjectivo. Eu acho que é mais importante lutar pela elevação cultural do meu povo em medidas concretas de governação, ou se eu estiver na oposição daquilo que eu quero para o meu país, do que na forma de comunicação.

Vamos ser claros. Eu acho que há mais nobreza dum presidente que diz “eu recuso uma decisão fácil, posso ter que defender uma decisão difícil, mas ela é necessária”, do que esgrimir e exercer autoridade por um adjectivo no discurso.

Na peça de comunicação, acho que a simplicidade é mais importante.

Portanto, se um ghostwriter diz: é necessário ter um adjectivo que haja três vezes mais americanos que percebam, eu acho que esse valor deve ser ponderado. Acho que alguma vaidade intelectual eu dizer “não, eu vou fazer um discurso mais elaborado porque eu quero elevar o nível cultural do meu povo”. Não é com um discurso meu que eu elevo o nível cultural do meu povo. É com outro tipo de actos, com outro nível de governação, com outro tipo de decisões.

Na comunicação prefiro fazer o mais simples possível. Quanto mais simples ela for, mais cidadãos vão percebê-la, quantos mais cidadão vão percebê-la, mais democracia eu estou a exercer.

Essa é a minha preocupação.

Exemplos negativos. Todos nós temos. O mais comum é o “portanto”, acho que 50% das pessoas utilizam o “portanto”. “Eu quero dizer que na democracia, portanto…”, outros é o “pois”, outros é o “não é”, o “eh pá”, esse fica mais feio.

Tudo o que é ruído, alguns de vocês devem ter experiência de rádio, tudo o que é ruído, define-se ruído aquilo que prejudica a comunicação. Por exemplo, se vocês estiverem a fazer televisão e houver pessoas por trás, está um político muito sério a falar e umas pessoas por trás a fazer umas cacofonias, sob o ponto de vista da imagem considera-se isto tecnicamente ruído, não é sonoro, é um ruído visual mas prejudica a comunicação.

Tudo aquilo que prejudica a comunicação, tudo aquilo que não é necessário, também se usa a expressão “um discurso enxuto”, vocês já ouviram “discurso enxuto”, despir o discurso de tudo aquilo que ele não precisa. Floreados, há pessoas que fazem discursos cheios de rócócó. Não é eficaz.

Exemplos desses todos nós temos muitos, mas se estivéssemos aqui a contar os exemplos, não saíamos daqui.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Leandro, Marketing político, como é que se dá uma notícia..

Há um caso muito engraçado, isto para dizer que não há uma fórmula certa, depende muito das circunstâncias do momento, e os melhores trabalham as circunstâncias do momento. Há um caso engraçado duma senhora que era adida da imprensa do Tony Blair, - eu gosto sempre muito dos ingleses, são um bom exemplo, são menos espalhafatosos que os americanos e muito mais eficazes -, mas a adida da imprensa do Tony Blair, no dia 11 de Setembro do tiro das Torres de 2001, que faz um Memo para todos os ministérios, como sabe depois cada ministério tem o seu próprio assessor de imprensa, faz um memo a dizer “Este é um bom dia para queimar notícias. Se tiverem coisas más, ponham-nas cá fora hoje”. O Memo foi apanhado por um jornalista e deu na expulsão da senhora, mas a nível de eficácia aquilo que ela, ela tinha toda a razão, “bom dia para queimar notícias”. O Benfica joga? Eh, pá, dia fantástico para queimar notícias. Muito bom dia para queimar notícias.

Se quisermos chamar a atenção, temos que fazer a coisa ao contrário, temos que ver o dia mais morto. Em que não haja jogos de futebol, isto parece exagero, mas não é, se tenho jogos de futebol tenho a agenda toda lixada, porque ocupa o meu espaço todo, é a antevisão do jogo, o pós jogo, depois o Dias Ferreira mais o não sei quantos, e depois aquilo são 90 minutos de chuto na bola, e 3 dias de conversa. Que é uma coisa extraordinária. O jogo de futebol não são os 90m minutos, são três dias, aquilo vive-se com emoção. E ocupa-me a agenda mediática toda.

Se o governo tem um lançamento importante, eu não me vou meter aí, portanto, não há uma fórmula certa, depende muito do momento, depende muito das circunstâncias e depois depende do teor.

Se for uma coisa de economia há dias certos para isso. Os jornais económicos, por exemplo, só trabalham de segunda a sexta, mas eu provavelmente posso fazer uma coisa que é, é uma boa notícia económica, dou primeiro aos jornais económicos para fazerem o exclusivo. E depois no dia a seguir anuncio-a. Parece que o Diário Económico teve acesso exclusivo aos bons resultados do deficit português. Se calhar não fazia no Diário Económico mas fazia no Expresso, dou ao Expresso no Sábado, segunda-feira o Ministro das Finanças aparece a dizer “Bom, os resultados fantásticos do deficit são estes, estes e estes”, e criei ali dois momentos de comunicação, lancei a ideia três dias antes e fiz depois o follow-up, o estardalhaço mais tarde, porque já tinha criado a expectativa sobre o assunto.

Há um exemplo extraordinário que a Dra. Leonor Beleza, “não quis falar, ou preferiu não falar”, mas vocês fizeram essa pergunta, foi a propósito do José Sócrates, ele faz aqueles elogios “a política de saúde..”, da Dra. Leonor Beleza. Era de facto um bocado suspeito um Primeiro Ministro socialista estar a falar sobre uma ministra da saúde do PSD. Três dias depois, a ministra da saúde pôs a hipótese de exigir a exclusividade aos médicos, que era uma ideia de quem? Da Leonor Beleza. É a melhor maneira de calar o PSD sobre o assunto e de calar o resto das pessoas. É porque gostam dela. (Risos) A decisão é do partido socialista, mas explicaram que a ideia era dela “Então a ideia era dela..” “nós, só estamos aqui a cumprir a boa política de saúde, elogiadíssima pelo povo português”, mas aquilo serviu de pretexto, três dias antes, o Primeiro-Ministro fez-lhe os elogios, para se falar sobre os elogias à política de saúde, para as pessoas se lembrarem o que é que ela tinha feito e o que é que ela não tinha conseguido fazer, para depois a Ministra da Saúde actual dizer “Bom, estamos a pensar exigir exclusividade aos médicos”.

Falta-me acabar, quando há história do West Wing eu penso que o Carlos Coelho já disse quase tudo, aliás, se o presidente quisesse elevar a cultura do povo americano, investia mais na educação, não investia tanto no discurso e investia mais na educação dos americanos. Por isso é que aquilo é uma série de ficção. Vocês têm sempre que distinguir, ok, uma coisa é o discurso e outra coisa que eu faço no gabinete. Se no gabinete trabalhar bem, depois o discurso sairá como sairá.

Frederico, eu vou tentar ser muito curto, embora o seu comentário tenha sido cruel.

Aqui há dois anos atrás, acho que foi para aí há dois anos, o António Carrapatoso veio cá à Universidade de Verão e fiz uma pequena maldade que foi, fiz aquilo que você fez, só que eu contei-as todas, e quantas vezes ele tinha governance e accountability e a seguir escrevi um texto, e daí a minha paranóia com o accountability, sobre o Carrapatoso, o accountability e o governance, e foram setenta e tal vezes no discurso.

Portanto, aquilo que você me fez foi cruel, esse é o meu veneno. Eu quando quero ser mau, conto as palavras que eles utilizam.

A expressão pior, pior, pior, num político e que os políticos estão sempre a repetir sem dar conta, pior delas todas, mais que os portantos, os horríveis, os não és, é o “acho”. Olhe, se você acha vá para casa. Eu estou-lhe a pagar com o dinheiro dos meus impostos, eu estou-lhe a pagar para você tratar do meu país, e você vem-me dizer que acha, “Olhe, eu sobre isto acho isto..” Acho? Um político não acha, um político sabe, um político diz, um político pensa, um político não acha, e todos eles acham, “Eu, olhe, eu acho isto”, é o achismo, é o país do achismo. Eu sobre o Benfica acho isto e sobre o deficit acho isto. E é o achismo. Esse é o pior vício, e é um vício de mentalidade, nem sequer é se linguagem, transpõe-se é depois na linguagem.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado, Rodrigo. Estamos quase em cima da hora, e eu tenho três inscrições, vou pedir que sejam muitíssimo breves para que possam participar os três, não vou aceitar mais inscrições.

João Rodrigues.

 
João Rodrigues
- Bom dia a todos. A minha questão é muito simples. Hoje tivemos uma aula muito interessante sobre a imagem, sobre a importância da imagem, mas o que eu gostava que respondesse e de forma clara era se a falência da política não poderá partir daí. Quando temos pessoas muito diferentes, quando temos pessoas sérias, credíveis, pessoas convictas daquilo que dizem, e que não olham a palavras especiais para dizerem aquilo que dizem, mas que podem sucumbir, podem cair aos pés de engenheiros do marketing, de pessoas que são animais políticos porque sabem quando tem que falar, sabem estas técnicas todas, mas que controlam muito bem a comunicação social e que fazem com que o seu discurso vazio não passe de um discurso vazio, mas sim um discurso muito completo, muito bonito de se ouvir.

Muito obrigado.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado João. António Barroso.
 
António Barroso
- Muito bom dia. A questão que eu queria colocar era o seguinte, falámos aqui da imagem, da postura, da oralidade, da capacidade de convencer, e eu pergunto, até que ponto o valor que é dado, a importância que têm todas essas premissas, não criará dificuldades, por exemplo a quem tenha deficiências?

Porque podem ser pessoas bastante inteligentes, podem ser pessoas com muito valor, com muita capacidade de alguma forma, mas até que ponto este tipo de fazer política, a forma como ela é percepcionada pela população, não criará… eu não me lembro de um político português deficiente, lembro-me dum presidente americano, um grande presidente americano, lembro de um líder da CDU alemã, e outros tipos de deficiências. Que até qualquer um de nós está sujeito de um dia para o outro ter um acidente, ficar cego, mudo, etc., e por isso, não seremos menos políticos.

E aqui é também um bocado a igualdade de oportunidades que está em causa.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Obrigado Barroso. Alberto Fernandes, para terminar.
 
Alberto Fernandes
- Bom dia a todos. A minha pergunta vem no seguimento do João Rodrigues, por acaso não falámos, não combinamos, mas é uma pergunta que tenho que fazer, porque é algo que eu já penso há bastante tempo, também com a minha experiência, pouca experiência, e é uma coisa que me persegue um pouco.

Não temem que nesta ânsia de passar a mensagem e sendo que todos sabemos que passar a mensagem é essencial, aliás, como o Deputado Carlos Coelho nos disse segunda-feira à tarde, não temem que nessa ânsia percamos o pé em dado momento, e já nada nos distingue de especialistas de marketing e de políticos, e porque é que viemos para a política, e porque é que gostamos e queremos ser políticos.

Obrigado.

 
Dep.Carlos Coelho
- Muito bem, eu falo primeiro para dar a ultima palavra ao Rodrigo.

Portanto, na prática temos duas perguntas: a do João e do Alberto, e a do Barroso.

Bem, primeira questão: imagem. Corre-se riscos? Corre-se. Corre-se. Tem toda a razão. Podemos evitá-los? Não. É a sociedade que temos, vivemos hoje neste mundo, numa sociedade da informação, não vivemos há 20 anos atrás, nem há 50 anos atrás, vivemos agora.

Portanto, temos que trabalhar com os dados tal como eles existem, não podemos inventar um mundo virtual, temos que trabalhar num mundo real.

Agora, se pensarmos isto num plano, nós temos 4 situações:

- Temos os políticos com boa imagem, mas com pouca substância;

- Temos os políticos com muita substância mas com pouca imagem;

- Temos os políticos com pouca imagem e pouca substância; e

- Temos os políticos com muita imagem e muita substância.

Nós, vocês, temos que ser destes últimos. Temos que ser aqueles que têm substância e têm imagem. E essa é a receita do sucesso. Qualquer outra não funciona. Se formos maus nas duas coisas não passamos. Se tivermos muita substância mas pouca imagem, não passamos na sociedade da comunicação. Se tivermos muita boa imagem mas pouca substância, não sobrevivemos muito tempo, podemos enganar durante algum tempo, mas não sobrevivemos muito tempo.

Temos que pertencer ao grupo que tem as duas coisas. E esta é a receita do sucesso. Esta é a receita do sucesso. Não basta uma das componentes, temos que ter as duas.

Barroso, é verdade, é verdade, eu também não me recordo de ninguém com uma deficiência. Agora, há deficiências e deficiências. Eu não me custa a acreditar que um cego possa ter um papel muito importante, acho, que aliás, se isso acontecesse haveria um esteio de simpatia, haveria uma discriminação positiva.

Não vejo, não consigo recusar a ideia de que uma pessoa em cadeira de rodas, possa fazer política, como aconteceu nos exemplos que recordou e bem.

Já me custa a aceitar a probabilidade do sucesso dum mudo. Exactamente por causa da comunicação. Eu posso comunicar em cadeira de rodas e convencer; eu posso comunicar sendo cego, e convencer; é mais difícil eu comunicar sendo mudo, posso comunicar pela escrita, mas não tem a mesma eficácia.

Portanto, há deficiências e deficiências. Eu acho que um deficiente em Portugal teria sucesso sob este ponto de vista, mas precisa de comunicar, se não comunica seria mais complicado.

 
Dr.Rodrigo Moita de Deus
- Eu vou começar pela parte das deficiências. A pergunta, por acaso é interessante, e eu estava aqui a pensar um bocadinho como é que havia de responder. O problema aqui nem é tanto de imagem, é verdade que o Roosevelt, o Franklin Roosevelt escondeu durante muitos anos a sua deficiência, mas aqui o problema… Eu vou ser mais pragmático ainda, em Portugal um deficiente não pode ser, por exemplo, político, porque não conseguia subir as escadarias da Assembleia da República. Durante muitos anos não havia acesso a um cidadão de cadeira de rodas à Assembleia da República, não conseguiria ouvir um discurso. Hoje em dia já se começam a implementar… nem conseguia chegar à Rua de São Bento, nem vamos mais longe. E isso começa um bocadinho pela acção dos outros políticos. Eles não se chegam lá sequer, porque os políticos recusam-se a alargar os passeios, os portugueses continuam a estacionar ajavardadamente os carros em cima dos passeios, e por aí fora. Se eles não chegam lá nem é tanto pelo.. a questão nem se coloca. A questão da imagem coloca-se muito mais pela acessibilidade, a mais básica de todas, que são as condições que nós damos a pessoas que são diferentes de nós.

A questão da imagem. Pois. Não há milagres. Não há milagres. Mas depois há umas coisas extraordinárias, eu lembro-me, eu não sei se conhecem o nosso companheiro, o Hélio Maia, de Aveiro, eu adorava ter aqui uma fotografia, é um senhor que é três vezes o meu tamanho, bigode, um ar simpático, bonacheirão, e eu dou muitas vezes este exemplo, se eu fosse consultor de imagem do senhor chegava lá e dizia: Ó seu candidato, esse cabelinho já levava aí um arranjo”, o bigodinho por sua vez já ia, passava umas horinhas no ginásio, outras na piscina, até perder uns quilinhos ficar com um ar mais saudável, blazerzinho já mais na moda, uma gravata com menos ratos Mickey e mais monocolor, é só para ter assim um ar mais credível, a sério, e tal, para corresponder aos padrões de imagem.

Bom, ele poderia ter feito isso tudo, a verdade é que não fez. Ele tinha sido presidente de junta de freguesia durante anos e anos a fio em Aveiro, e quando foi candidato à Câmara foi exactamente na mesma como ia como presidente de junta. Exactamente na mesma, não mexeu um pelo, e a verdade é que ganhou, foi uma vitória quase histórica para o PSD ter vencido em Aveiro. Ganhou porque foi fiel a si mesmo. As pessoas conheciam-no assim, aquele era o Hélio que toda a gente conhecia, e toda a gente gostava do Hélio, tinha sido bom presidente da Junta e por isso votaram. Se tivesse mudado provavelmente não teria ganho.

Isto para dizer que, não é só a imagem, não é só este.., reparem noutro pequeno pormenor, estava aqui a ver o programa, vocês vão ter jantar-conferência com o Dr. Pacheco Pereira, que é uma coisa interessantíssima, “As fronteiras do Direito – Repostas Urgentes e Sustentadas”, as visitas a Castelo de Vide vão falar sobre Ambiente, vão falar sobre economia, já falaram sobre saúde, e no meio disto tudo têm três horas sobre How to make a speech, não está mau, em cinco dias de trabalhos têm três horas sobre How to make a speech, como vocês vêem, nem nós aqui na Universidade de Verão e permitam-me que me inclua aqui no nós, damos assim tanta importância ao assunto.

 
Dr.Pedro Rodrigues
- Bem, agora os Avaliadores vão fazer aquilo que já estão habituados.
 
Duarte Marques
- Bom dia a todos, agora é o momento de votar claro e de nos vingarmos do Reitor ou não.

Votação

 

 

 

 
10.00 - Avaliação da UNIV 2008
12.00 Sessão de Encerramento da UNIV